Revisitando Castelo Branco

27/10/2009

Convite aos Albicastrenses!

Autor: Luis Pardal

 

O Portal castelobrancomogadouro.com é um portal originado do carinho amor e  paixão a Castelo Branco.   Será construído por muitas mãos e estará em constante evolução.  Não expressa opinião oficial, partidária, ou religiosa.

Apenas expressa o sentimento dos que estão por detrás dos artigos e contos:  o amor á nossa terra. Vamos reunir nestas paginas, a história, as tradições, o patrimônio e a trajetória de alguns personagens e personalidades.

Os links serão incluídos aos poucos, “vamos arar as chãs”, conforme as estações e o tempo permitirem e com a participação de todos. As novidades e os assuntos vão surgir, crescer e, ficarão maduros, no tempo certo.

Os limites da aldeia de Castelo Branco, inspiradora e fonte deste portal, serão expandidos para fora das fronteiras geográficas, o mundo é a fronteira. Os filhos da terra, apesar de viverem dispersos, pelos quatro “cantos” deste mundo grande de Deus, estão presentes em seus corações, nos caminhos, ruas, hortas, casas e lembranças,  deste terra que lhes deu o berço.

Convido para que participe também. Faça  contato, mande fotos, deixe seus recados no livro de visitas, participe dos fóruns.  Junte ou reencontre amigos ou pessoas queridas.

Divulgue o site! Afinal esta é a nossa  aldeia virtual de Castelo Branco.

Um forte abraço albicastrense!!!

Luis Pardal

VISITEM O NOVO PORTAL:

Untitled-1_47www.castelobrancomogadouro.com

25/10/2009

Minha homenagem

Autor: Lidia Susana Tavares

 

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Tempos atrás prometi enviar uma foto de minha avó para o blog e na ocasião não o fiz pelo propósito de escolher a mais bonita das fotos.

Ela era a mulher mais antiga da aldeia. Infelizmente a “partida” dela fez com que a foto não chegasse em tempo mas senti-me na obrigação.

Estava aqui sentada no sofá com uma caneca de chá quentinho, quando os meus pensamentos voaram até umas tardes de anos anteriores, em que do mesmo modo segurava a chávena de café quentinho! -"Vamos tomar um cafezinho juntas?" Sabia tão bem, aquele nosso café. Era único sem comparação!

Partiu uma grande mulher ! E quero dedicar uma homenagem a minha avó que no dia 17 de outubro de 2009 partiu para junto de Deus, e deixou a todos os familiares e amigos mais pobres...

Tinha 96 aninhos, com uma energia única, boa disposição e amável para todos! Uma velhinha "vaidosa", de cabelos negros educada e com um sorriso nos lábios, encantou até nos últimos momentos de sua vida terrestre! Nasceu em 13-06-1913 e partiu em 17/10/2009

Uma mulher lutadora, sempre!

MAE de 4 filhos( Artur Tavares; Albino Tavares; Maria Eugénia Tavares; Orlete Tavares), 7 netos e 5 bisnetos. A avozinha velhinha como era conhecida pelos bisnetos, foi sempre muito mimada por parte de todos! Especial... não só por ser quem era, mas por ter os princípios que tinha, e alem disso admirável por seus dotes de culinária, padaria, e crochê.

SABEMOS QUE NAO TE PODEREMOS TOCAR JAMAIS, MAS ESTAMOS NA CERTEZA QUE FOSTE EM PAZ...ESTARÁS PARA SEMPRE PRESENTE NAS NOSSAS CONVERSAS E NOS NOSSOS CORAÇOES!

24/10/2009

Ser Albicastrense

Autor: Isaias Cordeiro

 

Agradecendo 0 convite que 0 Luis fez a propósito do PORTALVIRTUAL DE CASTELO BRANCO e que aceitei de bom grado e a bem da comunidade Albicastrenses, e fundamental e de bom senso que justifique as razões da minha aceitação.

Ser Albicastrense, gostar desta terra muito embora ausente muitos anos, a ela regressar após O casamento, por circunstancias um pouco inesperadas e ainda mais do que tudo, trazer como minha esposa uma Albicastrense a quem dedico todo 0 amor por me dar dois filhos também eles Albicastrenses a quem muitos amigos dedicam amizade.

Como e obvio, e quase sem querer mas por gosto e espírito solidário com a comunidade, fui arrastado no bom sentido para este desafio que espero não desiludir. Quando se relatam factos verídicos por muitos bem conhecidos, e também repartir com todos os intervenientes uma sensação de bem estar, de conhecimento e felicidade por ter acontecido.

Gosto de falar de acontecimentos, de experiência de vida da minha infância, das dificuldades, dos obstáculos, dos trabalhos que passei e daquilo que não consegui muito embora lutasse para a sua concretização. Mesmo assim dou graças a Deus pelo que me deu !

Muitos rascunhos guardei, escritos em momentos menos bons da minha vida sobretudo durante a Guerra Colonial em Moçambique alguns dos quais passados com nossos conterrâneos civis e militares. Sobre estes vou brevemente relatar passagens sobretudo daqueles que ainda se encontram em África como missionários.

A seu tempo vou enumerar as gentes que encontrei nesse ultra mar profundo] quer na guerra quer na vida civil e a eles dedicarei uma atenção especial. Conterrâneos, alguns ja falecidos mas muitos ainda vivos os quais sempre me dedicaram um carinho que la longe tem um sabor sem igual.

Mas nao pensemos que so escrevi relatos de coisas mas. Tenho também muitos de coisa boas passados com conterrâneos, familiares, nativos etc. ...

Brevemente e se para isso houver um cantinho para pequenos textos dedicarei todas as Iinhas que escrever a COMUNIDADE Albicastrense espalhada pelo mundo e se me permitirem extensível a COMUNIDADE de todo o concelho de Mogadouro.

Saudações albicastrenses
Isaias Cordeiro

 

Aproveitem e visitem o site do portal:

www.castelobrancomogadouro.com

22/10/2009

Memórias do passado, ou lenda da fonte

Autor: Arlindo Parreira 

Ás vezes ao olhar para o passado parece-nos que tudo sempre foi do jeito que é agora. Somos levados a esquecer que nos últimos anos as coisas mudaram muito. A geração atual desconhece os trabalhos, canseiras, e o valor que as coisas tinham para nós em outros tempos. Coisas simples como abrir a torneia de casa e sair água, era há cinquenta anos, algo impensável pelo menos para quem vivia nos anos 60, em Castelo Branco. Concordo que eram outros tempos, tempos difíceis, mas cheios de detalhes e emoções e que tinham o seu que de romantismo.

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Por exemplo, a fonte velha do vale para quem viveu nesta época, é uma marca disso.

E como tudo na vida ela também trás boas e algumas más recordações. Nem tudo são flores, as rosas também tem espinhos não é mesmo?

DSC01396Mas é sobre ela que lhes quero falar a respeito. A água de lá era e ainda é a água melhor para se beber da aldeia, mesmo depois de chegar a água encanada. Enganados pela proximidade do ribeiro, podemos pensar que ela  nasce dele, mas não é assim. A DSC01399nascente sai de um veio que vem dos lados da escola. A água brota filtrada do meio das fragas, límpida e cristalina. Melhor que a da solheira, e que a do carvalhal em sabor e gosto, digo até que é a melhor água da terra.

Quando chegavam as colheitas, tinha-se que levantar cedo para fugir do calor. Vínhamos a casa almoçar e tirar a sesta. Hora do corpo descansar um pouco enquanto diminuía a força do sol do meio dia. Era nessa época que a água fresca da fonte ficava mais  apreciada e valorizada, todos lá iam para apanhar da água refrescante e saborosa que matava a sede e renovava as forças.

No verão a rapaziada fazia limpeza. Tirava a água com um  motor, lavava as paredes com  uma escova dura, varria todo o barro e lodo do fundo. Tudo limpo, muito bem limpo, para se poder beber. Um autêntico ritual levado a sério e que acontecia todos os anos com o maior empenho, entusiasmo, e digo também, exibição.

Foi o ponto de encontro mais requisitado e frequentado pela mocidade da aldeia. Acreditem, ali perto da ponte, era o melhor lugar para se estar em certas horas do dia. Muitos casamentos começaram por ali. Sim, tem história essa nossa fonte e o vale DSC01400também. Sei que já começaram a lembrar... Sim, isso mesmo, para os rapazes e raparigas solteiros, era ali que tinham a oportunidade de estar por perto para trocar uns olhares, uma graça, um sorriso, um encanto e porque não, para começarem um grande amor. Enquanto esperávamos por “elas” fazíamos apostas. Autentico torneio disputado por todos os rapazes.

Como sabem dentro da fonte tem uma pintura com um santo desenhado. Este era o desafio. Quem fosse capaz de beijar o santo da fonte ganhava o direito de encher o cântaro da primeira rapariga e de ajudar a colocá-lo ao quadril dela. Era uma oportunidade única, lembro bem como ficava bonito de ver... As moças com a coluna inclinada para o lado para manter o cântaro DSC01404direito, e os rapazes felizes pela dupla vitória, de vencerem os outros e de poderem ajudar a moça a erguer o cântaro. Eram momentos muito especiais, de pequenas subtilezas, olhares, emoções. Tão simples para os dias de hoje, mas com tanto sentido para aqueles dias.

Não pensem que era fácil ganhar o desafio. O grau de dificuldade e de risco era grande e só os que tinham maior habilidade venciam. Era preciso muito treino e DSC01401coordenação motora. O santo fica na parede do fundo da fonte do lado oposto á porta de entrada. Ladeando o teto tem uma alça. Era por ali que se tinha que chegar ao santo. O corpo inteiro suspenso e fixo pela força de pés e mãos contra as paredes laterais da fonte, virados de barriga para baixo movendo as duas mãos e os dois pés em sincronia até chegar ao fundo. Chegando lá tinha que se soltar uma das mãos, para conseguir torcer o pescoço e a cabeça, e dar o beijo no santo. Sim era difícil mesmo! Até se conseguir dar o primeiro beijo no santo e ganhar a oportunidade de por o cântaro na cintura das moças, eram muitos tombos na água. Mas, a recompensa valia qualquer sacrifício e treino, Castelo Branco teve sempre as raparigas mais bonitas.

Mas eu falei que tinha más recordações também. A fonte não tinha nenhuma proteção era muito perigosa. A entrada ficava completamente aberta e teve vários casos de pessoas que caíram lá dentro, das que eu me recordo a minha cunhada Maria Elisa foi uma.

Das histórias mais dramáticas que lá aconteceram e que na ocasião provocou maior comoção a todos da aldeia foi a de um menino de cinco anos que lá caiu e se afogou. Vou lhes contar como foi. Sabem que em nossa aldeia tínhamos o costume do toque das trindades. O toque dos sinos era o sinal para os mais novos voltarem. As brincadeiras perto do fim do dia eram, quase sempre, estrategicamente em lugares perto de casa. Assim ao primeiro sinal a garotada saia a correr para chegar logo perto dos pais e pedir a benção. As mães, com os filhos á volta da mesa, davam graças pela ceia posta.

Naquele dia foi assim também. O sino tocou as trindades, a algazarra das crianças e das brincadeiras acabou aos poucos. A aldeia recolhia ao silencio da noite e do aconchego no lar.

A mãe esperou o filho e ao ver que não chegava para a benção, começou a se desesperar. Chamou os vizinhos. Tocaram o sino a rebate e o povo todo veio para acudir. Começaram a procurar e nada de encontrarem o menino. Lampiões na mão, as almas em alvoroço, todos aflitos e angustiados na procura pelas ruas e cantos da aldeia, a chamar o nome do rapaz, mas nada. Na noite tensa só se ouve o murmúrio das vozes aflitas e os gritos de uma mãe desesperada, com o pressentimento de que algo terrível pudesse ter acontecido.

A certa altura a mãe gritou: - Está na fonte do vale. Corremos todos para lá. O Belmiro Cordeiro mais rápido foi direto ao forno do Dr. Virgilio e saiu de lá com o ranhadouro do forno para ajudar a procurar na fonte. Começou a procurar o fundo. A luz dos lampiões era pouca e deixava tudo mais e tenso, as chamas a balançar mostravam rostos nervosos e angustiados. De repente sente que tocou algo diferente do chão duro e grita: Está aqui! Os momentos seguintes foram indescritíveis, choro, comoção geral e uma tristeza imensa no coração de todos os presentes. O menino era filho da Sra. Inácia e do Senhor José Maria do Correio. Chamavam-no assim porque era ele que ia á estação de Bruçó buscar as cartas e o correio da aldeia. Depois disso imigraram há muitos anos para Lisboa.

cantaro de Castelo Branco MogadouroApesar de bem conservada e restaurada a fonte ficou esquecida por todos da aldeia.

Os rapazes e as raparigas já lá não vão agora, nem sabem mais como se encaixa um cântaro á cintura e que graça isso tem.

Mas a culpa é dos cântaros quero crer.  Eram de barro quebravam fácil.

Sinal dos tempos, iriam todos!

Ai que vontade de uma jarra daquela água...

Que sede que deu!!!

03/10/2009

Operação “Raposa Rabuda”

Autor: José  Fernando Rodrigues Pimentel Sanches
FLAGRANTES DA VIDA REAL
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Corria o mês de Dezembro de 1977.
Domingo, madrugada, todos reunidos em casa do “ Ti Firmino Ingueira”, de volta de uns bons rachos a arder na lareira, e alguns degustando-se com um pouco de aguardente. Talvez por ser o mais novo, o sangue fervilhava mais nas veias. Comecei a “puxar” por eles, e lá decidimos sair.
Ainda não tínhamos andado 500 metros, desatou a chover. Abrigamo-nos debaixo de uns carrascos. Veio uma aberta e lá continuamos. Perto da Capela da Nossa Senhora da Vila Velha, parece que alguém estava do nosso lado, o Sr. António “Antoninho” mata o 1º do dia - um coelho. Não demorou muito tempo que os cães levantassem outro coelho, que eu matei, e pouco tempo depois o Guilherme do Souto matou outro.
Mas nesse dia os nossos objectivos eram outros: Raposas - E foi junto à capela de Nª Senhora, debaixo do carrasco que arquitectamos os planos para a “operação raposa”, que consistia no seguinte:
raposa na ribeira de cavalos Havia uns buracos num lameiro da Ribeira de Cavalos e eram para lá o primeiro ataque. Eu e o Ti Firmino, íamos na frente, ocupando posições estratégicas, vindo depois o restante exército, composto pelos bravos combatentes - “Ti Chico Moleiro”, Guilherme do Souto e Ti António Antoninho. (Diga-se que cumpriram plenamente a missão que lhes era confiada)
O Ti Firmino com um tiro certeiro matou uma raposa, terminando a investida naquele local.
O próximo alvo era o “Escoval Negral” do Sr. Figueira, nas costas da Soalheira.
Como equipa que está a ganhar não se mexe, a táctica era precisamente a mesma. Dois tomam posição e depois o resto (3) da armada ataca. Mas não sem antes, numa borda de um lameiro, levantado pela “Lisboa” (cadela do Ti Chico) matei mais um coelho.
Voltou a chover. Tivemos que nos enfiar debaixo de umas palas de pedras, e aguardar. Entretanto fizeram-se horas para a bucha e atacamos também.
Já  com os estômagos aconchegados, rumamos ao centro das operações. Já  posicionados aguardamos em silêncio a chegada da “infantaria”.
De repente ouço um tiro do lado de onde estava o Ti Firmino, mas não soube mais nada. Meio minuto depois uma raposa. Acerto-lhe com o 1º tiro e matei-a com o 2º tiro. Vou a correr para a apanhar e quando cheguei, a mesma estava “cravada” no focinho do meu cão “Skip”, uma pedrada na cabeça e lá largou.
Carreguei-a para o meu posto, onde já tinha a 1ª pendurada.
Nisto aparece o Ti Firmino com outra - 3 raposas, no total.
Bem, é aqui que reúne o “estado maior” e chega à conclusão, que teríamos que regressar ao quartel (casa) pois já era muito peso para carregar às costas.
Entramos na aldeia pela porta principal, mostrando os troféus.
Mais tarde vendemos as 3 peles ao Sr. Manuel Pereira, dono da casa “Tozito” em Mogadouro, tocaram 800$00 a cada um. Naquele tempo era muito dinheiro.
E foi assim neste dia a nossa ida à guerra.
Quero ainda prestar uma singela homenagem a estes amigos “António Gonçalves, Guilherme Fernandes, Francisco Freitas e Firmino Fernandes”, por terem acolhido este jovem, na altura de 18 anos, no seu grupo de caça, tratando-me tão bem.
Obrigado a todos
José  Fernando Rodrigues Pimentel Sanches
“Uma forma diferente de revisitar Castelo Branco”