Revisitando Castelo Branco

12/01/2012

A capela-mor da matriz de Castelo Branco Mogadouro

Texto indicado por: António José Salgado Rodrigues

Texto publicado no livro de autoria de Casimiro Henriques de Moraes Machado, Terras Bragançanas – um olhar sobre o passado - A Torre – Ano VI, Nº 120, 15-IV-1957.

“Nesta época de absorvente e sórdido materialismo, em que a indústria imperante supera todas as actividades, por monopolizadora acção, o prolifero comércio labora com descaroável e notória ganância, os técnicos de toda a sorte agem, geralmente, com o fim exclusivo de obter chorudas remunerações, os venturosos agraciados disfrutam e ambicionam cómodas e rendosas acumulações, a arraia miúda e os agricultores definham, votados a lastimável desprezo , e a antiga e profícua classe média, morre abandonada e empobrecida, é estulta madureza perder tempo com coisas do espírito, e tanto mais com despojos da passado, que absolutamente carecem de substancial valor.

O chocho que o compreende e continua, lá irá para onde o pague, para o inferno ou casa de orates, se num ou noutra ainda não deu entrada, por indesculpável desleixo.

Tolera-se a incúria, porquanto é velha pecha, e “quem o tem de manha até no verão se arreganha”, quanto mais no aborrecido inverno, tão propício a lucubrações!

Mesmo esgalgado, permita-se-lhe manipular mais uma magrinha notícia para a acolhedora “Torre”, que não é lucrativa empresa, de rápidos e fabulosos dividendos, mas meritória tribuna em prol do comum, da desvalida e campesina grei, tão carecida de carinhosa assistência.

A povoação em epígrafe, não é cidade nem vila, é aldeia importante, tem médico conceituado e hospitaleiro - Dr. Virgilio Pimentel de Carvalho – escola dos centenários e Casa do Povo, e teve origem na capital da Comenda velha de Santa Maria, da Ordem de Cristo, que acabou em ruínas, e renasceu a montante, na margem esquerda da mesma ribeira, mantendo-se em progressivo desenvolvimento.

A igreja, vasta e asseada, é relativamente recente, por quanto deve datar da segunda metade do século desassete, e na capela-mor, do lado do Evangelho, há uma inscrição sepulcral que diz:” Aqui jaz Pasch/al Camelo e Cas/tro n.al da Torre de Mo/ncº Rdº Abb.e que foi/nesta Igreja de Caste/lo Branco que fa/leceo da vida pré/zt.e aos 15 de Strº/ de 1681 annos”sendo as letras maiúsculas.

Se este Abade – não foi o promotor da construção do templo, deve ter sido seu grande entusiasta e benemérito, porque a honra de ser sepultado naquele local, só em casos especiais, como aqueles, era permitida. Como a seguir veremos, por documentos, ainda nesse ano não existia o altar actual.

Cumulativamente, vamos ressuscitar dos conterrâneos, que contemplam a sua obra, sempre que ali vão para recolhida prece.

Vamos transcrevê-lo textualmente, para não lhe tirar o sabor da época: “Saibam quantos este público Instrumento de Escriptura de fiança ou como em Direito melhor haja virem que sendo no anno do Nascimento de Nosso Senhor JESUS Christo de mil e sette centos noventa e dois annos aos dezoito dias do mês de Setembro do dito anno nesta Villa de Mogadouro e escriptório de mim Tabelião ahi aparecerão presentes em suas próprias pessoas António Pereira, e João Rodrigues Manso desta villa pessoas conhecidas de mim Tabellião pelos próprios do que dou fé. Elogo pelo sobredito Antonio Pereira foi dito que ele tinha arrematado a obra de Carpintaria da Capella Mor do lugar de Castello branco deste termo, pelo Juizo da Provedoria pela quantia de Cento e três mil e oito reis, para cuja dava por seu fiador e principal pagador a João Rodrigues Manso desta villa o qual sendo prezente, disse que elle de seu moto próprio fiava e abonava o dito António Pereira acima referido e se obrigava a satisfação da dita obra na conformidade dos seus apontamentos de que dou fé assim o dizerem perante mim e das testemunhas abaixo assinadas, em fe de que assim o disserão outorgarão estipolarão e aceitarão e mandarão fazer esta nota de mim Tabellião que como pessoa publica estipolante lho espolei e aceitei em nome das partes prezentes e absentes de quem toca e todas possa sendo testemunhas prezentes o Padre António Anjo e Francisco de Paulla desta reconhecidos de mim Tabelião do que dou fé e assinarão com os outorgantes e eu Belchior Luis Teixeira Tabellião que a escrevy por me ser destribuida”.

De Antonio Pereira, carpinteiro, de Mogadouro, e que arrematou esta obra, só por mero acaso, se poderão conhecer outros dados de interesse para a sua biografia. Outro tanto não sucede quanto ao sepulto Abade Pascoal, posto que creia na grande dificuldade. Era de Moncorvo. Reza o epitáfio, e de sangue nobre, julgo eu: certamente da família Carvalho Camelo e Castro.

Na realidade, o assunto não dá pessoal proveito, mas satisfaz a curiosidade.

Não haverá dedicado amador, que tente rasgar o véu que teimosamente envolve esta sacerdotal figura, que nasceu e viveu na nossa Terra?”

A Torre – Ano VI, Nº 120, 15-IV-1957

(Texto publicado no livro de autoria de Casimiro Henriques de Moraes Machado, Terras Bragançanas – um olhar sobre o passado)

07/01/2012

Cantar os Reis

Autor: Luís Pardal

Cantar os Reis

Pensei ir a cantar os Reis de porta em porta para abraçar e desejar um feliz 2012 a todos os albicastrenses.

Lembrei dos cantos e da animação da minha terra durante o dia de reis e ficou um gosto de saudade no ar.

Dia 06 de janeiro também é o dia de desmontar o presépio. No primeiro sábado de Dezembro é sempre com grande alegria que preparamos, na sala de casa, um cantinho especial para celebrar o natal, com o pinheiro e o presépio. Hoje ao desmontar e guardar as imagens, o coração ficou triste por alguns momentos, mas logo me dei conta do sentimento que me apertava o peito e sorri ao lembrar com esperança de que mais um Natal será celebrado em 2012 e assim o será em todos os anos. A melancolia deve nos remeter para a esperança de dias melhores. E não é este o sentido desta quadra? A esperança e a certeza de dias melhores!

A adoração ao Menino Jesus, é uma tradição das mais antigas das nossas aldeias, uma tradição gravada nas memórias e que remete a todos para a infância. Afinal é nesta fase mágica de nossas vidas que os sonhos, e os pensamentos são sem limites e cheios de possibilidades. Como seria bom se não perdêssemos este dom: sermos meninos(as) para sempre.

Em Castelo Branco era frequente, constituírem-se grupos improvisados de cantadores e cantadoras que, à noite, percorriam as ruas da aldeia, de porta em porta, a cantar aos senhores de cada casa, para desejar saúde, sorte e prosperidade, para o ano novo que chegou abençoado pelo nascimento do Menino Jesus. Actualmente, esta tradição, ainda se mantem graças a iniciativa de alguns saudosos. A troca pela visita e o cantar dos Reis ou das Janeiras normalmente era uma peça de fumeiro, castanhas, amêndoas, figos secos, além da alegria de servir um prato de milhos regados com o bom vinho nacional. As linguiças e alheiras recebidas serviam depois para fazer uma patuscada, ou um fado, como dizemos por lá. Quase toda a gente adere e as famílias ao saberem dos cantadores nem se deitavam à espera que o grupo passasse pela casa. A iniciativa sempre foi organizada pela malta nova. que é na grande maioria das vezes a responsável pela animação e continuidade das tradições. Seria bom que os mordomos das festas começassem o ano com o canto das Janeiras e dos Reis assim além de manterem a tradição já iniciavam o ano com recursos para realizar as festas e integrar as duas tradições.

QUE OS SANTOS REIS NOS TRAGAM A TODOS HARMONÍA E PAZ!

FELIZ 2012