Revisitando Castelo Branco

29/06/2010

Castelo Branco de coração aberto…

Autor: Belarmino Xavier Nunes
Foto Belarmino a dançar no encontro anual de Castelo Branco Ola, muitos parabéns, gostei do piquenique. Ainda sou jovem, e este encontro é uma experiência muito boa que permite encontrar pessoas que não conhecia, uma oportunidade única de estar com outros conterrâneos e ouvir as suas trajetórias de vida e isso sempre enriquece a qualquer um, mais ainda a alguém como eu que ainda tem uma vida inteira pela frente.
Ao ouvir estes relatos impressiona saber, que alguns dos conterrâneos que vem todos os anos ao encontro aqui em Lisboa não vão há muitos anos a Castelo Branco. Alguns deixaram de visitar a aldeia por falta de condições, outros simplesmente porque os laços familiares que os mantinham ligados a terra se apagaram e como não tem familiares a morar lá, a aldeia começa a perder o sentido. Assim este encontro permite-lhes reatar laços e recarregar as baterias das saudades de nossa terra.
Somos poucos e espalhados pelos vários pontos do mundo, e mesmo com ideologias diferentes, falar de nossa terra é para nós motivo de orgulho e identidade. Onde quer que estejamos, falar de Castelo Branco é uma grande honra, mesmo que poucos saibam onde fica localizada nossa aldeia, ou a confundam com uma cidade com o mesmo nome, falar e dizer que somos de lá é um orgulho só.
A história das vidas dos conterrâneos se repete na maioria das vezes, nasceram e cresceram neste cantinho de Portugal, moraram lá até uma certa idade, depois mais tarde, como aves a sair do ninho, tiveram que partir para outras terras para ganhar o pão e o sustento dos filhos.
Minha história é diferente, ainda sou solteiro e por opção resolvi ficar e tentar a vida aqui mesmo em nossa terra. Tenho muito orgulho de cá morar. Apesar tudo , ser “ muito parado” por aquiconfesso que sou feliz e tenho quase tudo o que quero e preciso. Já me senti atraído para sair mundo a fora e me despedir de nossa terra. Os jovens são poucos, porque faltam opções de trabalho e de atrações que nos façam ficar em vez de ir tentar a vida por outros lugares. Afinal qual é o jovem que não gosta de conhecer mundos e povos diferentes. Apesar de tudo isso e de sermos poucos que cá moramos, procuramos fazer de nossa aldeia uma aldeia com coração jovem e dinâmico.
O  motivo deste contato é para deixar um convite aos que moram longe e, que por acaso já não tenham familiares na aldeia: Venham sempre, não fiquem sem vir visitar nosso povo. Serão muito bem acolhidos. O importante é fazerem um esforço extra para virem mais vezes. Eu por exemplo: Aventurei-me e fui dar um salto ao piquenique a Lisboa, foram horas de estrada, centenas de quilômetros para ir e voltar, alem de que tive que trabalhar no dia seguinte. Mas valeu a pena todo o sacrifício para poder rever amigos e conterrâneos.
Se todos voltarem a cada ano, deixaremos nossa aldeia cada vez mais alegre e dinâmica temos muitos lugares bonitos para reunir a todos, como já fazemos anualmente na noite da fogueira do galo!
Venham sempre, não deixem de vir! Nós de Castelo Branco estamos sempre de coração aberto para receber os albicastrenses.
Abraços
Belarmino Xavier Nunes

28/06/2010

São 10.000 visitas

1000 visitas ao blog revisitando castelo branco.png
Obs.: O blog existe desde abril de 2007 e o contador de acessos desde  28/06/2008. 

Primeiras fotos do piquenique 2010

Autor: Alberto Paulo
Ontem lá passamos mais um piquenique Albicastrense. Não faltou o bailarico, comida, bebida e boa disposição. A  maior parte dos jovens são filhos de Albicastrenses residentes na zona de Lisboa,.
Este ano levei alguns piões e umas andas que fizeram um enorme sucesso, também se jogou ao fito, enfim foi um dia muito bem passado.
Abraço.
Alberto paulo.

MANDEM MAIS FOTOS…

Jovem Comissão da Festa da SRA. da Vila Velha 2010

Autor: Isaias Cordeiro
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Com a dificuldade que nos últimos anos tem havido, mas com a carolice de uns e a boa vontade de outros aí temos em marcha o primeiro de alguns eventos para que seja possível a realização da Festa de Nossa Senhora da Vila Velha.
A adesão embora não sendo a desejável não foi tão má como á partida se possa imaginar já que uma boa parte das pessoas não faz sala mas adquire sardinhas, frango ou até o tradicional caldo verde e leva para casa como algumas fotos decomentam. Curiosamente dava a sensação de festejos antecipados do S. Pedro mas que este quis fazer o jeito a Nª Srª da Vila Velha permitindo-lhe - lhe amealhar algum do dinheiro tão necessário ao pagamento dos custos da sua execução.
A crise financeira artificial ou não e até mesmo como pretexto está a tornar cada vez mais difícil a execução das festividades em honra dos vários Santos nesta e demais Vilas e aldeias. Lembro-me de que no ano de 2009, cerca da uma da manhã a Nossa Senhora do Caminho não tinha uma comissão para ano de 2010. Não fosse a comissão de 2009 a assumir estariam em risco essas festividades.
Compreendo o grau de dificuldade que a dita crise acarreta, é profunda sem dúvida mas atrás desta existem outras crises tais como de identidade, religiosa e outras que urge ultrapassar.
Ninguém há uns anos atrás imaginaria que seriam os pais a ombrear todo o trabalho e responsabilidade pela Festa de Nossa Senhora. Por falta de outros nomeiam-se crianças como pretexto de continuidade e os pais num esforço de louvar tentam não perder a tradição, dando o seu melhor. Há que reflectir, unir esforços, criar um espírito mais participativo da sociedade Albicastrense incluindo o religioso e o lúdico. Todos temos que ceder um pouco a bem da nossa comunidade Albicastrense. Que o esforço de pais e filhos seja interpretado como trabalho pela causa nobre de forma gratuita, digna, em prol do nosso Castelo Branco e não como outras causas que por vezes alguns querem que seja interpretado. Para não servir quase sempre se arranjam argumentos sem nexo numa forma de justificação quantas vezes carente de fundamento.
Na qualidade de Abicastrense peço, ajude, participe, colabore, hoje por esta comissão, amanhã pela sua.
JOVENS MORDOMOS
- Ana Lopes
- Eva Pereira
- Ivo Pereira
- Daniel Pereira
Após várias datas de celebração a Festa vai respeitar o seu dia: 12.09.2010
Do programa constam entre outros a habitual missa na Capela de Nossa Senhora da Vila Velha e respectiva procissão.
Banda Filarmónica do Felgar
Arraial com o conjunto “ TRIÂNGULO “
Que seja uma boa Festa! Um abraço Albicastrense.
Isaias Cordeiro
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26/06/2010

É neste domingo 27/06/2010


Vamos…piquenique2

“Quando começamos a realizar o piquenique, há mais de 15 anos. Resolvemos marcar uma data fixa para que ninguem ficasse esquecido. Nessa altura não havia a facilidade de comunicação que há agora. Por isso para que não suscitem duvidas, o piquenique continua a realizar-se SEMPRE EM JUNHO, NO ULTIMO DOMINGO.”

25/06/2010

ILUSTRES CONTERRÃNEOS NA ÁFRICA ORIENTAL

Autor: Isaias Cordeiro
Digitalizar0006Quase quarenta anos depois ! Sim, digo bem, quase, porque muito pouco falta ou não fossem trinta e nove os anos que distam para me situar em terras bem longínquas do nosso cantinho Europeu. Disso já fiz referência em artigos anteriores e é bem sabido por muita gente alguns dos locais por onde passei numa guerra que neste artigo não vou comentar. Decorrem actualmente na imprensa escrita e televisionada fascículos ou imagens bem lícitas daquilo que foi realmente a guerra nas então Províncias Ultramarinas.
É verdade que elas referem por norma as passagens globalmente ocorridas, aqui e ali uma ou outra individualizada e nessas pouco ou nunca referindo o papel que muitos homens desempenharam num misto de evangelização, espalhando amor e amizade pela conciliação em troca das armas que a ambas as partes geravam grande sofrimento.
Dos meus apontamentos manuscritos relato inúmeras passagens durante três anos os que antes disse fazer parte das trezentas páginas guardadas mas mal arrumadas.
No caso presente servi-me da minha CADERNETA DE REGISTO DE SERVIÇO AÉREO DE TECNICOS ESPECIALISTAS na qual se encontram registadas muitas missões que efectuei enquanto Mecânico dos ALL III.
No dia catorze de Dezembro de 1972 bem próximo da quadra que mais gosto e durante a tarde eu e o meu amigo Mogadourense Luis Branco Piloto Aviador descolamos para mais uma missão, esta sem tempo definido mas que se prolongou dada a sua especificidade. Já nesse dia tínhamos efectuado algumas horas de voo em operações em Chizampeta e Furancungo. Uma passagem pelo AB7-TETE-Moçambique e após um hora e vinte minutos estávamos numa unidade Militar em FINGOÉ algures no Distrito de Tete.
Aterramos num improvisado campo de futebol e á nossa espera estavam vários militares, alguns oficiais, um sargento ajudante e uns soldados que já de G3 na mão iriam guardar o Helicóptero. Troca de cumprimentos, saco de viagem na mão e lá fomos para o local onde seriamos instalados. Passamos pelo bar de Sargentos, refrescámos com uma Laurentina ,no meu caso pessoal a cerveja preferida entre as disponíveis e como de costume uma conversa amena com os presentes tendo o ajudante, um homem já tarimbado ou não tivesse ele já três comissões efectuadas, feito uma súmula dos acontecimentos na zona descrevendo uma a uma as emboscadas, minas, ataques a colunas militares, aldeias e o mais dramático os mortos e feridos havidos por toda aquela zona.
Depois de jantar lembrei-me de ir até ao bar de soldados beber um copo. Lembro bem, um pavilhão tendo ao fundo um balcão com muitos soldados a conversar. No centro uma mesa de matraquilhos cujos punhos originais já tinham dado lugar a uns, perdoem-me a expressão, feitos á machadada mas que em nada alterava a vivacidade e o vibrar com os golos que cada equipa marcava. Aproximei-me deste grupo tendo já como sempre fazia pelos destacamentos onde passei, preparada a pergunta habitual, aproveitei um fim de jogo, pedi desculpa pela intromissão e perguntei se havia Trasmontanos na companhia. Um dos presentes viu que pela minha pergunta também eu o devia ser. Respondeu sim, temos muitos na companhia eu próprio também sou.
Um a um foram-me rodeando dizendo, sou de Chaves ,estes dois são de Boticas aquele além é de Vila Pouca e há alguns de Vila Real. Na verdade fiquei um pouco triste, não havia conhecidos nem tão pouco eu conhecia as terras por eles referidas. Aproximei-me do balcão ,um soldado já tinha na mão um cerveja para me dar. É para si, disse ele. Agradeci e ali ficamos falando da guerra e do nosso trabalho, respondi ás suas perguntas curiosas sobre os Helicópteros, enfim um pouco de tudo.
Decorrido algum tempo vieram alguns militares ter comigo. Um deles já próximo do balcão perguntou. Quem é que procurou por Trasmontanos? Um soldado antecipou-se e respondeu, é o mecânico do Helicóptero meu Tenente. Depois de um aperto de mão o oficial perguntou-me de onde era. Para não complicar como acontecera algumas vezes respondi, de Mogadouro senhor Tenente. Respondeu, conheço bem pois sou de uma aldeia desse concelho. Já mais satisfeito com este encontro referi que não era de Mogadouro propriamente mas sim de Castelo Branco desse concelho embora tivesse ido para Lisboa alguns anos atrás e por lá ser recenseado para a Força Aérea. Dessa terra sou eu mas não sei de quem és, diz lá! Sou filho do Adérito Cordeiro, já falecido e Idalina Neto. Deu-me um grande abraço, disse, és o Isaías e lembrou, a tua mãe ajudou a fazer o banquete da Festa da Missa Nova. Não sabia nada de ti nem esperava encontrar-te aqui. Que grande alegria encontrar um conterrâneo bem longe do nosso Castelo Branco onde. Era o ILUSTRE PADRE ORLANDO MARTINS !
Deste meu destacamento faziam parte entre outros o transporte do senhor Padre Orlando a várias aldeias numa missão Evangelizadora, de Paz e dialogo com esses Povos. Não tenho presente o nome dos locais visitados já que nos meus registos militares estes estão designados como “ZOPS “ mas tenho bem presente estas passagens.
Por curiosidade faço referência a óptimas condições desse Quartel no Fingoé, muito acima da média de todos por que passei em Moçambique que foram muitos.
Não conheço toda a obra do nosso Missionário Albicastrense, O Excelentíssimo Senhor Vigário Episcopal Padre Orlando Martins recentemente nomeado pelo Arcebispo de Luanda para a Educação. A sua obra na Paróquia de Santa Ana em Luanda, esta que possui uma elevada densidade populacional é a prova da total dedicação á causa do Próximo. Igrejas e escolas construídas, a alfabetização e saúde são disso o exemplo. Digitalizar0006
Não tenho dúvidas do seu trabalho, da sua obra e da sua capacidade. Os Conterrâneos Albicastrenses devem sentir-se orgulhosos pelo Missionário, pelo Homem e pela sua obra. È tempo de o Homenagear !
Da minha parte estou disponível para qualquer iniciativa nesse sentido.
Um grande abraço para todos.
Isaías Cordeiro
2010.06.24
Obs: A Foto anexa foi-me gentilmente oferecida pelo Gualdino Rentes. No primeiro andar da antiga casa dos pais e na sua companhia o senhor Padre Orlando saúda os presentes que lhe dão os parabéns pela sua Missa Nova.
Em baixo lado esquerdo é Isaías Cordeiro, a razão da oferta desta foto. A minha mãe está lá dentro colaborando no banquete.
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23/06/2010

Visita pascal 2009

Autor: Sara Ingueira
Ola a todos.
Vale mais tarde que nunca! Algumas das fotos da visita pascal de 2009. Como não temos outras no site da visita de 2010, estas farão um bom papel para relembrar a alegria de nossa terra nesta data tão especial.
Para mim este dia foi um dia que não vou esquecer. Primeiro enfeitei as ruas com as flores da serra, depois fiz a volta de todas as casas. Em umas foi folar, noutras licor, e digo que ha lá especialistas nestas artes.
Noutras foram bolos, chocolates ,amêndoas e etc, etc. Claro que não me posso esquecer do vinho, do nosso, do bom e famoso “NACIONAL”! O meu preferido sempre.
Quando sai de casa da Amélia que por sinal tinha posto uma rica mesa, eu já estava capaz de cantar a “MULA DA COOPERATIVA”. 
Lembram desta música é antiga, mas das boas. Eu lembrei de a cantar porque era a CANTIGA QUE O MEU AVO INGUEIRA CANTAVA QUANDO ESTAVA COM OS COPOS, mas logo de pressa a ALELUIA voltou, e pude continuar a visita pascal com alegria e disposição. Abraços.

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Na ocasião também fiz este poema:
Fui a serra passear,
maravilhosa na nossa terra,
trouxe um ramo de flores,
só de carqueja amarela.

Também trouxe flores brancas,
e outras cores ainda,
os conqueiros espigados,
têm uma flor muito linda.

Pus na mesa , que maravilha
um ramo, sem outro igual,
não podia ter melhor,
para a visita PASCAL

12/06/2010

Um mundo novo tão diferente

Autor: Zulmira Geraldes
Cruzeiro no centro de Vale de Porco terra que me viu partir para São Paulo Brasil
Numa manhã do mês de outubro minha mãe nos acordou, a mim, à minha irmã e ao meu irmão com um entusiasmo diferente. Era muito cedo, nossa casa estava quase vazia pois grande parte dos moveis e objetos ela vendera. Havia uma grande quantidade de malas cheias e empilhadas à porta. Era dia de viajarmos para o Brasil.
Logo começaram a chegar algumas pessoas. Os primeiros foram a tia Maria Augusta, irmã de minha mãe, acompanhada do marido, o tio Antonio Salgueiro, com os filhos atrás. Sua filha mais velha, a Olímpia, viajaria conosco.
Meu pai havia ido dois anos antes com a intenção de verificar se valeria a pena a mudança da família para outro país.
Naquela época Portugal era um país pobre, dominado pela ditadura de Salazar. Diziam os mais velhos que não havia perspectivas de bom futuro pois o país estava muito atrasado e as pessoas se sentiam oprimidas. Muita gente ia embora em busca de oportunidades e o Brasil era o preferido pois vivia uma situação oposta. Governado por Juscelino Kubitschek que tinha a intenção de tirar o atraso de sua história, dizia-se que o Brasil cresceria 50 anos em 5.
Foi nesse momento histórico que lá na minha pequena aldeia chegou um primo da minha mãe, solteiro e cheio de dinheiro. As jovens das famílias mais abastadas eram todas suas pretendentes. Mas ele era tão poderoso (pensava que era) que nenhuma delas lhe servia.
Chegou a bordo de um maravilhoso automóvel e com placa do Rio de Janeiro. Era um Cadillac (rabo de peixe) azul e branco. Nunca se tinha visto algo tão moderno naquela terra tão longínqua e pobre. Onde parava as pessoas se aproximavam para admirar tal maravilha e não podiam deixar de pensar: como deve ser bom o Brasil!!!
cadillac rabao de peixe
Com isso ele estimulou vários chefes de família a abandonarem a sua terra e tentar a vida no Brasil, além de prometer mandar a carta de chamada para todos que quisessem.
Um deles foi meu pai que nessa altura ainda eram jovem. Deveria andar lá pelos 35 anos e todos nós estávamos com menos de 10 anos de idade.
Começaram a chegar mais pessoas e em pouco tempo a nossa casa estava lotada. Era uma choradeira geral. Minha mãe se despedindo e os amigos e parentes nos abraçando. Para mim e meus irmãos era diversão. Estávamos felizes em viajar. Fomos a pé até Vilar do Rei onde ficava a estação do comboio, com uma pequena multidão nos acompanhando. Eram uns 3 ou 4 quilometros.. Embarcamos rumo à cidade de Porto onde já nos esperava a tia Izabel Fonseca, prima do meu pai, e que lá possuía uma pequena pensão.
Ela morava numa rua central, cheia de edifícios que eu achava absurdamente altos. (hoje penso que não deveriam ter mais que três ou quatro andares.)Tia Izabel tinha um filho único, o Acúrcio que era estudante, de uns 18 anos. Ele ocupava um lindo quarto que ficava no sótão e de onde se tinha uma boa vista da cidade.À noite eu ficava encantada olhando dali as luzes da cidade. Nunca tinha visto nada igual pois na minha pequena aldeia nem luz elétrica tínhamos. Estávamos acostumados à luz da candeia e do lampião e agora eu me via, de repente, admirando os luminosos da cidade. Tinha um que me encantava em especial: era uma máquina de costura, costurando, costurando sem parar.. Outra coisa que me encantou foi, num edifício, uma porta giratória que parecia que engolia as pessoas para dentro, ao mesmo tempo que também as jogava para fora. Achei aquela porta fantástica e eu e a minha irmã experimentamos várias vezes entrar nela e sair.
Minha mãe preparou para nós um guarda roupa cheio de novidades. Ainda me lembro de alguns modelitos de vestidos e de um par de sapatos de verniz na cor caramelo.
Passando por uma rua, paramos na frente de uma vitrine (montra) e ela nos comprou dois pares de sandálias: um para cada uma.
sandalia melissa Essas sandálias eu não esqueço: a minha era cor de rosa e a da minha irmã, branca. Quando chegamos ao Brasil era mês de Dezembro e verão, portanto fazia muito calor. As sandálias eram perfeitas para usarmos pois eram de plásticos e portanto laváveis. Mas eu me recusava a usá-las porque todos olhavam e eu sentia vergonha de chamar tanto a atenção. Essa sandália era a famosa Melissa que somente anos mais tarde é que chegaria ao Brasil. Hoje acredito que esse calçado, por aqui,   se tenha tornado  tão popular e talvez seja uma raridade encontrar uma mulher que nunca tenha usado uma melissinha.
Como sempre, nós portugueses,  levando novidades às terras que nos acolhem.......
Zulmira Geraldes

06/06/2010

A aldeia perde significado

Autor: Luis Pardal
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Há uma Castelo Branco, que perde significado e sentido a cada dia de passa. Éramos uma aldeia essencialmente agrícola. Muitos dos costumes, tradições, artes e ofícios, que são sabedoria dos antigos, feitos de símbolos na sua maioria, perdem aos poucos significado e sentido e apenas são conhecidos ou postos em prática por alguns dos albicastrenses que já estão no outono da vida.
Toda esta cultura, de símbolos e materiais devia fazer parte da memória de nossa aldeia, para que Castelo Branco, não perca a identidade. Torna-se necessário concretizar o quanto antes, um levantamento e registro sob pena de tudo isto ficar perdido para sempre.
Quem ainda conhece estas tradições, as viveu e as põe em pratica,  já está a viver o percurso final de seu ciclo de vida. E com a partida destas pessoas, perderemos um jeito de ser e de fazer as coisas, que foi acumulado ao longo de muitos séculos de experiência e, que sempre foi passada de pais para filhos. Mas esta corrente de informação e tradições infelizmente está a parar.
Aos jovens ainda residentes, a missão de perpetuar estes costumes e sabedoria, e o resgate de um tesouro que tem um prazo de validade muito pequeno.
Ao pensar nisso veio á memória de algumas profissões que se perderam no tempo e uma em especial eu quero falar hoje: Dos moleiros e dos moinhos e a moagem de Castelo Branco.
Peço a ajuda de todos para juntar pedaços de memórias da história. Deixem estes registros nos comentários vamos resgatar alguns elos da nossa história recente.
O assunto do moinho veio á lembrança porque o Arlindo Parreira, nosso estimado Regedor, em um dos seus e-mails, falou-me de uma forte trovoada que ocorreu em nossa aldeia há alguns anos atrás e que acabou de vez com o moinho dos Moleiros e com a sua atividade.
Depois disso, em conversa com o Ricardo Pereira, pelo MSN,  falei do tema e ele lembrou-me de uma história que ouvira do próprio, Ti Chico Moleiro, sobre um episódio verídico que aconteceu no moinho da família nas pombinhas.
O Ti Chico, contou ao Ricardo, que um dia ao voltar da aldeia de uma entrega de para os fregueses, ao entrar no moinho, notou que faltava uma saca de farinha. Ao chegar mais perto ficou surpreso, no vazio do lugar  onde estava a saca, estava agora um pedaço de papel  com esta quadra escrita.
“Neste moinho entrei,
Um saco de pão eu levei,
Contra a fome não ha lei,
No verão, eu pagarei”
Nossa freguesia de Castelo Branco, sempre teve nos cereais, centeio, trigo, e aveia uma das suas produções básicas. E dada a importância do pão na alimentação diária das famílias, uma riqueza essencial na sua sobrevivência.
Factores geográficos, como a passagem de três grandes ribeiras no termo da nossa terra, favoreceram e permitiram a instalação de moinhos de água, que ainda laboravam até aos anos setenta.
Foram estes engenhos, instalados nas margens das ribeiras, um na saída da aldeia no carrascal que depois foi motorizado e que o Sr. Paulo administrou e operou e outro nas pombinhas, mais antigo e artesanal e que pertencia à família do Ti Chico Moleiro. A memória já me falha mas tenho a impressão de ter esquecido de um outro moinho na ribeira que ficava acima das pontes. Por favor me ajudem... Quem lembrar, deixe o registro.
Amigo Luís, sobre o moinho a montante da ponte, aí vai uma foto. Em primeiro plano, a horta do Padre Lopes, do outro lado da ribeira, ou seja na margem direita, a horta do Escalhoeiro. o caminho que se vê em frente vai para o babuedo, a seguir à horta do Padre Lopes à direita é que vai o caminho para a rodela, depois de passar um pequeno ribeiro que vem da rodela é que há o caminho para o carvalhal. Este moinho era dos Neves e era para uso próprio, meus avós foram caseiros dos Neves. ( Alberto Paulo)
Foram estes moinhos que serviram para moer os cereais, cuja farinha, depois de transformada em pão, alimentou muitas gerações de albicastrenses.
A trovoada que deu fim ao moinho das pombinhas aconteceu em a 11 de Setembro de 1959 e  foi também uma grande tragédia na vida da aldeia. Em pouco tempo a enxurrada destruiu hortas, lameiros, plantações e chegou mesmo a arrastar na correnteza do ribeiro da fontainha uma vaca do Ti Raupau e tambem um um burro do Ti Mirandês que estava preso na retorta.  Ainda vivem algumas testemunhas oculares que a viram passar arrastada pelas águas debaixo da ponte do vale. Os mais antigos podem narrar com detalhes os acontecimentos.
Lamentavelmente enquanto os da aldeia se recuperavam do horror da enxurrada, lá para os lados das pombinhas onde ficava o moinho, um mar de água tomava corpo em proporções muito maiores e invadia o moinho e a casa e punha em risco a vida de todos da família.
Quase ninguém lembrou deles. Por sorte ou destino, meu avo, minha mãe e o primeiro marido dela, ao verem a proporção que a ribeira tomava e do perigo, pensaram imediatamente  na horta das pombinhas  e no moinho dos moleiros. E mal pensaram ja saíram em desespero cortando caminho por lugares e atalhos  aflitos de que não fosse possível chegar em tempo e que o pior já tivesse acontecido. Mas foi a salvação. Como dizia minha mãe: - Era um mar de água por todos os lados e apesar do moinho ficar metros acima do leito normal da ribeira a água era tanta que quase não se podia chegar perto com risco de ser levado pela correnteza.
Quem conhece o lugar sabe que o moinho fica depois que ribeira de Castelo Branco recebe a água que vem da Ribeira de Cavalos .A partir dali quando  uma ribeira desagua na outraa  torna-se maior e mais traiçoeira e o caudal de águas dobra. Deve ter sido um desespero para a família inteira mãe e filhos rodeados por agua. Graças a Deus chegaram em tempo de salvar e ajudar a todos e não houve perdas de vidas naquele incidente. Mas o estrago foi irreparável para o moinho e a família veio a mudar-se para a aldeia e ali estabeleceu morada em uma casa do lado da de minha mãe na rua das flores.
Minha memória não me permite voltar muito no tempo e neste artigo vou-me basear das lembranças de meu coração e do que minha mãe me contava e do que vivi na casa dos personagens desta crônica. Éramos vizinhos, nossas casas tinham paredes meeiras e as noites eu tinha o costume de me escapulir para a cozinha do Ti Chico e da Tia Cristina onde junto com os filhos, Abel, Manuel e Zé ouvia o narrar da vida e dos costumes deles. Com o termino das atividades do moinho, mudaram de vida e de profissões. Quando vieram morar na aldeia tornaram-se pastores, lavradores e os filhos trabalhavam também á jeira e na construção civil.
Lembro que o, Ti Chico, era um excelente caçador, e junto à lareira deles comi algumas vezes dos coelhos perdizes e pombos trocais (torqueses como eu dizia). Junto das toras ao lume escutei algumas boas histórias de caçadores e caçadas fantásticas e da lida difícil do moinho. Guardo com carinho as lembranças dessas noites em que meu pai vinha me buscar á força pois não queria voltar para casa.
Ajudem a relembrar mais episódios deste lugar e época.

Um video produzido pelo nosso regedor nos dá a ideia do que aconteceu
De Florianopolis, Brasil, na ilha de Santa Catarina e ilha da magia,  um forte abraço albicastrense!
Luis Pardal

Viver com a diferença

Autor: Ricardo Jorge Atanásio Pereira
RicardoEu estou um pouco à vontade a falar disto porque vivo com a diferença todos os dias e são muitos os problemas que se põem pela frente no dia a dia.
Não sei bem como as coisas se passam com as pessoas que já nasceram com uma deficiência, mas no meu caso que já tive o acidente aos vinte e cinco anos é muito complicada a adaptação.
É nesta altura que as coisas custam mais, enquanto estamos no hospital são muitas as promessas. A mim por exemplo, foi-me dito que não sairia do hospital sem uma prótese, e o facto é que saí e nunca mais ninguém me falou do assunto e quando o abordei havia sempre qualquer coisa que faltava. Eu sei bem o que era. É o sistema em que se encontra o nosso país, são os padrinhos, quem os tem safasse. Eu nunca compactuei com isso e por isso saí do hospital sem prótese.
E saí para uma nova vida. A vida que aos olhos de muitos é a vida dos coitadinhos, mas eu tenho me recusado a que me vejam assim como um coitadinho. Mas isto visto do meu lado até se torna engraçado ouvir as pessoas a comentar, «faz mais ele com um braço do que muitos com os dois». E é engraçado porque até hoje todas as pessoas a quem eu ouvi este tipo de comentário não fazem mais que eu, e não têm coragem de dizer «faz mais ele com um braço do que eu com os dois». Têm sido muito poucos a admiti-lo.
Também temos o problema da descriminação. Era assim, antes de eu ter tido o acidente pois quem me conhecia estava-me sempre a oferecer trabalho, e depois ninguém me queria a trabalhar. Agora as coisas já estão melhor, mas tive que trabalhar muito para fazer ver às pessoas que o facto de eu só ter um braço não impedia de trabalhar fosse no que fosse.
Mas na população em geral não estranho muito, porque as pessoas não têm a cultura suficiente para lidar com as diferenças dos outros. Mas no que toca ao governo aí sim, já fico muito chocado.
Pois acho que é quem mais descrimina os deficientes, que deveria ser quem mais os apoiasse. Na conversa dos ministros é tudo muito bonito, mas depois não é preciso muito para ver que não é bem assim. Basta ver as barreiras arquitectónicas que existem em todas a nossas cidades e a maior parte delas encontram-se em edifícios públicos como as câmaras municipais, tribunais, nas instituições bancárias e tantos outros edifícios. Isto para as pessoas com deficiência motora, mas se forem deficientes visuais tudo é bem pior.
Não pretendo que tenhamos regalias mas sim que ajudem nas nossas necessidades e haja mais um pouco de bom senso de quem tem poder no nosso país. Um professor do meu filho é invisual e é natural de Abrantes, foi colocado em Mogadouro. Como todos calculamos deve ter sido muito difícil vir dar aulas para uma terra desconhecida, em que ele teve que se adaptar a tudo, às ruas, à escola, e pior de tudo aos alunos. Mas o que é mais aborrecido é que para o ano que vem pode ser colocado em qualquer outra escola do país. Deveriam ter uma política que salvaguardasse estas pessoas e não as tirassem do seu meio.
Quando me referi aos alunos disse, «pior de tudo os alunos», porque estamos no interior, fora dos grandes centros e as nossas crianças, e algumas já não são nenhumas criancinhas, não têm, ou não tiveram educação para lidar com um professor diferente. E sei que quando se encontra sozinho com os alunos eles não se portam muito bem.
Há tantas disciplinas, e não há uma em que se aborde a deficiência para que os jovens começassem a ver as coisas de outra forma.
Por exemplo, eu se for trabalhar para alguma aldeia onde ainda não tenha trabalhado todas as pessoas se admiram e ficam a olhar para mim, e confesso que no princípio me sentia mal, e tinha que dar muitas explicações. Agora já me habituei e não ligo a certos comentários, mas se por acaso estivesse a trabalhar no centro de uma cidade, ninguém se importava se eu tinha só um braço ou tinha os dois. As pessoas são diferentes, e é por isso que eu acho que há diferença na forma que as pessoas vêm as coisas, mediante o meio em que vivem.
Eu tirei a carta de condução de pesados profissional, e desde que vim do hospital tenho conduzido carros pesados, tractores e ceifeiras debulhadoras. Como este ano fiz quarenta anos foi preciso renovar a carta de condução. Fui ao delegado de saúde para tirar um atestado médico e ele não mo passou. Disse que eu tinha que ir a uma junta médica. Isso a mim não me admirou por que eu já estava à espera, o que mais me revoltou foi que na junta médica disseram que eu não podia conduzir mais carros pesados porque não era permitido às pessoas que só têm um braço conduzir veículos pesados. E foi-me tirada assim uma coisa que eu paguei sem sequer me avaliarem, ou marcarem um exame de condução para verem se eu podia ou não conduzir. Quando eu disse ao médico que já conduzo assim á quinze anos ele disse-me, conduzia mas agora deixa de conduzir.
E é aí que está a minha revolta porque desde que tive o acidente nunca ninguém se preocupou se eu estava bem, e se tinha como governar os meus filhos. Sempre paguei os impostos como os outros cidadãos e não houve nenhum funcionário das finanças que me dissesse que eu tinha o direito de não pagar impostos. Durante estes quinze anos tenho pago como os outros, e só agora é que vem um médico dizer que eu não posso conduzir, porque só tenho um braço. Acho que é mesmo uma injustiça, porque mesmo para conduzir um carro ligeiro eu tenho que comprar um carro automático, e não querem saber se eu me adapto bem assim ou não. Medem todos pelo mesmo «razouro». Acredito que nem todas as pessoas se adaptem como eu, por isso acho que me deviam fazer um exame para saber se estava ou não apto para conduzir.
Quando eu tive o acidente, e como houve muita negligência médica e dos bombeiros, o caso foi muito falado nos jornais e na televisão, e uns dias depois de eu ter saído do hospital fui convidado para ir a um programa de televisão para falar do meu caso. O programa era sobre as consequências de viver no interior, e nesse programa estava uma senhora que não sei dizer qual o cargo que ocupava mas pertencia ao governo e disse que desconhecia o meu caso. Disse também que eu podia fazer um certo número de coisas, que eu já não me lembro bem o quê, mas tudo maravilhas para mim. Depois, quando saímos, essa senhora chamou-me de parte e disse que estava sensibilizada com o meu caso, e, que iria ver o que se tinha passado mas que eu não deixasse que me utilizassem como exemplo e que iria entrar em contacto comigo. A verdade é que depois de sair dali nunca mais se lembrou de mim. Afinal era tudo fachada, e quanto ao exemplo, sei que no próximo acidente grave que houve em Mogadouro, veio o helicóptero buscar o sinistrado ao local do acidente e daí em diante tem sido assim sempre, por isso ainda valeu a pena ter servido de exemplo.
Gostava de ter oportunidade de dizer isto a essa tal senhora mas já nem sequer sei quem ela era.
E assim com a ajuda das pessoas mais chegadas e com força de vontade lá se vão passando os dias, e quase não se nota a diferença.
Ricardo Jorge Atanásio Pereira

05/06/2010

Recordações da minha infância

Autor: Dr. Alcindo Costa
Uma curiosidade - o carro que se vê na fotografia parece-me um Ford V8 de 1936. matrícula MN-77-44. Se for, era o meu Pai que ali estava: Guilherme Sanches. Um abraço albicastrense, Guilherme
Também tive a sorte de ter nascido em Castelo Branco de Mogadouro, aí vivi ininterruptamente os meus primeiros dez anos e onde conservo e sinto bem vivas as minhas raízes.
E foi aí que a partir dos primeiros dias do mês de Outubro de 1935 comecei a frequentar a Escola Primária masculina que então funcionava num velho edifício, hoje praticamente em ruínas, situado a norte da nossa Igreja tendo em frente um “marco”, o único que nos dá água vinda directamente da nascente da soalheira, antes de cair no depósito existente ao lado do adro.
Era então nosso professor o Senhor Campos, residente em Meirinhos mas natural do Azinhoso e que todos dias, montado no seu cavalo vinha daquela freguesia para nos dar aula e por ele esperávamos quando, sentados nas escadas do campanário, o avistávamos a descer o caminho das Figueirinhas.
Desse tempo importará sublinhar o espírito de sacrifício, a dedicação e o sentido do dever daquele estimado professor, a quem devo a aprendizagem das primeiras letras e o belo exemplo de cumprimento das suas obrigações.
Em Outubro de 1938, o Professor Adelino Sequeira, natural de Castelo Branco onde seus pais viviam numa casa situada na Praça, ainda hoje bem de pé, até então professor em Campo de Víboras, no concelho de Vimioso, veio substituir aquele Senhor Professor Campos. E foi ensinado, instruído e também educado por este que terminei o ensino primário, fazendo exame de quarta classe numa escola em Mogadouro.
Também deste Professor guardo as melhores recordações, tanto pelo muito que com ele aprendi, como pelo modo paternal com que a todos nós, seus alunos, tratava. Poucos anos depois pediu transferência para o Porto, vendeu tudo quanto ele e seus pais tinham em Castelo Branco, para mais facilmente, nessa cidade, poder dar aos seus três filhos os estudos que eles e para eles desejava e veio a conseguir.
Tudo isto e muito mais haveria que contar acerca daqueles dois inesquecíveis professores e daqueles tempos vividos naquela histórica escola, onde no Inverno nem com braseira, sempre acesa, deixávamos de tiritar com o frio, tempos esses que, apesar de tudo, recordo com prazer, com saudade e com gratidão.
Do muito que poderia escrever sobre esse tempo vivido na minha aldeia com os meus companheiros e amigos, alguns deles infelizmente já falecidos, onde ainda estive há bem poucos dias, apetece-me relembrar que no ano lectivo de 1938/ 39, houve festa em que todos nós alunos, por indicação do Professor Adelino participámos, quando da inauguração de mais águas canalizadas e das calçadas.
E não vale a pena lembrar como eram antes as ruas de Castelo Branco, com as suas estrumeiras, as lamas e as rimas de lenha, debaixo das quais viviam doninhas e ratazanas e pelas quais em plena liberdade, vagueavam todos os animais domésticos, desde as galinhas aos porcos.
Nessa altura o nosso Professor fez uns versos apropriados a esse momento, alegre e solenemente cantados por nós, seus alunos, com letra e música que ainda não esqueci e que ainda às vezes canto, mas de que só já recordo a seguinte:
Castelo Branco já tem calçadas
Bendito seja o Estado Novo
Tem águas canalizadas
Já nos parece outro povo
Quando as lamas
Mal eterno
No Inverno,
Cobriam o povoado
Que atrasado,
Agora com as calçadas
Bem lavadas
Já nos parece
Outro povo.
Castelo Branco já tem caçadas
Bendito seja…
Para terminar estas minhas recordações, gostaria de lembrar, tanto pelo que na aldeia ouvia dizer aos mais velhos quando era jovem, como pelo que depois disso tenho lido, a Casa Grande, agora baptizada não sei porquê, como Solar dos Pimenteis, foi mandada construir em 1753 pelos Távoras e quando a sua construção estava praticamente concluída e prestes a ser mobilada e habitada, todos eles Távoras foram eliminados em 1759, graças a um tal Senhor Marquês de Pombal, com o consequente confisco de todos os seus bens por parte do Estado e obviamente da dita Casa Grande, sempre, desde então assim conhecida, bem como de todos os prédios rústicos de que em Castelo Branco eles Távoras eram proprietários, Casa essa que naturalmente, se o tal Marquês não tivesse agido como agiu, teria vindo a ser mais um Solar ou Paço dos Távoras, como então já era o de Mirandela, então também confiscado.
E é logo em seguida, passado pouco tempo, em condições ainda mal esclarecidas que um nobre Morais Pimentel, segundo se dizia, vindo dos lados de Macedo Cavaleiros, aparece proprietário da referida Casa Grande, a mobila e aí passa a viver e aí viveram e nasceram quase todos os seus bem conhecidos, famosos e ilustres descendentes, entre os quais as duas “fidalgas”, como eram por nós conhecidas, solteironas que ali viviam sozinhas na década de trinta e aí continuaram a viver até à sua morte, deixando indefinidamente aquela Casa Grande desabitada e praticamente abandonada.
Lisboa, 30 de Maio de 2010
Alcindo Costa

04/06/2010

Tardes de junho

Autor: Albano Solheira
Sentados no tanque das eiras estão á espera de o dia acabar.
Ficam a olhar a marca do por do sol a crescer no céu.Um resto de luz a escorrer do cimo das nuvens e dos montes evapora no ar e troca o dia por um manto de noite que desce dos montes com pressa de trazer a noite.
Os olhos esbugalhados pela ansiedade e pela repentina escuridão ficam atordoados com a vista turva. Os corpos aproximam-se, ombros, braços e mãos, mais vivos que nunca, atraem-se, num entrelaçar de dedos e abraços desencontrados, com ânsia de sentir o outro, de viver o momento tão esperado.
A escuridão, doce aliada, escudo protetor dos olhares alheios, deixa-os livres dos olhares de rapina que ao longe controlam cada movimento. Vão lá agora as beatas ver do lugar de onde estão, as mãos a percorrer o rosto, os afagos no cabelo, o encontro dos lábios, os beijos, os murmúrios, as juras de amor, o momento dos dois. Tudo foi tão bem planejado e funcionou tão certo, que parece mentira.
Minutos antes, convenceram finalmente a irmã mais nova para ir comprar cigarros e chiclas no café do Peres que ficava perto na entrada da aldeia.
A moça que, não era boba nem nada, desconfiada do perigo, reclamou que não podia, que a mãe não deixava, que eles não podiam ficar ali sozinhos. Mas, os dois foram convincentes. E, o argumento que fez a moça ceder foi que dali de onde estavam, as mulheres sentadas á porta da casa da tia Souza, viam tudo. Eles estavam bem guardados pelos olhos das rendeiras de soalheiro. Nisto ela foi convencida por tão forte argumento e aceitou ir ao café. Mas quase tudo se perdeu. Ao pegar a nota de vinte escudos ficou a olhar meio que a resmungar e antes de sair ameaçou ficar ali: -Só vou se puder tomar uma seven up no café. Ele sem querer dar nas vistas tentou disfarçar a satisfação com um ar de bravo e arrematou com voz firme: - Vai mas não demores. E não te acostumes mal, que eu não sou teu pai. Deu mais 10 escudos e disse: - Não gastes tudo e trata de me trazer o troco.
Ela saiu em passos rápidos e a fazer caretas estouvadas e gargalhadas de contentamento.
Calados e incrédulos, os dois ficaram parados, imóveis, respiração contida meio que sem acreditar.
Contaram os passos, os minutos, até que ela virou na curva do fim da reta das eiras e sumiu.
Suspiros... O espaço entre os dois ficou de repente, menor, cada vez menor.
O sol já se punha, mas tão lentamente que nunca um por do sol, demorou tanto. Interminável...
Demorou uma eternidade para ficarem sozinhos.
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