Revisitando Castelo Branco

15/08/2009

Capela da Vila Velha

HPIM2042 Capela da Vila Velha -  inscrição evocativa de uma reforma em 1501....tudo aponta para isso.HPIM2044HPIM2043HPIM2047carrasco%2 0da%20capelaHPIM2050

Tanque das Eiras Novas

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Revisita a Castelo Branco

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Causa tristeza ver a Casa Grande no retrovisor do carro.
Sinal de partida… Hora de pegar a estrada.

Marcas do tempo

E-mail enviado pelo Rui Branco

Olá Luis

Oi, encontrei uns documentos sobre Castelo Branco datados de 1758. São memórias paroquiais.
Vou tentar decifrar a letra e entretanto tenta também.
Tem tamb'em uns excertos de uns documentos que vou tentar recuperar.
Abraço.

Rui Branco

Castelo Branco, Mogadouro 1758
Memórias paroquiais, vol. 10, nº 215a, p. 1405 a 1408

 

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10/08/2009

Dia dos Pais.

Em Portugal, o dia dos pais é comemorado a 19 de março, e no Brasil, no segundo domingo de agosto. Hoje, portanto, foi dia dos pais aqui no Brasil.

Viajei no tempo, voltei aos meus nove anos. Meus passos me trouxeram aqui ao Brasil, vindos dessa época de minha vida. Lembrei de meu pai. Lembrei dele em uma ocasião especial da minha vida. Vou contar o por quê.

Sabem, têm momentos na vida que são cruciais. Autênticos divisores de águas. Já ouviram falar disso, eu sei, eu sei. Até vejo o riso no rosto de cada um que me lê. É um clichê em filmes e romances, já viram isso aos montes. São encruzilhadas que nos farão seguir por caminhos distintos, conforme a escolha que fizermos. Destino, fado, sina. Enfim, são pontos chave de toda uma existência. Hoje, olhando para lá, para essa época, tenho a certeza de que isso é verdadeiro e que é assim mesmo que acontece. Pois comigo foi, podem crer! E eu vou lhes contar porque digo isso tão convicto.

IMG_1178 Era uma tarde de aulas, igual a tantas outras. A professora, Dona Balbina, fazia a classe repetir a tabuada do sete, vezes sem fim. Nunca gostei da tabuada do sete. Era a mais difícil. Um número esdrúxulo e complicado. Detestava o número sete! Minhas preferidas eram as do dois e do cinco, essas sim, eram boas de dizer. Pena que nunca as perguntavam nos dias da prova oral.

Lá estava eu, a repetir com o coral das vozes dos colegas a conjugação: sete vezes um: sete, sete vezes dois: quatorze, sete vezes... Com o pensamento longe, livre e solto, fora da sala de aula, meu corpo andava pela regada, à volta das olmeiras, atrás de um esconderijo ou sombra nas folhas, à procura de ninhos de melro ou pintassilgo. Só já repetia o final das palavras, de tão distraído e longe que estava. Mas, de repente, fui interrompido pelo barulho da classe que parava de repetir a reza do sete, enquanto uma figura desconhecida entrava na sala.

Era alto, magro, de barba e cabelos brancos. Pela batina preta que vestia, devia ser padre. Mas, não era o padre Norberto, que então, era o pároco da paróquia. Quem seria esta figura, que parecia São Francisco Xavier? Tinha uma voz firme, agradável e falava com jeito de quem entoava as palavras escolhendo com cuidado cada uma antes de soltá-las da boca, a pensar no efeito que ela teria em quem a escutava. Impressionou! Diria mesmo, que nos hipnotizou. Como sabem, naqueles tempos, ainda não havia televisão e todas as novidades na aldeia eram dignas de espanto. E pelo jeito dele, teríamos muitas novidades para falar no recreio. Mandou-nos sentar e agradeceu à professora.

- Meus queridos filhos, eu sou o Padre João Avelino, da Sociedade Missionária Portuguesa. Sou um padre missionário, como o Padre Orlando e o Padre Lopes, vossos conterrâneos. Venho das missões da África para contar um pouquinho do nosso trabalho de evangelização.

Os nossos queixos caíram das bocas com o espanto. Padre... missionário... África?

daniel_cova_leoes_detalhe_peq8 Na hora, imaginei o padre no meio dos leões na savana africana. Veio imediatamente a minha mente, a figura do caderno de catecismo, em que aparecia o profeta Daniel, rodeado na cova dos leões, pelas feras de boca aberta, prontas para o atacarem e devorarem. Pensava, que se não fosse por lá estar um anjo de espada flamejante na mão, teriam feito a festa. Até duvidava, para mim mesmo, que se a espada se apagasse, os leões venceriam!

Mas esta figura era diferente da do profeta. Era magrinho e não me pareceu, que o apetite dos leões por ele, fosse muito grande. Foi falando, falando. A imagem dele rodeado pelos leões, que eu construí na minha mente, não me deixava ouvir o que ele falava. Por fim, só escutei, que naquele dia à noite, na igreja, veríamos um filme projetado.

Cinema? Nunca tinha visto! Só ouvido falar. E ainda, se alguém dissesse que seria lá na aldeia, então! Isso é que seria mais engraçado ainda me fazer acreditar. Sim! Mesmo com oito anos, já era desconfiado. Duvido que não o fossem também.

Mas o padre falou. Padres não mentem, nem costumam andar pelas aldeias a fazer a promessa de projetar filmes. Costumam prometer a salvação ou a condenação eternas. Mas, filmes nunca tinham sido prometidos antes por eles. Tinha que ser verdade. Acreditamos na hora.

Foi uma algazarra, um alvoroço de mil vozes! Parecia que o Padre João Avelino tinha feito o mesmo milagre que o espírito santo fez com os apóstolos no pentecostes: falar em mil línguas. Cada um de nós, ficou mais eufórico e entusiasmado que o outro... Um fim do mundo em miniatura. Até prometeu passar Charlie Chaplin e o Gordo e o Magro... Não sabia que bichos eram esses. Mas, se era cinema, só podia ser bom, e isso só podia ser um milagre! Tínhamos que sair logo da escola para ver isso acontecer.

Combinou com cada um de nós, que fossemos em casa chamar os pais, e que voltássemos todos à igreja no fim do dia. O filme ia começar depois do toque das trindades.

Saímos a correr da escola, cada um para sua casa. Caíram bolsas, rodaram as lousas quebradas nos paralelos da calçada. Joelhos sangraram esfolados dos tombos. As raparigas arregaçaram as saias para irem mais rápido. Todos queriam chegar logo em casa.

Morava na praça, e da escola no vale até lá, nem demorei um segundo.

Quando cheguei em casa, o meu pai já saia da adega com dois bancos de madeira de olmo. Eram dois bancos compridos, que ficavam na adega e que só eram usados quando tinha a colheita ou alguma festa para sentar mais gente à mesa. Minha mãe e algumas vizinhas ajudavam a passar a escova de giestas para tirar as teias de aranha. Os bancos estavam empoeirados e cheios de teias de aranha, sem uso desde a colheita do verão passado.

Chegamos rápido a igreja. Os mais velhos também estavam curiosos para ver o que ia acontecer por lá.

O povo já lá estava todo junto. Vieram antes mesmo do toque das trindades. Gente para todo o lado. Nunca foi tão concorrida a igreja, nem mesmo nos dias da festa de São Bernardino. Ao chegarem com os bancos, faziam o barulho da trovoada, ao arrastar os pés de madeira no assoalho da igreja. Uma grande barafunda de barulhos estarrecedores. Nem o catecismo conseguiria dar uma descrição tão exata do barulho que a terra fará no dia do juízo final. E era isso mesmo que parecia, o fim do mundo. Garanto que era muito estranho tudo isso, e muito novo também.

O padre já lá estava. Tinha montado no meio da igreja, em cima de uma mesa, uma máquina de projeção, já com os dois rolos de filme. No arco do cimo da igreja, um lençol pendurado de alto em baixo cobria o altar mor e a capela do santíssimo.

Eu e todas as crianças, velhos, e rapazes, rodiávamos o padre, como se estivéssemos à volta do próprio cristo, em corpo e alma. Tal era o espanto do que víamos. Foi preciso o pároco da terra nos fazer sair dali e tomar um lugar nos bancos ou sentados no chão.

Projetou Charlie Chaplin e o Gordo e o Magro. As risadas da aldeia ainda ecoam nos meus ouvidos. Ainda lembro, de meu espanto e o de todos que lá estavam. Foram momentos mágicos, de descoberta e encantamento. Depois dos “cômicos”, passou um filme a cores sobre o Padre Damião. O filme narrava a vida deste, que foi o inspirador e motivador da grande mudança em minha vida.

No final do filme, o Padre João Avelino, perguntou a cada um dos rapazes com idade escolar, o que queriam ser. Todos responderam que queriam ser como o Padre Damião. Todos menos eu, que disse que queria ser lavrador como o meu Pai. Porém, um ano e meio depois, eu iria procurar o Padre, para me indicar o Seminário das Missões. Queria seguir os passos do Padre Damião.

Hoje, ao ouvir as palavras de meus filhos, a dizerem que querem seguir meus passos, lembrei de tudo isto, e das voltas que minha vida deu. Queria ser lavrador como o meu pai. Depois, quis ser missionário e salvar o mundo. Minha vida mudou, meus ideais também. Saí do seminário, por acreditar que talvez não fosse um bom. Só se salva o mundo salvando a si mesmo. Nos últimos anos do seminário, eu não estava feliz, na vida eclesiástica. Como faria os outros felizes? Como iria salvar as pessoas, ou ajudá-las? Hoje, pergunto-me se a felicidade realmente é tangível, a acreditar que é uma constante busca. Afinal, a vida têm momentos felizes e não felizes. Saber viver cada dia é uma grande sabedoria. Procuro viver, mantendo os valores e a fé que herdei de meu pai e do seminário.

Acredito nas pessoas, na vida e na procura constante da felicidade e da alegria de viver.

Deixo aqui um breve resumo da vida do Padre Damião. Sem duvida um grande exemplo a seguir.

Padre Damião de Veuster

Pe. Damião de Veuster

O Apóstolo dos Leprosos na ilha "maldita" do Molokai.

Nasce no dia 3 de Janeiro de 1840 na aldeia de Tremelo, perto da cidade de Lovaina. Sétimo de oito filhos de uma família de camponeses. Chama-se Joseph de Veuster.

No dia 2 de Fevereiro de 1859 entra na Congregação dos Sagrados Corações. O jovem Joseph recebe o nome de Damião.

Em 1863, o seu Irmão Pânfilo, Sacerdote da mesma Congregação Religiosa, era escolhido para ir como Missionário para as ilhas do Hawai, mas a epidemia do Tifo que alastrava na Europa, aceifou-lhe a vida antes de ele poder partir.

Damião escreveu mediatamente ao Superior da Congregação, pedindo-lhe para substituir o seu Irmão. O pedido foi aceito. Esta foto foi tirada nessa altura.

Damião embarca em Brême, na Alemanha. A sua coragem deixa a população estupefacta. Desde Brême até às ilhas do Hawai, a viagem marítima do Pe. Damião de Veuster durou nada menos que 148 dias, sem escala. Desembarca em Honolulu em 19 de Março de 1864.

Tendo permanecido 9 anos na ilha do Hawai, em Março de 1873, o Pe. Damião ofereceu-se voluntariamente para ir assistir os leprosos que então eram deportados para a ilha do Molokai – a Colónia dos Leprosos.

Depois de ter vivido algum tempo numa simples cabana, o missionário construiu uma casa em madeira, onde toda a gente ocorria em busca de ajuda material e espiritual. Os leprosos já sentiam a presença de alguém que os amava.

Com a ajuda dos leprosos mais fortes, Pe. Damião construiu casas, aumentou as instalações do hospital. Abriu uma loja onde os leprosos podiam abastecer-se gratuitamente. Levou a sua gente a cultivar a terra. Com os leprosos, o Pe. Damião constrói uma aldeia, organiza serviços de entre ajuda, monta um orfanato.

Em 1887, o Pe. Damião teve os primeiros sintomas de lepra: umas manchas na pele e a falta de sensibilidade nos pés. Os exames do laboratório confirmaram a terrível doença: estava leproso.

No dia 15 de Abril de 1889, o missionário "louco" do Molokai expirava na sua casinha, cansado, mas feliz. Tinha 49 anos, tendo vivido 16 anos na ilha do Molokai.

Em 1936, a pedido do governo Belga, os restos mortais do Pe. Damião de Veuster foram transladados para a sua pátria natal, pelo Navio-Escola Mercator. O missionário leproso de Molokai foi declarado Herói Nacional.

Admirado pelo mundo inteiro, o Pe. Damião é o único não americano que tem uma estátua em Washington, na galeria dos Heróis da América.

Em 1954 diversos grupos Belgas de ajuda aos leprosos unem-se e criam a Associação Belga Pe. Damião, que atua hoje em mais de 25 países, curando mais de 400.000 leprosos por ano.