Revisitando Castelo Branco

27/07/2009

Amendoeiras em Flor

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Petalas percursoras da primavera

Voando ao vento em zumbidos mil,

Perfume de mel, aromas do céu,

Alvura sem par.

Caminhos floridos Outeiros e montes.

Vida e seiva em ebulição.

Renasce a terra nas flores que chegam,

no fim do inverno.

A terra está prenha, fecunda,

De frutos, azeite, vinho novo e pão.

Petalas sagradas da mãe natureza

com tanta beleza enfeitam então

os sonhos a mente a vida e a casa

mesa farta e colheita no fim do verão.

 

Albano Solheira

 

Nota do autor do Blog:

 

Albano como meu pai. Solheira como o monte e a fonte onde nasce a água que refresca a sede das gentes de meu povo.
Ao escrever os poemas busquei um pseudônimo ligado á minha origem. Albano Solheira
Assim, Castelo Branco será sempre a inspiração para as linhas que escrevo; a solheira, será a fontaela onde bebo a água que me faz cantar os gestos, as paisagens, e todos os sinais e marcas de minha saudade; e a escrita, será minha presença nesses lugares.
Luis Pardal

Conheça mais poemas no blog: Solheira
solheira blogb                 Clique para seguir o link

26/07/2009

Apresentação das tradições de nossa terra

Olá Luis
Estas fotografias , são do curso que estamos a  frequentar de apoio a familia e á comunidade. Dá-nos  equivalencia ao nono ano e temos a parte profissional que é para tratar de velhinhos.
O nosso tema de vida eram as tradições da nossa terra e então fizemos umas danças e fomos actuar ao lar de MOGADOURO 
para os velhinhos.
Os velinhos ficaram felizes com esta representação de tradição e cultura de nossa terra. Um gesto de solidariedade que proporcionou  momentos de alegria e descontração.
Apresentação de Fadistas da terra.
No primeiro plano fadistas de Castelo Branco: Antonio e Dário.  No segundo plano as cantoras:  Aida e Marina. Que apresentação maravilhosa.
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A apresentação de danças e cantares de Castelo Branco Mogadouro.
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Artigo assinado por.
Guilhermina Freitas.

25/07/2009

Nos marcos da minha aldeia.

Vista de amendoeiras em flor na faceira
Tem dias em que paro e fico quieto, em silencio, á espera do som que antecede a tua chegada.
Conheço teu andar e a cadência de teus movimentos. O som dos teus passos no caminho, me dá a noticia de que te aproximas, e que vais chegar. É assim todo o fim do dia.  Marco da Rua das Flores perto do soto do Norberto Martins esquina da Casa da Sra Elena e Oracio 
Sento-me, nas escadas da casa, perto do marco, para te esperar.
Mesmo cansado dos trabalhos do dia, fico ali quieto e sem pressa a contar os minutos que me separam de te ver sair de casa e descer a rua com a cantara nas mãos para  buscar a água.
                                                                Meus diaMarco na esquina da Igreja em frente á casa do Ti Raul Afonsos são, esta continua espera, do fim da tarde chegar...
As mulheres mais velhas que vêem á fonte com suas cantaras esbouçadas, chegam a riem de mim, e ficam prá li a dizer: - não tarde já lá vem, já lá vem... Eu olho e rio, elas riem e olham. Sabem e eu sei, que é a ti que eu espero. Meus finais de tarde são inteiros para te ver e me encantar com teus olhos.
Lembro de ti, no adro da Igreja. Estavas, ao lado das crianças vestidas de branco. Organizavas as filas da cruzada para a primeira comunhão. Teu sorriso meigo teu olhar desafiador ficaram parados no meu. Desviaste o olhar depois, para disfarçar o vermelho que coloriu teu rosto e o desconforto por me encarar. Fiquei sem fôlego e revejo esta imagem vezes sem parar, nos meus momentos em que não te tenho perto.
Teus cabelos da cor dos trigais balançavam soltos ao vento e brincavam de esconder e revelar teus olhos. Por instantes os via e logo os fios os escondiam. Sabias que eu te olhara e ficaste com o olhar fixo em lugar nenhum. No rosto com o olhar parado uma expressão feliz de ternura e felicidade. Foram segundos apenas entre este olhar no vazio e o encontro com o meu. Algo novo que nunca eu vira antes. Fiquei pasmado, como quem acabou de ter uma visão de outro mundo.
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Prá li especado e sem saber o que fazer, parei. Naquele momento te amei com todo a minha alma.
Daquele dia em diante tudo mudou.
Os dias á tua procura pelas ruas da aldeia. Ia para a rua da tua casa e ficava sentado na frente da tua janela com a esperança de te ver. Sem saberes de mim tu vinhas e teus cabelos balançavam soltos e ondulantes, e sorrias sem graça e sem desconfiares do que se passava em meu coração. Confesso que nem eu sabia. O amor faz destas coisas com quem ama pela primeira vez.
Apaixonei-me por um sorriso que nunca vira antes. Conheço-te desde menina. Puxei teus cabelos milhares de vezes no recreio da escola. Cansaste de correr atrás de mim para me pegar e retribuir o puxão de cabelo. Mas aquele momento, naquele instante… O teu olhar foi arrebatador.
MInha descoberta de que o mundo é diferente e de que meus dias mudariam completamente.

Marco da Praça
Extraido do Conto: Promessa a São Bernardino
Luis Pardal

Merendas da Segada. Então, malhadeira quem mais palha?

É tempo de calor e tempo da segada.

Ainda lembro os dias da ceifa, ou como o povo transmontano diz, da segada, pois aqui "segava-se o pão".

Lembro mesmo até de ir "a cavalo da burra" levar a merenda aos segadores às Olgas.

As Olgas são o topónimo de uma zona entre Castelo Branco e Valverde, onde existe um caminho de ligação entre as duas aldeias, o tão conhecido chamado “Caminho das Olgas.”

A merenda era feita pela minha avó (a Aida) e era colocada em tachos de barro de modo a mantê-la quente até ao local. Era, depois embrulhada numa bela toalha de linho e colocada dentro dos alforges. Nem imaginam a água que me crescia na boca desde a hora, em que ajudava na, feitura das sopas até ao momento de as poder degustar. A viagem parecia muito mais comprida pois vinha um cheirinho ao nariz que aumentava a vontade.

clip_image002Aí chegada, os segadores paravam a sua árdua tarefa e vinham até à sombras dos olmos da ribeira, no lameiro do Ti ..., bem já não lembro o nome, e punha a mesa sobre a o feno. O prato principal era as ditas sopas. As "Sopas da Segada" como é denominado este prato são feitas de pão, tal como as alheiras.

O processo é o mesmo, contudo são demolhadas pela água de cozer os grabanços (grão de bico). Por fim levam bacalhau e são aromatizadas por alho e pimentão-doce ou colorau, como lhe queiram chamar. Já de água da boca? Também eu. Fá-las-ei…

O pão era confeccionado pela minha avó e pela minha mãe. Pão saboroso e largamente conhecido e afamado. Há que fazer jus a tal confecção, não fosse a minha avó a tão afamada padeira do chamado e conhecido “pão do sr. José António Freitas. É claro que o pão era conhecido pelo nome de quem o distribuía. A cavalo na burra lá ia, uma vez por semana, a Mogadouro, vender o pão. Parecia a viagem do médico de província que neste caso era o padeiro de província.

clip_image004Também não posso deixar de falar  das    merendas      da malhada.  Feita a segada era tempo de        acarrejar os molhos de trigo, centeio ou cevada para as eiras. Ai. As medas! Que belo motivo para mais uma brincadeira. Depois dos escorregas do feno na regada vinham os escorregas pelas medas abaixo.

Dia de malhada ou malhadeira era dia de trabalho para os adultos, mas também dia de alegria pela recompensa dos duros meses de trabalho.

A minha casa fica na rua das Eiras, pois nela existam duas, as do Sr. Raul Afonso e as do Sr. Nicolau, que mais tarde eram usadas como “parque” de todas as nossas brincadeiras. Ao lado fica a E.N. 222 que leva às eiras públicas, hoje transformadas, definitivamente, em complexo desportivo da clip_image006aldeia.

Podem imaginar a azafama que por aqui acontecia. Carros de bois, carros de burras, carros de mulas carregados de molhos de cereal a caminho das eiras. O chiar dos carros “tocavam” uma sinfonia digna de um qualquer grande compositor.

Agora só resta a malhada e recolher a palha para a cama do gado. Havia na aldeia várias malhadeiras, sendo que as últimas que deixaram de laborar foram as do Sr. Raul Afonso, que geriu a freguesia por diversos mandatos, e a do Sr. Escalhueiro, homem abastado da terra e sobejamente conhecido na vila de Mogadouro pelo seu estabelecimento comercial e pelo seu afamado bacalhau e polvo.

www.panoramio.com

Artigo assinado por : Aida Freitas Ferreira

21/07/2009

Passeio de Bicicleta

Recebi do Abilio Freitas estas fotos, já faz algum tempo mas por falta de tempo e um problema com a internet só agora as publico.
São instantâneos da malta animada de nossa terra em um passeio pelos caminhos da terra.
Aproveito para agradecer ao Abílio pela paciência de me aturar a pedir mais fotografias da terra, em todos os e-mails ou conversas do msn. Ele tem sido o repórter fotográfico,, para este blog e confesso que leva jeito, as fotografias estão cada vez melhores. Obrigado Abilio.
Agradeço também ao Belarmino por ter enviado um DVD e um CD com fotos de nossa terra e do Distrito de Bragança.
E voltando ao passeio…
Seguem as fotos do passeio de bicicleta. Prometo que logo teremos as legendas com os nomes dos atletas.
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Do fundo do Baú

 

Meu Lugar encantado.

 

(Um dia resolvi escrever um conto para participar do concurso literário Traindade Coelho. Escrevi e mandei o original impresso pelo correio. Nunca soube se foi boa ou não a classificação no concurso. Mas foi o inico de um passatempo interessante. Hoje resolvi re-publicar este artivo novamente no blog para os que nao tiveram oportunidade de ler. Boa leitura é um tanto autobiográfica mas como todos me conhecem não vai ser muita novidade )

 

Meu Lugar encantado

 

Levei um susto com os gritos dos melros a fugir das parreiras com o papo cheio de uvas e com o barulho do vôo a esbarrar nas folhas. Pensei ofegante e ainda assustado, faltam poucas horas para a viagem... Logo, logo, vou embora...

Estávamos terminando a vindima nas Figueirinhas e os últimos valados de parreiras já estavam quase vindimados.

Daqui a pouco, pensei, estaremos pisando as uvas e depois iremos a dormir... Estava muito ansioso a pensar na viagem e comecei a correr pelo valado como se apressando o fim da vindima, pudesse acabar logo o dia.

IMG_1136 Jantamos. Depois do jantar, minha mãe foi fazer-me a mala: ceroulas, pijamas, camisas, cuecas, enfim, todo o rol de coisas que os padres tinham pedido. Minha madrinha tinha passado uns bons dias daquele verão costurando em ponto cruz com linha vermelha o numero 247 nas minhas roupas, peça por peça. Era preciso que tudo fosse numerado para não trocarem as roupas quando fossem mandadas para a lavanderia. Quando minha mãe se apercebeu da dificuldade do pedido que os padres fizeram, ficou desesperada. Felizmente minha madrinha apareceu como um anjo e com toda a paciência e capricho desenhou e bordou dezenas de vezes o numero em minhas roupas. Foram meias e calças, camisas lençóis toalhas, enfim todo o enxoval. Que trabalho, mas até hoje tenho gravada em minha mente a caligrafia daquelas três números e os vejo nítidos bordados por ela. Salvou minha mãe e lhe sou grato também por tanto carinho a penso, nesse numero, como um numero de sorte.

Eu estava mais eufórico ainda com a chegada da hora. Meu coração batia mais rápido e parecia querer pular-me do peito. Mal consegui ouvir os últimos conselhos da minha mãe: meu filho, dizia ela e repetia a cada ano! Vê se estudas e não reprovas de ano, troca sempre de roupa e não te esqueças de ser um bom seminarista e de ouvir os conselhos de teus superiores. Sim, mãe, respondia eu, sem ter escutado que ela de facto me havia dito.

Fomos dormir...

Enquanto esperava o sono, fiquei relembrando as artes e aventuras das férias. Eu tinha pintado e bordado, e estava cheio das novidades para contar, no dia seguinte, aos meus colegas de seminário, no comboio, durante a viagem para o Porto.

O sono veio...

Adormeci a pensar que era uma pena que ainda não havia castanhas e que neste ano não estaria para os magustos. Fiquei com o gosto das castanhas na boca. Adorava o ritual dos magustos: as pedradas nos castanheiros para tombar os ouriços, ou uma vara da azeitona para varejar e, em último caso, sobretudo quando era de impulso que resolvíamos fazer o magusto e não preparávamos nada, uns arremessos de algum galho no castanheiro faziam a festa. Comecei a ficar triste por não estar lá neste ano, mas logo voltei a pensar no assar das castanhas e a tristeza foi-se embora. Pensei na fogueira de giestas e fieitos, nas folhas ardendo em mil labaredas rodeando as castanhas, fazendo-as estourar. Nas brincadeiras, nos meus amigos... E nos bilhós! Depois que as castanhas ficavam prontas, a casca a soltar-se... Como são bons, e como sabem bem com uma água-ardente a regá-los... Não que eu já pudesse beber mas sempre dávamos um jeito de um de nós surripiar uma garrafita da adega dos pais para tomarmos um golinho no magusto.

Adormeci enfim e em paz.

Acordei com minha mãe a chamar-me baixinho e a dizer-me: acorda Luis, está na hora de irmos para a estrada para pegares a carreira; chegou a hora.

Levantei-me ainda zonzo, com os pensamentos e sentidos ainda adormecidos pela noite curta. Lavei o rosto e vesti a roupa aos trambulhões. Sonâmbulo e meio às pressas, comi as sopas de pão e leite que minha mãe fez. E saímos para a rua, andando rápido.

Toda a aldeia dormia. Nossos passos nos paralelos faziam eco nas paredes das casas da rua, ainda muda àquela hora. Os cães do gado do ti Chico Moleiro acordaram com o barulho e nos olharam com desdém e desconfiança enquanto passávamos, como se estivessem a pensar: ainda é cedo para ir para ao gado, a onde vão aqueles dois? Depois, nos olharam, bocejaram e voltaram a dormir.

Chegamos à estrada.

DSC02247O sol nascente, que subia no céu, descia a ladeira das eiras até o carrascal, iluminando os telhados e as ruas uma por uma. Lá do alto, da estrada, dava para ver o fumo dos chupões a subir e a espreguiçar-se por cima dos telhados das casas. No ar, o perfume doce de giestas e estevas que as donas de casa queimavam nas lareiras enquanto acendiam o lume, lembrava o insenso da adoração ao menino Jesus.

Vindo de longe e se aproximando rápido, um estranho arranjo musical entreteve meus ouvidos, e comecei a acompanhar essa modinha estranha, criada pelo compasso das ferraduras de uma junta de mulas, o chiado do eixo de freixo gemendo, e a voz rouca dos aros de ferro das rodas do carro, rodando no alcatrão. Que moda estranha para aquela hora do dia! O barulho foi se aproximando e chegou perto de nós bem rápido.

- Lá te vais de novo, ó Luís, disse o ti Paulino de cima do carro, enquanto parava a junta bem à nossa frente, para nos cumprimentar.

-É verdade, lá se vai de novo, disse minha mãe com lágrimas nos olhos.

O ti Paulino saiu ás pressas e picou as mulas com o aguilhão, para deixar o lugar para a carreira que já fazia a curva da Casa Grande, chegando estrada acima.

Ainda disse na pressa: - Vou-me lá para a devesa; vai com Deus, ó Luis, e vê se te portas bem meu rapaz. E desejou-me boa viagem.

Minha mãe apertou-me ao peito enquanto o cobrador punha as malas no porão da carreira. Foi me cobrindo de beijos e rezando um rosário de conselhos e bênçãos.

- Porta-te bem!

- Que Nossa Senhora do Caminho te acompanhe!

- Que São Bernardino te faça um bom menino!

- Que sejas um bom aluno.

Mal deu tempo de ela terminar e já o cobrador me mandava subir apressado.

Cernache_do_Bonjardim_Seminario_das_Missoes Cheguei finalmente ao seminário depois de quase um dia inteiro de viagem longa e cansativa. De carreira até ao Pocinho, depois de comboio até ao Porto e do Porto até Cernache do Bonjardim de novo de carreira. Já se tinham passado mais de 20 horas desde que saíra de Castelo Branco.

Ao chegar ao pátio na frente, um alvoroço se formou na saída da carreira e enquanto descarregavam as malas. Tiraram as malas de dentro da carreira e uma expectativa crescente de cada um para juntar as suas. Depois que que terminou a confusão da procura, fomos agrupados e seguimos em fila, dirigindo-se cada grupo à sua camarata. Éramos separados nas camaratas de acordo com o ano de estudos.

Era uma pequena multidão de adolescentes que mais parecia uma colônia de formigas que invadiam um novo formigueiro, ainda por explorar. Cada um ia carregando do jeito que podia as pesadas malas. Os corredores pareciam não ter fim e quando acabavam vinha mais um lance de escadas a piorar nosso desespero e nosso trabalho. Minha camarata era a última e ficava no terceiro andar. Como foi longa a subida, parecia que não tinha fim. Fiquei pensando na expressão “subiu ao céu em corpo e alma” e pensei que estávamos a subir para lá não só de corpo e alma, mas também com pesadas malas.

Finalmente cheguei.

A camarata era longa, com camas dispostas em duas filas e intercaladas por mesinhas de cabeceira. Dividindo a sala ao meio, uma fila de colunas em arco romano ia de ponta a ponta, dando a sensação de estarmos em um claustro. Era um corredor que de tão comprido parecia não ter fim e a perspectiva criava a ilusão de não caber ninguém nas ultimas camas, de tão pequenas que pareciam.

O padre fez-nos ficar em silêncio depois de nos ter dado as instruções adequadas àquele momento: cada um deveria tirar da mala as roupas de cama e o pijama, fazer a cama, vestir o pijama, escovar os dentes e em seguida guardar as malas debaixo da cama e dormir. Já eram duas da manhã.

Ficou no ar um silêncio reprimido, quebrado de vez enquanto pelos nossos murmúrios e cochichos, como se a longa viagem não tivesse permitido pôr todos os assuntos das férias em dia, e agora fosse ainda hora de continuar os que ficaram em aberto.

O padre passava com cara séria e sisuda nos mandando calar.

Logo no primeiro dia o apelidamos de Cylon por se parecer com um personagem da série de ficção cientifica “Galáctica”. A semelhança com o personagem era muito grande: cabeça em oval careca e com a expressão de supervisor dos robots Cylons. Não me lembro do autor do apelido mas passamos aquela meia hora de arrumação das malas fazendo sinal uns aos outros imitando os trejeitos dos cylons e dando risadas em silêncio.

O padre esperou que todos fossem para a cama. Apagou as luzes da camarata, e acendeu as luzes-piloto amarelas, que ficavam a noite inteira acesas. Desta maneira ficava mais fácil controlar o bando de pirralhos no escuro ou, para o caso de que algum de nós precisasse ir ao quarto de banho, não se esbarrar nas colunas ou nas camas dos outros.

No meio do escuro começou a confusão, risadas, tosses forçadas, conversas abafadas soando baixinho, parecendo o sibilar de mil abelhas num cântaro.

Ouvimos o aviso do padre, ríspido e cortante: é hora de dormir!

Na hora entendemos que o melhor a fazer era obedecer. Durante uns vinte minutos o padre ainda ficou andando pela camarata, indo e voltando. A presença dele e o som cadenciado dos passos na madeira do assoalho nos fizeram silenciar a todos.

Enfim só, pensei, olhando o teto da camarata iluminado pela palidez das luzes-piloto...

366728900_5e3ba14457 O barulho do comboio e o da carreira ainda ecoavam em meus ouvidos. Meu corpo balançava desorientado pela confusão dos sentidos provocada pela falta do movimento contínuo que tivera durante todo o dia, como se ainda estivesse sendo embalado pelo vaivém das carruagens e da carreira.

Um frio crescente foi-me saindo do estômago e me apertou o peito. Senti-me longe dos meus, de tudo o que me era querido. Quis voltar para a vindima, para minha mãe, para meus amigos de artes. Mas era tarde demais. E lágrimas de saudade saíram-me dos olhos em mudos soluços abafados no travesseiro.

Chegou o primeiro dia de aulas.

A sineta tocou ás sete em ponto. Ninguém se mexeu. Parecia que o sono e a noite curta nos tinham transformado em bonecos e estávamos costurados na cama.

O padre foi abanando os pés das camas uma a uma, avisando que teríamos que estar na oração da manhã em vinte minutos.

Fez-nos acordar em sobressalto.

À medida que acordávamos, eu e mais metade dos colegas pulámos das camas como se as molas dos colchões nos tivessem ejetado para o alto. Todos estávamos ansiosos para pôr os assuntos em dia e contar as aventuras das férias.

Em silêncio nos olhávamos com os olhos brilhando de expectativa. E o padre passando no meio do corredor das camas nos olhava de cara fechada, lembrando que o horário era de silêncio. Tomamos banho, escovamos os dentes, e trocamos os pijamas pela roupa. E descendo dos céus seguimos calados para a oração da manhã.

O Padre, nosso novo diretor espiritual, deu as boas vindas a todos e nos manteve calmos para a missa. Mas que reza longa e demorada!

Finalmente o pequeno almoço, e nessa hora acabou o silêncio. Destravaram-se as línguas e nenhum de nós conseguia ouvir o outro de tanta pressa que tinha para contar as novidades. Parecia que o mesmo castigo que Deus dera aos homens na torre de Babel nos atingira. Nenhum de nós entendia ou deixava o outro falar. E a pressa de cada um em contar primeiro as aventuras nos fazia falar em uma língua impossível de entender. Aos poucos a confusão foi parando e começamos a perceber que era bom que cada um falasse de uma vez.

Como tínhamos o que falar depois de três meses de férias!

Voltamos do intervalo depois da primeira aula e entramos na sala como uma cabrada no pasto novo. Voavam mesas e livros, lápis e canetas, e nos empurrávamos uns aos outros entrando de roldão. Enfim, gastávamos as energias que o intervalo não tinha permitido esgotar.

As vozes foram-se calando e os passos do professor ecoaram cada vez mais próximos no assoalho do corredor, orquestrando um compasso de valsa com o ritmo e cadência das badaladas do sino que tocou à repetição do sinal das 10:00 horas. A regra era de esperar em silêncio, cada um em seu lugar.

A porta abriu-se devagar e entrou o Padre com duas caixas de livros dando fim á nossa expectativa de quem seria o professor.

Fez a oração e nos mandou sentar. Iríamos ter aulas de português com ele nesse ano. Com um sorriso nos tranqüilizou e do seu olhar saiu uma expressão simpática que nos fez começar a cochichar uns com os outros enquanto abria as caixas. Esse professor é fixe, ele é muito bom, dizíamos felizes.

Distribuiu os livros pela sala pedindo ajuda aos alunos da primeira fila e esperou que terminassem a distribuição.

Cresceu na sala o burburinho do desfolhar dos livros. O som de um bando de perdizes voou no ar na mistura dos livros abrindo e dos murmúrios de nossos comentários: olhem as figuras da página 25 e o poema da página 42. E assim corríamos de página em página voando ao sabor da novidade que cada um mostrava na descoberta do livro.

Ainda me lembro do cheiro de tinta do livro acabado de chegar da gráfica. E voei com meus olhos pelas páginas a procura das figuras e dos títulos para anunciar ao grupo também minhas descobertas.

O Padre fez-nos pousar ao nos chamar de volta. Aos poucos as perdizes voltaram para o restolho e pousaram nas mesas. Começamos a aula.

Apresentou o livro da disciplina e deu as instruções para a aula de gramática. Passou leituras, escrevemos o sumário e depois perguntou: todos receberam um livro chamado Os Meus Amores?

Confesso que não tive curiosidade de desfolhá-lo pois, fora a capa, só tinha letras e páginas escritas, os outros tinham imagens e figuras, e este em especial não despertou minha atenção. Só agora me apercebia dele. Além do mais, pensei com o mais beato dos pensamentos, o que faria um livro com de o nome “Os Meus Amores” na mão de seminaristas? No mínimo a vida de mais um santo, que chatice!

Tive que sair das minhas indagações com a pergunta do Padre: há aqui alguém de Mogadouro?

Olhei para os lados, procurando ver se naquele ano tinha mais alguém de lá, que eu não tivesse notado ainda, mesmo já sabendo que eu era único na sala.

Antes mesmo de me dar tempo para respirar e terminar minha pesquisa, dois colegas que eram de Vimioso apontaram para mim dizendo: Padre, ele é de Castelo Branco, Mogadouro.

-Covardes! Entregaram-me, sem ao menos me darem tempo para me preparar e sem nem mesmo saberem para que destino a pergunta me enviaria.

Meio sem voz, respondi – sim eu sou de Castelo Branco – e pensei: será que ele conhece o Pároco de lá e minhas artes chegaram na minha frente? Estou frito! Ele já sabe quantas e boas eu aprontei nas férias...

- Pois, muito bem! Que bom que temos alguém de Mogadouro, que pode nos ajudar nas aulas deste ano.

E, olhando para mim, perguntou:

- Conheces bem Mogadouro?

- Sim conheço – afinal, estudara lá no ciclo um ano antes de resolver salvar o mundo e ser padre e missionário.

- Lembras-te de quem é a estátua que há lá?

Respirando aliviado, por ver que desta vez não era sobre meus atos que a conversa teria rumo e por ver que a pergunta era fácil, disse sem pensar duas vezes, já me imaginando a receber o elogio por tal informação:

- A estátua de São Sebastião. Afinal estava no seminário e por ali os santos eram a primeira categoria na ordem geral das coisas. À minha mente veio a figura de bronze do santo amarrado ao tronco, cravejado das setas dos romanos. Caramba, como é bom lembrar e conhecer estas coisas! Minha nota vai ser boa! Ainda pensava quando, ao olhar para a cara do Padre, vi nela a expressão de quem se tinha surpreendido pela minha resposta inesperada.

São Sebastião? – falou ele.

Sim ! Há lá essa estátua em uma das praças e na igreja também há outra.

Sim! Ele respondeu entendendo agora o que eu falava. Ele é um dos padroeiros mas lembras-te de outra estatua além dessa lá em Mogadouro. O Padre era de Caçarelhos, concelho de Vimioso, e conhecia bem Mogadouro por lá ter feito algumas pregações.

Como pude errar? São Sebastião não valeu! De quem mais poderia ser? Ora, essa era nova para mim! Pela primeira vez entendi que havia uma nova classificação para a importância das coisas, diferente da do catecismo. E continuei pensando, até que se fez a luz.

Veio-me uma imagem nítida de anos atrás, de quando ainda era criança. Do dia em que conhecera Trindade Coelho. Lembrei-me de ter ido com meu pai à livraria Carvalho para comprar os livros e cadernos para a primeira classe. Devia ter uns seis anos, mas me lembro até hoje daquele dia.

Minha mão pequena segurava a mão de meu pai, calejada e quase fechada pelo reumatismo e pelo cabo da charrua.

Entramos na livraria. Foi como se estivéssemos entrando em um lugar mágico! Fiquei boquiaberto diante de tantas e novas maravilhas. Um mundo inesperado abria-se diante de meus olhos e me segurei forte nas mãos firmes de meu pai. Tantos livros...que cheiro bom de livros novos! Meu pai sentiu-me inseguro, apertou minha mão e me pegou no colo. Fez-me chegar mais alto para ver tudo o que havia lá . E de alto a baixo percorri cada prateleira, cada capa de caderno e livro, enfim, tudo o que meus olhos apressados e espantados conseguiam ver.

Quando saímos da livraria meu pai disse:

-Olha Luís, vou te mostrar uma pessoa importante da nossa terra, que escreveu livros e ficou famosa.

Atravessamos a rua ao sair da livraria. Olhei em frente e do outro lado da rua a casa dos correios. Pensei que era dela que ele estava a falar, afinal para trabalhar num lugar que entregava cartas tinha que ser alguém que escrevia muito. E deveria ser muito, muito importante. E já me imaginava a cumprimentar o chefe dos carteiros.

Mas no meio do caminho entre a livraria e os correios ele parou. Olhou para o céu, pegou-me no colo e ali na nossa frente, bem diante dos meus olhos, eu via pela primeira vez em cima de um pedestal de cantaria um homem sentado, todo verde, de bigode, escrevendo.

- Este é Trindade Coelho, meu filho.

O meu pai falou perto de meu ouvido com a voz embargada pela emoção na reverência que fazia .

- Ele foi grande e famoso escritor que fez famosa a nossa terra.

Olhei para a expressão da estatua e com a visão facilitada pelo meu pai que me ergueu mais alto ainda esticando os braços, vi bem de perto aquela figura sentada a escrever.

Perguntei pensativo ao meu pai:

- Por que o puseram ali a escrever?

-Por quê? Porque os livros dele ficarão para sempre, eu acho... Ou, para dizer a quem não sabe ler, como eu, o que está escrito nessa placa, que ele foi um grande escritor.

E, trazendo-me para si, apertou-me contra o peito e disse com firmeza:

-Mas tu, meu filho, tu não vais ter a minha sina que eu tive. Tu vais aprender a ler, vais poder ler esta placa e vais saber ler os livros dele e ser tão importante ou mais que o Trindade Coelho.

Respondi ao Padre com uma voz seca pela emoção que me veio ao me lembrar do meu pai: a estatua do Trindade Coelho! Falei voz firme e sem medo de errar de novo.

- Sim muito bem, muito bom! É ele mesmo. Durante este ano, vamos ler os contos que ele escreveu no livro Os Meus Amores.

A aula terminou com o toque da sineta dando o sinal para o intervalo. Todos, saíram a correr da sala para o campo de futebol. Eu fiquei lá, sentado como se estivesse colado á cadeira. Desfolhei o livro, folha por folha. E então li, na contra-capa, com o peito apertado pela emoção, um resumo da vida de Trindade Coelho.

Lembrei-me do meu pai, e meus olhos se encheram de lágrimas por estar concretizando uma das realizações que ele me tinha anunciado alguns anos atrás. Eram lágrimas de felicidade, e estava feliz ao ver que tinha realizado algo que meu pai não alcançou. Pensei na felicidade e orgulho que ele sentiria se eu pudesse ler para ele este pequeno trecho. E com os olhos embaçados pelas lágrimas, desatei a chorar com saudade dele me debruçando sobre o livro em cima do tampo da mesa.

Aquele foi um ano de muitas descobertas, um mundo novo se abriu perante os meus olhos. Sempre que sentia saudades de minha terra, de minha mãe ou do meu pai, fugia para as páginas do Trindade Coelho e me transportava em pensamento para dentro dos contos viajando com o linguajar dos personagens para minha terra, para meu canto encantado.

O ano foi chegando ao fim e as férias do verão vieram.

Retornei para Castelo Branco e na primeira feira em que fui a Mogadouro, o primeiro lugar onde parei foi à frente da estátua de Trindade Coelho. E à frente dele, como anos atrás, olhei a estátua. Estava sozinho dessa vez, não tinha mais o meu pai para me erguer no colo. De pé, olhando o alto, li a placa emocionado e agradeci, por estar de volta ao lugar de onde meus pensamentos nunca saíram.

Luis Pardal

15/07/2009

Foto: Gentes de nossa terra II

( Clique na foto para ampliar)
Foto: Isaias do Nascimento Cordeiro
Conforme prometido seguem os nomes das pessoas nesta foto.
-Porfessor Rodrigues (F)
-Padre Eugénio (F)
No meio destes está o neto do professor -António Figueira.
-Fernando Ferreira (F)
-Rosalina do Canto-Freira;responsável pelo lar de Poiares Freixo
-Gracinda Neto (F)
-Odete Ferreira -Filha do sr Amadeu
-Conceição Mau
-Olimpia Mau (F)
-Aninhas -Criada de Acácio Costa ?? (F)
-Eugénio Ferreira (F)
- Aninhas (Ana do Carmo)
-Motorista -Desconhecido
-Armando Pires- Pai do Norberto, Brasil.
-Idalina Neto Mais conhecida por Idailina viuva. Fez ontem 90 anos.
-Marquinhas do Canto (F)
-Maria Ferreira.Sogra de Amadeu. (F)
-Marquinhas do Canto.Mãe da Rosalina. (F)
-D.Balbina-Professora. (F)
-Nicolau Cordeiro (F)
-Maria Amélia - A mulher mais velha de Castelo Branco
-José Carlos Lopes (F)
-Maria Calva
-António Jambana (F)
-Norberto Pires ,Ex regedor (F)
-Raúl Afonso (F)
-Marquinhas Ferreira (F)
-D. Zelina Rodrigues
-Virgilio Figueira
-Acácio Costa (F)
-Aninhas Costa (F)
-Armando Neto
-Joaquim Pinho Ferreira (F) (Joaquim pedreiro) (F)
Dúvidas: A pessoa que está ao lado de Idalina Neto e ao lado do sr Eugénio.
OBS: (F) Já falecidas.
Um grande abraço.
Até breve
Isaias Cordeiro
6 comentários:
Anónimo disse...
fantástico! ainda reconheço algumas pessoas - O Se. padre Eugénio, a Sr. Aninhas, vizinha da minha avó ... Vou pedir ao meu primo Isaías que coloque uma legenda com os nomes dos conterrâneos se possível. Aida Freitas Ferreira
6.7.09

Luis Pardal disse...
Olá Aida, A legenda já estava na foto abaixo desta, mas tua observação foi bem vinda copiei o texto para esta tambem. E então quando mandas umas fotos tambem para o blog
14.7.09

cidalia disse...
ola sou a cidalia que bom ver algumas pessoas que ainda conheço seu a neta da sra aninhas criada do sr acacio costa . beijos a todos . ate breve . o meu mail : cidalia71@live.fr
4.10.09

Luis Pardal disse...
Olá Cidália, seja muito bem vinda.
5.10.09

cidalia disse...
ola luis por este mei venho eu a tirar duvidas numa foto que voces poseram em titulo gente da nossa terra . a pessoa que està ao lado da Olimpia Mau e de Eugénio Ferreira é a minha avo Aninhas (Ana do Carmo) que era a criada de Acacio Costa que està tambem mais acima. Bjs a todos . Cidalia
5.10.09

13/07/2009

Citação de Blog de Conterraneo

Publicada por Guilherme Sanches, 28 de Abril de 2008 :

Siga o link: pantorra.blogspot.com/2008_04_01_archive.html

“CASTELO BRANCO I

Vista aérea parcial de Castelo Branco

Vista panorâmica de Castelo Branco desde o alto de Vale de Porco, como quem vem de Mogadouro

Fotografia tirada desde o alto do caminho para Meirinhos.

Embora seja Mogadouro a Capital do Cogumelo, o facto é que é em Castelo Branco onde eles crescem em maior número e da mais fina qualidade (essa é que é a verdade, até que alguém prove o contrário...).

Esta é uma referência que é justo fazer-se. Para quem não sabe, Castelo Branco é uma bela aldeia transmontana, a dez kilómetros da sede do Concelho de Mogadouro, de que eu gosto particularmente, e que podem visitar em http://castelobranco-mogadouro.com/.

Por mera coincidência também é a aldeia onde nasci eu e mais três dos meus cinco irmãos (os outros dois, "mais finos", foram nascer à vila...) mas isso não tem nada a ver para o caso. Nada mesmo, como devem calcular

Nota - todas as fotografias publicadas neste blog e cujo autor ou origem não são referidos, são da autoria do próprio autor do blog.

Publicada por Guilherme S. em 11:51 1 comentários Hiperligações para esta mensagem no blog : pantorra.blogspot.com/2008_04_01_archive.html

Conheço-te-de-ginjeira!


clip_image002Não penses mal desta expressão de cariz rural.
É até bom usá-la. Além de querer dizer o bem que te conheço também induz para uma vida no “meio dos montes”. Induz o regressar a “casa”.
Pois é! Há dias lá fui eu para mais uma visita de médico.
Desta vez além das cerejas que também apanhei, as brancas, que são mais tardegas[1], fui às ginjas.
O ano passado, se te lembras falei-te das cerejas do pai Elísio que muito furor fazem por onde passam, seja por terras albicastrenses seja por terras portuenses.
clip_image004Agora aproveito para falar das ginjas, que também por aqui causam espanto.
Fazem-no porque são difíceis de encontrar à venda nas cidades, mas eu tenho a sorte de o meu vizinho, o Sr. Armando, mais conhecido por Armindo, ter uma ginjeira no quintal que todos os anos se enchem deste translúcido fruto.
Por isso na manhã de domingo, depois de ser acordada pelas andorinhas que chilreavam no beiral do meu quarto, mesmo antes de tomar o “café” (o pequeno-almoço) fui à adega em busca de uma cesta.
Subi até ao quintal do Sr. Armindo e deliciei-me a apanhar as ditas ginjas que com vocês partilho.
A árvore estava carregada e as ginjas mesmo no ponto de rebuçado. Esta a precisar ser limpa. Terei de tratar dessa parte na altura da poda porque o Sr. Armindo está a ficar cansado e já não lhe liga muito.
Que alegria vão sentir os meus colegas de trabalho a quem prometi ensinar a fazer ginginha. Para além de lhes dar a receita da minha mãe levo-lhes também as ditas ginjas. Faremos uma boa "pomada".
Já agora deixo a receita, para quem precisar.
Ginja q.b
Aguardente q.b
2 paus de canela
Açúcar amarelo
ginja mLavar muito bem as ginjas e colocá-las numa garrafa. Bonita de preferência, ou mesmo numa linda garrafa de licor que ande lá por casa. Seguidamente adicione o açúcar amarelo por cima das ginjas, pelo menos até ter uma altura de 4 dedos, e coloque também os dois paus de canela. Por último, deite a aguardente por cima, até encher praticamente a garrafa e caso não tenha aguardente de reserva deixe um pedaço para que ao longo de um ano possa encher um pouco mais atendendo a que o açúcar se irá dissolver.
Não mexa, nem agite! Deixe repousar e esperar para provar, mas só daqui a um ano!

Artigo: Aida Freitas Ferreira .

 [1] Esta palavra soa ao meu avô Zé António. É bom tê-lo ao ouvido de vez em quando. Agradeço-lhe de coração tudo o que me transmitiu e ensinou.
ginja

Leia mais artigos escritos pela autora:  
Coisas e Loisas,   
Cá te espero para os figos.