Revisitando Castelo Branco

28/09/2008



2 comentários:

Anônimo disse...
A praça e as casas

Aida Freitas Ferreira disse...
Foi esta a praça que me viu dar os primeiros passos. Quantas voltas dava ao marco. Quantas vezes corria até à tia Cristina e vezes sem conta entrava e saia do sóto da Variza. De encontro aos animais que ao tanque viviam saciar a sede e eu olhava fascinada. Lembro da voz meiga da tia Marquinhas das Patas que me cuidava. Cuidado com os burros! Olha as vacas. Atrevida e ladina eu corria ao seu encontro. Queria tocar-lhes! Não havia medo que me afugentasse. Hoje lembro da casa da minha infância, das galinhas da tia Urbana. Quem se lembra dos dias em que o Sr. Lino fazia das estevas pasto para o estrume. Era festa na certa! Saltar do tractor. Rebolar pelo curral. Era tempo do Sr. Zé Tendeiro e da tia Glória. Café? Nã! De café só a taberna do "Moncas". Ainda lembro de espreitar à socapa pela fresta da porta. Era local proibido aos miudos! Lembro de uma praça diferente mas que muito me marcou pois pouco mais tinha que os meus 5/6 anos.
Outubro 08, 2008

Escola Primária de Castelo Branco Mogadouro


Mais do que um prédio, a escola era o portal de entrada para a vida, para o mundo. Os quatro anos que passamos ali deixaram marcas para toda a vida. Amizades , sonhos, carreira... Enfim os tempos eram outros, nem todos que por lá passaram tivera a oportunidade de ir alem nos estudos. Tenho a certeza de que todos sem exceção tiveram ali a sua maior formação e faculdade, nos fundamentos e valores mais sinceros: dignidade, fé, cidadania, patriotismo, honra, amor á terra, respeito pelos mais velhos e pelos direitos dos outros.

DSC02225 A escola através de suas professoras e professores deu a todos uma universidade de valores e de riquezas que levamos para a vida. Lembro-me com muito carinho e respeito da minha terceira classe.  
A Dona. Maria Eugênia foi a professora que lecionou naquele ano. Foi um ano escolar maravilhoso. Em um ano, ela conseguiu mostrar-me uma nova realidade e, abriu diante dos meus olhos possibilidades infinitas, de descobertas sobre o mundo e sobre mim mesmo, minha capacidade, potencial e talento. Sem o auxilio dela não teria descoberto, sem a visão maravilhosa  e a orientação carinhosa de tão estimada “mestra” teria ficado sem abrir uma porta que me faria ver o mundo com olhos diferentes. Se a vida me permitiu ser alguém foi graças ao voto de confiança e entusiasmo que ela me deu nesses meses de aula.  E acredito que o mesmo aconteceu com todos que tiveram o previlégio de sentar na sala de aula dela. Meu sincero agradecimento, admiração e respeito.

Conta a tua história da escola também!

Forte abraço albicastrense!

Luis Pardal

Ponte de São João

Ponte velha de Castelo Branco

Ponte medieval reconstruída, de tabuleiro horizontal sobre dois arcos redondos iguais.Aparelho de silhares de granito, do lado esquerdo, e de alvenaria de xisto no encontro direito. As aduelas dos arcos são em granito.Não conserva as guardas. O pavimento é de lajes de granito, no troço central, e de calçada nas entradas. Acesso: EN 221 (Mogadouro - Freixo Espada-à-Cinta), no caminho velho à entrada da aldeia do lado nascente.

Junta de Freguesia

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Capela da Vila Velha

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Igreja de Castelo Branco Mogadouro

07/09/2008

Um café na Praça

Foto: Abilio Freitas

Na porta do café, espero Sentado, até a hora chegar.
Fito as ruas vazias, os paralelos do chão,
A poeira no vento, um cão que passa,
Que calma.

Acreditem, fico ali por um café
Forte, sem açucar, amargo,
Puro, para esquentar,
A alma.

Esqueço que o mundo roda o universo viaja e o tempo escorre.
Mato os minutos, silêncio.
Suspiro.

Busco o gosto amargo,
Aroma intenso, encorpado
De um expresso, que expresso, bem tirado.

Finalmente ouço que desce a escada.
O Sr. Fernando chega a pergunta o que quero.

Demoro, até pensar, nesta tensão filosófica
Com a mente confusa, digo sem convicção:
Um café, é só um café, que quero tomar,
Na praça de minha aldeia, amargo para esquentar.
Com gosto sincero, com verdade em cada gole,
Autêntico, amargo, forte, religiosamente,
Com alma.

Luis Pardal

05/09/2008

Foto Ricardo Pereira e Família

Foto: Ricardo Pereira

Artigo Interessante.

"Castelo Branco, é terra de antigas e nobres tradições. Situada a cerca de doze quilómetros da vila, a norte da serra de Lagoaça, por ela passa a estrada que liga Mogadouro a Moncorvo e Freixo de Espada à Cinta. Segundo vários investigadores, Castelo Branco não nasceu aí, mas junto à capela de Nossa Senhora da Vila Velha. Em Castelo Branco há vestígios de um castro (com indícios de ser romanizado), situado no chamado "Cabeço dos Mouros". A este castro andam associadas lendas de "mouras encantadas". Foi Comenda dos Templários, passando em 1311, a Comenda da Ordem de Cristo. Tem uma interessante capela, descrita nas Visitações da Ordem de Cristo (feitas de 1507 a 1510), chamada de igreja de Nossa Senhora da Vila Velha. "A igreja que os visitadores viram está hoje afastada da povoação, num cabeço chamado Vila Velha. Mantém os três portais manuelinos, muito simples e uma inscrição evocativa de uma reforma em 1501. Terá aí nascido Castelo Branco. Junto à capela há ainda restos da antiga habitação dos antigos comendadores e também restos de uma construção castreja. Pertenceu à vila de Bemposta, sendo mencionada no foral desta, de 1512. Em Castelo Branco tem solar a família Morais Pimentel. É um majestoso solar do século XVIII, que está, presentemente, a ser restaurado para aí ser instalado um hotel de luxo. Este solar encontra se junto da estrada. Esta freguesia tem anexas as povoações da Quinta das Quebradas e Estevais (de Mogadouro). "

Artigo extraido do site:http://concelhos.dodouro.com

Autor: António Pimenta de Castro Licenciado em História e Docente do Ensino Secundário na Escola Dr. Ramiro Salgado (Torre de Moncorvo), Mogadouro 2002
In iii volume do Dicionário dos mais ilustres Trasmontanos e Alto Durienses,coordenado por Barroso da Fonte, 656 páginas, Capa dura. Editora Cidade Berço, Apartado 108 4801-910 Guimarães - Tel/Fax: 253 412 319, e-mail:
ecb@mail.pt

04/09/2008

Minha terra

Acabei de chegar. Meus ouvidos estão surdos, e doloridos pelo ronco dos motores da viagem longa, de avião de Florianópolis SC- Brasil a Lisboa e de carro de Lisboa a Castelo Branco.

Parei o carro na porta da casa que era da minha mãe e sai para esticar as pernas. Espreguicei, alonguei os braços e pernas, estiquei o pescoço e deixei o corpo sentir o peso da gravidade sobre a coluna e as pernas novamente. Uma sensação de torpor foi desaparecendo aos poucos, e no lugar dela apareceu a dor e o cansaço de quase 24 horas de viajem.

Na cabeça um zumbido de uma cigarra e uma dor estridentes explodem juntos atordoando meus pensamentos. Imediatamente começa uma briga, nos meus ouvidos, com a falta de barulho. A ventoinha do motor parou e em simultâneo dei conta que a zoeira e o barulho interior se calaram também para escutar o silencio da aldeia. Não se ouve nada, ou antes, quase nada. Assustei-me com minha respiração ofegante, e meu coração disparado.

Quis vir direto e na estrada corri o quanto pude. Estava ansioso para chegar, e chegar rápido, me parecia ser a coisa mais sensata para fazer. Agora que cheguei, sinto que a pressa não era tanta e que na verdade nem tinha um motivo para correr.



Olho o relógio e vejo que passa das quatro da tarde. Está calor, muito calor, como sempre faz no mês de agosto. Um vento forte soprou da rua. Sinto o bafo quente do verão, envolver-me o corpo ainda frio, do ar condicionado do carro. Um gosto de terra enche-me a boca e os olhos com a poeira que o vento levantou. A rua estava vazia, não vi ninguém. Pensei, é um deserto, e gelei de novo com esta sensação de vazio.

Fechei a porta do carro que ainda estava aberta e ao vê-la fechar pensei, ainda dá para dar meia volta e sair correndo. Fiz calar estes pensamentos com o barulho do clic do sistema de alarme ao fechar as portas.

Deixei o carro parado na porta da casa e desci a rua indo para a praça. Vou para o café tomar uma sagres e afogar o gosto da viajem para acalmar as idéias. Cambaleei algumas vezes nos paralelos da rua pelas pernas adormecidas, mas deixei-me ir do jeito que elas quiseram sem forçar muito. Também não vi ninguém enquanto passava pelas ruas.

Entrei no café, tinha poucas pessoas naquela hora e estranhei de só encontrar rostos estranhos. Pensava já encontrar alguns dos conhecidos de outros tempos...

Todos olharam pra mim...

Cumprimentei tentando esconder o sotaque brasileiro de imigrante. Que ilusão. Pela cara deles vi que não tinha convencido. Pedi uma sagres e ofereci uma rodada para todos. Alguns aceitaram. O dono do café sorriu e sem perguntar nada, foi servindo nas mesas o que cada um estava a beber. Costume de imigrante, pensei, pagar uma rodada quando chega na terra. Se é que ainda se faz isso por aqui eu sorri ao pensar comigo mesmo.

O café era novo e o dono, apesar de não ser muito jovem, não me era familiar. Possivelmente era ainda criança quando fui para o Brasil e agora não o reconhecia. Comecei a conversa perguntando de quem era filho e fiquei surpreso por também não me reconhecer apesar de dizer que já tinha ouvido os velhos falarem de mim algumas vezes no café. Fiquei confuso, mas curioso com tudo aquilo pensava convencido que ainda lembravam de mim. O tempo não passou em mim e tudo era como fora um dia . Tinha a ilusão de encontrar os mesmos rostos dos meus vinte anos, iguais, sem marcas da idade e da vida.

Falamos da terra e das coisas de lá. Reclamaram da vida e das dificuldades. Do governo que não fazia nada, dos políticos que são uns cabrões, enfim novidades que são iguais por todo o mundo, afinal. Conhecia o disco de onde vinha também.

A conversa desenrolou, sem querer ao perguntar dos conhecidos,foram surgindo as novidades e senti que estavam a narrar para mim o obituário da aldeia dos últimos 10 anos. Narrou dos que morreram e para me ajudar a saber quem eram foi falando rua por rua. Na minha cabeça percorri os lugares, as casas, as portas, as caras e os rostos dos que moravam, os momentos os fatos vividos juntos. Arrepios seguidos me faziam ver que o tempo que não parou e que ele fez fechar uma a uma a maioria das casas da aldeia. E esse tempo impiedoso os levou a todos... Minha mãe e meu pai também. Esvaziou a aldeia e minhas lembranças também. Fui ficando nauseado e triste.

A sagres desceu amarga. Vi que todos no café tinham vindo para perto e estavam á minha volta reforçando os fatos, ajudando nas memórias. A roda foi aumentando aos poucos. Algumas rodadas de sagres depois, perguntaram de mim e há quanto tempo não vinha lá. Há quase dez que não venho disse, com voz desiludida e triste. Comentei da ausência dos que partiram e lamentei ter estado tanto tempo longe, mas que era a vida.

Rimos quando perguntaram das brasileiras, das novelas, do futebol, do carnaval. Contei que lá no Brasil as anedotas dos alentejanos são contadas como sendo dos portugueses. Gritaram, filhos da p.... esses Bazucas e fizeram juras de vingança. Se não fosse o Filipão para salvar a terra desses cabrões, mas fazer o que nessa terra que só faz trazer as novelas...

Senti que estava a ficar alto da cerveja e pedi a conta. Paguei e sai para a praça.
Tinha escurecido.

Voltei em passos lentos para o carro. Subi a rua devagar quase parando. Os meus pensamentos estavam confusos pelas sagres que tomei mas sobretudo pela sensação de perda e de ausência dos sentimentos que vieram junto com as novidades.

Entrei no carro e fui para o tanque das eiras.

Parei o carro e sai. Sentei na parede do tanque e fiquei a olhar as estrelas.
Senti-me mais tranqüilo ao olhar o céu. Eram as mesmas estrelas que eu conhecia desde que nasci. Pelo menos elas ainda estavam todas lá, e fiquei a rir com a ilusão de piscarem para mim. Senti-me em casa, deste lado do mundo elas realmente eram familiares.
Fiquei o resto da noite deitado na erva seca das eiras a olhar o céu estrelado e ouvindo o barulho dos carros que passavam de tempos em tempos na estrada.
Agradeci a Deus, por ter nascido ali e ser quem sou. Pensei em todos os que conheci, que lá viveram e no respeito e admiração que sinto por todos. Afinal nada mudou, em meus pensamentos eles estariam sempre vivos e presentes comigo e Castelo Branco será sempre meu lugar. Meu Deus, como eu amo a minha terra!