Revisitando Castelo Branco

28/12/2010

Melões sem guarda

Autor: Arlindo Parreira

Mais uma crônica do Regedor de Castelo Branco (o último).

A pedido de alguns amigos lá vai mais um acontecimento da juventude de Castelo Branco

Estávamos nos anos 1967 nessa época éramos muitos rapazes na aldeia, mas como em tudo, sempre existe um líder, que encabeça as iniciativas e na nossa terra, sempre era escolhido a dedo pela rapaziada. O papel do líder era selecionar os melhores e botar as culpas aos mais fracos quando alguma coisa corria mal, mas ao que me lembre nunca tivemos falhas. Esse líder era eu!

Sempre fui o melhor, e me orgulho muito disso, mesmo não tendo medalhas. Isto é a pura verdade, tanto que mais tarde e já com mais experiência e vivencia de minha liderança, fui nomeado e eleito Regedor, com mais de 100% dos votos.

Isto porem já é do conhecimento de todos, os que não sabem basta ler minhas crônicas aqui, no blog. Sei que sabem portanto já é do vosso conhecimento.

Quem me conhece sabe o meu sentido de responsabilidade, nunca mentindo aos que em mim confiaram. Apresentação feita ai vem o relato.

Estávamos mais ou menos no ano de 1967, por ai. Falava-se a boca cheia que tinha um meloal, ou uma seara de melões lá para ribeira do moinho do senhor Paulo Moleiro. Estávamos mais ou menos no ano de 1967, por ai. Falava-se a boca cheia que tinha um meloal, ou uma seara de melões lá para ribeira do moinho do senhor Paulo Moleiro.

Era verdade, ali estava aos olhos de quem queria ver e pior de tudo perto do caminho. Um meloal como nunca antes fora visto em Castelo Branco! Que grande tentação…

Ficava situado ao passar a ribeira quem vai para a capela de.NSra. da Vila Velha. Do lado direito tinha a Horta Senhor, Avelino Bernardo, do lado esquerdo a Horta do Senhor Acácio Costa, que na época tinha uma nora de puxar água. Mais adiante tem um terreno que hoje pertence  ao Armando Fernandes. Era aqui mesmo que estava o tal famoso e cobiçado meloal.

Entre a rapaziada muitos foram os que apresentaram planos para tentar saborear os melões. Mas   ficaram só na vontade na maioria das vezes não tinham estratégia nem fundamento e todos deram com as burras na água. Isto deixou a malta cada vez mais animada, quanto maior o desafio maiores tem que ser os preparativos

O local estava vigiado de dia e noite pela família. Ninguém arredava pé desta tarefa de ficar sentinela aos melões. Para tanto comiam e dormiam armados de espingarda e cão de guarda perto de tão cobiçados frutos.
Tínhamos que bolar um plano, chamei os mais velhos e rápido chegamos a um entendimento. Que foi logo aceite por todos. A hora da rendição era ao anoitecer. 

O pai levava a ceia, em uma cesta, ao guarda da noite. Todos os dias á mesma hora ele passava em frente da tasca do nosso amigo Tonho Antoninho, que por sinal, era um bom conselheiro para este tipo de trabalho.

Todos a espreita do dia e hora combinados, até que a oportunidade apareceu. Ao passar em frente da tasca, dois dos meus homens pegaram á porrada e esbracejando e falando que a guerra era por causa das cartas.

Ora ele passando, foi logo ao encalço dos dois rapazes que estavam a pancada, para os apartar. Assim que chegou perto deles mas, sem que parecesse algo combinado, ou sem dificuldade, um dele desistiu da pancada e foi embora fazendo ameaças:

- Isto não vai ficar assim.
O outro que ficou, falou com um entusiasmo convincente:
- Se não fosse o Senhor eu matava-o! Ia ser uma granda desgraça… E em tom de retribuição, ainda a espumar de raiva volta a falar:  - Venha aqui beber um copo que eu faço questão de pagar uma rodada para quem me livrou de boas.   Estou-lhe muito grato! Beba mais…

Estava tudo a correr como tínhamos planeado… Porem,  a certa altura, ele resolveu se lembrar da cesta.

Disse: - A minha cesta que estava aqui?  Dissemos para o tranquilizar:

- Olhe… A sua mulher passou por aqui para ir á fonte e ao ver a certa disse que a ia levar ao seu filho lá na horta;

Ele tranquilo e confiante respondeu aliviado:
- Melhor assim…
- Vou-me  para casa! E voltou pela rua a despedir-se dos que ali estavam.

Lá na horta, o filho, farto de esperar e com fome, resolveu abandonar o posto de trabalho e ir a procura do pai para saber do teria acontecido.
Mal passou a ribeira em direção a casa…

Nós que já estavam por perto, profissionais do gamanço, equipados com alguns sacos largos, debaixo dos braços, tínhamos que agir com precisão e presteza.
Não se esqueçam que lá também  tinha um cão! Mas este, foi fácil de domar, usando técnicas que não vou contar aqui. Ao nos ver por perto, correu sem ladrar e, só parou para olhar pra trás depois da fonte do vale.

arma dos melões

Durante a operação,  enquanto um fazia a colheita, outro com uma faca de mato tirava o gatilho  da arma. que estava escondida na cabana debaixo da palha que servia de colchão.

Por segurança e para evitar algum acidente, foi enterrada de canos para baixo. E em sinal  de terreno conquistado pusemos uma metade de um melão na coronha da arma.

Ao passar a ribeira pensando que ninguém tinha visto o trabalho, sai o senhor Avelino Bernardo,do cabanal do moinho. Com um sorriso irônico, chegou perto de nós para nos dar os parabéns.

E disse: - Vi tudo desde o começo… Realmente foi um trabalho bem feito. Não sabia eu da vossa habilidade. Como foi que conseguistes por o guarda de lá para fora?

Isso é um assunto para amanhã… Agora senhor Avelino é hora de por estes melões a salvo em lugar seguro.

- Bom trabalho, sempre quero ver a cara do dono amanhã… Boa idéia vou deixar que faça perguntas a ver se desconfia de alguém. 

Ficamos a saber que por respeito e descrição ele nunca falou em nada para ninguém.

Arlindo Parreira

26/12/2010

O último presente do menino Jesus.

Autor: Luis Pardal
 
Em uma noite de Natal há alguns anos atrás, eu prometi a mim mesmo,que iria descobrir como, o menino Jesus fazia para deixar os presentes, nas botas que religiosamente, ao voltar da missa do galo, eu punha perto da lareira antes de ir dormir. Em uma noite de Natal há alguns anos atrás, eu prometi a mim mesmo,que iria descobrir como, o menino Jesus fazia para deixar os presentes, nas botas que religiosamente, ao voltar da missa do galo, eu punha perto da lareira antes de ir dormir. Desde o ultimo Natal andava intrigado com e tinha jurado, a façanha, de que deste ano não passava, sem descobrir de que maneira ele vinha e mais importante que isso, por onde ele entrava para deixar os presentes, na lareira da minha casa. Determinado e muito intrigado fiz planos e montei uma estratégia infalível.
Todo este interesse começou no soto da Tia Variza, dias antes do ultimo natal, em uma conversa muito animada com ela. Os mais novos talvez não lembrem que ficava na praça.
Perto do Natal era um sonho entrar lá. Ela e marido, o Sr Eloi, enchiam as prateleiras de brinquedos, e o mais curioso é que por algum motivo mágico de um dia para o outro, alguns brinquedos desapareciam. No dia seguinte não estavam mais lá e eu, para não perder nada de vista, diariamente monitorava o sumiço cada vez mais intrigado.
kombi Eles tinham uma Volkswagen azul que até hoje lembro. Todo ano, pelo mês de novembro, saiam para ir ao Porto e a outras cidades fazer compras e, quando voltavam, a camionete estava abarrotada de caixas e embrulhos. O soto brilhava cheio de novidades e de fantasia. Eram pisca-piscas, arvores de natal, fitas, bolas coloridas, e muitos, muitos brinquedos. Eu ficava lá de olhos esbugalhados o tempo que eu podia. Minha mãe e meu pai tinham que ir lá me buscar ou mandar alguma das minhas irmãs para me fazer voltar ao mundo real. Mas não era tarefa fácil, era preciso me arrastar à força ou pendurado pelas orelhas. Esta segunda opção era a mais bem sucedida e a preferida das manas.
Os dias que antecediam o Natal, eram dias muito animados. Todos os meus amigos que já andavam na escola, tinham alguns dias de férias, perto do natal. Sobrava mais gente para pintar e bordar. E como quem tem vagar faz colheres, nós pintávamos o sete de muitas maneiras. Os rapazes maiores, nas noites estreladas, iam ao tanque da praça e com uma caldeira ou balde jogavam água para fazer uma trilha que no dia seguinte amanhecia solidificada pela geada. Era a nossa pista de patinação. Ficávamos em fila para deslizar. Depois com o embalo de uma corrida rápida, escorregávamos de ponta a ponta. Não preciso dizer que entre um escorregão e outro sempre aconteciam pequenos acidentes e brigas de garotos. Brincadeira não demorava muito tempo, conforme o dia avançava o gelo derretia e nós também tempo depois, engaranhados, pelo frio, fazíamos uma fogueira, com lenha gamada as escondidas das rilhas dos vizinhos ou íamos para a lareira de algum para nos aquecermos ao lume.
O inverno trazia algumas rotinas interessantes. Naquela época a maioria das casas ainda não tinham água canalizada e os marcos da praça, da Igreja, do vale e da rua das flores eram o ponto de encontro e de abastecimento. Uma rotina que fazia parte dos afazeres das mulheres albicastrenses ”ir à água” algumas tinham que ir varias vezes ao dia. Pois para lavar a cara de manhã, fazer a comida, lavar a louça, era preciso ir ao marco. Por causa da geada em muitos dias era preciso aquecer as torneiras com um fachuqueiro de palha para descongelar e poderem encher as cântaras.
Nas semanas antes do natal os mordomos faziam o presépio. A cada ano uma novidade diferente o deixava mais esperado na curiosidade de todos. Cada comissão de festas queria fazer melhor que a anterior. O resultado final, apesar da saudável competição, nem sempre era dos mais bonitos. Na tentativa de superar os anteriores, por vezes exageravam nos tons e nas proporções da arvore, ou da gruta e o presépio, perdia a noção da escala das imagens e, assumia desproporções simpaticamente bizarras. Mas meus olhos de menino não viam desta forma. Naqueles dias o importante era que iam a fazer o presépio e eu queria logo ver o menino Jesus Chegar.
Todos os anos eu e os demais comparsas fazíamos plantão na porta lateral da igreja para acompanhar o movimento dos mordomos e não perdermos nada de vista. Apesar da insistência não nos deixavam entrar de jeito nenhum e lá ficávamos eternos assistentes, a desejar crescer logo, para também podermos ser mordomos e fazer o presépio.
Em um desses anos fizemos uma tentativa no mínimo criativa e cheia de engenho infantil. Pensamos em nos esconder dentro da igreja para assistir a tudo. E se pensamos melhor o fizemos. Um plano simples porem infalível, ficaríamos escondidos no coreto da igreja. Foram horas a fio trancados para poder acompanhar tudo em segredo. Para os que não sabem, esta parte da Igreja fica no fundo e só tem acesso por duas escadarias localizadas uma de cada lado da porta principal que fica ao fundo. Na pratica é como se fosse um primeiro andar, uma plataforma acima do meio da igreja para baixo bem acima da parte onde ficam as mulheres na igreja. Na nossa terra os homens sentam na frente perto do altar mor e do padre, e as mulheres ao fundo. Sempre achei engraçada esta divisão da localização das pessoas por sexo dentro da Igreja. A verdade é que sempre foi assim e até aos dias de hoje ainda tem alguns dos antigos e dos tradicionais que mantém a tradição. O coreto era também o lugar preferido pelos homens mais simples visto que lhes permitia estar na missa sem notarem as roupas mais humildes que usavam.
Entramos na Igreja muitas horas antes dos mordomos chegarem. Não foi tarefa fácil, algumas devotas mulheres, ficaram na Igreja a rezar depois da missa. Nossa tropa na tentativa de ver se elas já tinham saído entrou algumas vezes e disfarçadamente ficávamos a rezar em frente ao altar do senhor dos passos. As mulheres foram ficando alarmadas com tanta devoção infantil, mas, como de repente paramos de aparecer, logo que rezaram foram para suas casas que já era quase hora de fazer o almoço aos maridos e filhos. Estranharam as mães que não aparecemos para almoçar. Já de campana Quando preparados deitados para esperar os mordomos em silencio, ouvimos ao longe o grito certeiro da mãe de um de nós: ó fulano...
Quem nasceu na aldeia sabe bem o poder de comunicação e de alcance dos chamados maternos. Devido à insistência e ao coro de mães que aumentava em numero e nomes chamados no pregão, resolvemos levantar campana e ir almoçar, antes que elas tocassem o sino a rebate por pressentir que algo de terrível pudesse ter nos acontecido.
Voltamos depois do almoço. Em casa todos estranharam a presa com que comi as nabiças com batatas do almoço. Acredito que não foi diferente com os demais. Voltamos rápido, tropa pontual quando em ação. Felizmente a devoção das nossas mulheres vem sempre, depois da obrigação de servir o almoço e matar a fome dos da casa. Com o caminho livre, entramos na igreja. Por sorte só os santos lá estavam e eles não costumam falar com ninguém além de Deus.
Permanecemos imóveis deitados no coreto á espera dos mordomos para ver montar o presépio. Mas quem disse que garotos ficam quietos... Em menos de 15 minutos já nos tinham descoberto e em segundos nos puseram para fora. Já na rua desatamos a brigar uns com os outros para encontrar achar o culpado por nos descobrirem. Mais uma vez á porta a esperar. Pelo menos assim, podíamos espreitar e ver o que acontecia lá dentro sempre que algum mordomo entrava ou saia. Alem do presépio um delicioso perfume de Natal rico de aromas e tons decorava a igreja. Entravam canastras cheias de musgo em camadas, tapetes verdes felpudos com forte cheiro de terra molhada, um cipreste ou pinho ao bater os galhos na porta para entrar espalhava um rastro de resina. uma mistura doce amadeirada rica de sensações chegava da carpintaria do Ti António Bernardo em sacos de estopa cheios de lascas de madeira de olmo, freixo, cerejeira e castanheiro.
Finalmente terminado o presépio podíamos entrar e dar uma olhada. Uma roda irrequieta e barulhenta formava um cordão de espectadores admirados com as novidades. Por segundos o reinava o silencio. Era como se cada um quisesse ver tudo com os olhos antes de abrir a boca para falar para o outro o que tinha mais interesse. Uma gruta ao centro, a burrica a vaca e a manjedoura vazia ao fundo, na Frente a Virgem Maria e São Jose. Um cenário de montes imitava a paisagem com musgo coberto de farinha em alguns lugares. A serragem e lascas de madeira faziam os caminhos parecerem reais. Enfileirados nos montes os pastores com ovelhas virados para a gruta chegavam para o nascimento do menino Jesus que iria nascer pontualmente no fim da missa do galo.
Depois do presépio montado os dias para o natal passavam ligeiros e era fácil ver que andávamos mais comportados. Uma preocupação tomava conta de nós. Uma ameaça velada e repetida vezes sem fim pelos pais e avós. Será que te portaste bem este ano? Olha lá, que não sei não, se o menino Jesus te vai dar presentes. Por falta de vergonha ou medo o certo é que virávamos santos filhos e netos, obedientes pelo menos por alguns dias.
Finalmente na missa do galo era a hora de pedir com mais força os presentes. Com medo e devoção interesseira, isto é, para garantir e não correr risco de ficar sem nenhum presente, punha no cestinho do menino Jesus uma ou duas moedas. Era muito pratica esta devoção infantil e as moeram eram para compensar alguma arte aprontada ao longo do ano e que ainda estivesse por reparar.
Como tinha um plano infalível neste ano passei a missa inquieto. Voltei logo para a cama logo depois de por a bota na lareira e nem quis conversar nem aceitei as provocações que meu pai e irmãs faziam. Queria logo ir dormir. Mas fiquei quieto na cama a espera que todos dormissem e que se fizesse silencio por toda a casa. A uma certa altura senti passos vindo em minha direção. Fechei os olhos e mudei a respiração para convencer que estava realmente a dormir. Meus pais chegaram perto de minha cama, vieram se certificar se eu realmente adormeci, antes de irem na lareira. Sorriram confiantes um para o outro tranqüilos por verem que estava quieto no sono dos justos. Pelo som dos passos no soalho em direção a cozinha, soube que os dois já tinham saído do quarto. E pensei comigo mesmo, se eles vão para a cozinha para ver o menino Jesus eu também posso lá ir a esperar com eles. Levantei e sai do quarto sem fazer barulho. Com os pés calçados com uma meias de lã de ovelha feitas por minha mãe, era impossível escutar o suave roçar de meus pés na taboas frias.
Ao chegar na cozinha, uma cena estranha. Perto das minha botas os meus estavam debruçados com um volume nas mãos. Havia pouca luz, mas ainda assim consegui ver pelo brilho das brasas nas toras ao lume que era uma camionete volskwagem, mesmo sem poder ver nitidamente pois estava escuro e não poderia ver as cores dela eu sabia que era verde e branca, a mesma que eu tinha visto no soto por alguns dias e que também sumiu como os outros presentes. Ao olhar o presente ali na mão deles entendi finalmente a frase que a Tia Variza me tinha dito dias antes: - Luis, o teu menino Jesus já passou aqui para comprar o teu presente.
Voltei para a cama sem que me vissem. No dia seguinte acordei muito mais tarde já era perto da hora do almoço. Não estava feliz e minha boca estava seca e com um gosto ruim. Cheguei calado na cozinha. Ao ver o brinquedo que o menino Jesus me deu, não fiz a mesma festa com que sempre o recebia ninguém entendeu ou percebeu o que aconteceu, nem o desinteresse com o novo presente. Mas, minha mãe imediatamente viu que algo mudara dentro de mim. As mães sempre sabem dessas coisas que ficam espelhadas na cara dos filhos. Felizmente só elas as percebem e entendem.
Finalmente eu sabia que não era o menino Jesus que vinha trazer os brinquedos. Nunca mais o Natal teve o mesmo significado.
Passaram-se os anos. Tenho dois filhos, que agora estão com 16 e 14 anos. Enquanto cresciam e durante os primeiros Natais, pude entender e ver na expressão deles, a mesma magia que o Natal tinha para mim quando criança. Finalmente entendi que mesmo sem o menino Jesus ou Papai Noel, o Natal, tem um sentido muito especial. E que esta magia e simbologia devem ser mantidas e preservadas no coração de nossos filhos. Afinal é na inocência das crianças que o mundo mantém a sua mais pura e intima forma de felicidade e beleza.
Feliz Natal





















25/12/2010

Fogueira do Galo 2010

Autor: Luis Pardal

A Fogueira do Galo de Castelo Branco, Mogadouro

Autor: Luis Pardal

Algumas tradições são tão antigas, que já se apagaram na memória dos povos os significados, motivos e gestos, dos rituais que as motivaram. Nelas resta pouco da origem, são apenas fagulhas que de longe lembram o tema primordial da vida de nossos antepassados.

Uma que felizmente permanece viva é a Fogueira do Galo. Esquecida na maioria das aldeias é celebrada e mantida, até hoje, em nossa terra, graças ao empenho, garra e vontade, dos rapazes solteiros e de alguns homens casados.

Para alguns esta celebração remonta na antiguidade e chega até nós, dos rituais pagãos dos povos que povoaram o Hemisfério Norte. Pode ser que sejam apenas lendas... Alguns historiadores afirmam que o motivo tem a ver com a diminuição dos dias que ocorre no solstício de inverno. Ao ver que os dias ficavam menores e temerosos de que o sol se extinguisse completamente, os homens das aldeias reuniam-se, para fazer grandes fogueiras e chamar a luz solar através, da labareda e do calor, que subia aos céus. “Esta crença ancestral levou à adopção do costume de acender fogueiras para evocar o sol a brilhar com mais intensidade de luz e calor, para que a Terra Mãe não deixasse de ser fértil”, afirma o investigador António Rodrigues Mourinho.

Com a chegada do Cristianismo o costume de acender fogueiras no inicio do inverno se mantém, mas assume um novo motivo: o nascimento de Jesus. Que coincidentemente ocorre quatro dias depois do inicio do solstício de inverno, no dia 25 de dezembro.

Desde o século IV, um hino latino cantado na cerimônia do Natal aponta o nascimento no meio da noite. Daí o costume de assumir que foi a meia-noite que Ele nasceu. Também é Neste horário que o Papa celebra a Missa do Galo na Basílica de Santa Maria Maior, desde o século V.

A tradição da fogueira do galo é incorporada no rito natalino como complemento ou antecipação da Missa. As simbologias se fundem em uma só: Jesus é a luz do mundo, que passa a iluminar a todos e, o acender da fogueira, uma celebração desta luz divina, luz e calor que não se apagarão jamais. Celebramos o nascimento de um menino Deus.

Nas leituras da missa uma passagem de Isaias remete para o tema: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam nas sombras da morte, uma luz começou a brilhar.” Curiosamente em todo o calendário litúrgico só duas missas são celebradas à meia-noite, a Missa do Galo e a Missa de Páscoa, pois nelas há o sentido de procurar a luz no meio da escuridão.

Mas porque se chamam missa e fogueira do Galo?

Muitas das Igrejas mais antigas têm um galo em seus campanários. Existe ainda a lenda em alguns lugares que afirma que é chamada de Missa do Galo, porque, a única vez que um galo cantou à meia-noite foi na noite em que Jesus nasceu. Nisto as tradições são diversas. Uma porem tem algum fundamento. O animal representa a vigilância e a fidelidade ao testemunho Cristão. Quem não se lembra de Pedro a negar a Cristo, perto de uma fogueira, depois da ultima ceia e, do mesmo Pedro, perturbado com a presença e canto da ave, em hora estranha, que imediatamente o remetem para as palavras do Mestre, “ao cantar do galo me negarás três vezes”.

Assim perante a fogueira, um novo testemunho de fé é pedido aos Cristãos. Ao ver os raios de sol o galo canta e portanto, ao reverenciar o sol nascente, o galo e o povo, louvam o seu criador Jesus Cristo.

Muitas das Igrejas mais antigas têm um galo em seus campanários. Existe ainda a lenda em alguns lugares que afirma que é chamada de Missa do Galo, porque, a única vez que um galo cantou à meia-noite foi na noite em que Jesus nasceu.

De volta à tradição da fogueira do Galo em Castelo Branco, um elogio para os rapazes solteiros de todos os tempos que ano após ano, geração após geração, mantiveram uma das fogueiras mais fortes e animadas do Concelho de Mogadouro e do distrito de Bragança.

Por aqui o galo teve sempre uma sorte um tanto diferente. Prendia-se na ponta de toro de olmo, com alguns bons metros de altura, depois era sacrificado e assado na fogueira. Aquele que matasse o galo ia buscar uma remeia de vinho, e quando as pessoas se dirigiam à fogueira, podiam provar do galo e beber um copo de vinho.

No dia 24 desde o começo da tarde, os rapazes começam a recolher e a juntar a lenha que vai formar a fogueira e permitir que ela fique acesa por muito tempo.

A lenha que hoje existe em abundancia por todos os lugares já foi em alguns tempos escassa. Usada nos fornos para fazer o pão e nas lareiras para aquecer as casas e os corpos durante o inverno rigoroso, que se faz sentir em nossas terra, era pouca e muito valiosa. Nestes tempos os rapazes iam de porta em porta com um ou dois carros de bois a pedir a lenha para a fogueira. Cada família contribuía com o que podia dar, mas todos queriam participar e assim os carros de bois eram rapidamente carregados.

A fogueira foi durante muitos anos acesa no adro da Igreja. Neste lugar permitia reunir à volta dela a todos para se aquecer e confraternizar ao chegar ou sair da missa.

Nos anos seguintes a fogueira cresceu de tamanho e quantidade de lenha usada para a acender.Como foi ficando maior de ano para ano, para não por em risco a Igreja e as casas próximas, foi mudada de lugar para o largo da Casa Grande e ali é acesa até aos dias de hoje.

Atualmente há lenha com fartura e são usados tratores e maquinas para a recolher por todos os lugares. Mas a participação e o numero de rapazes é cada vez menor, porem os que participam são valentes e fazem autênticos milagres para manter esta tradição viva. Os albicastrenses são determinados, e tem feito algumas das maiores já vistas em todos os tempos, como por exemplo a de 2009.

A fogueira é sempre motivo de orgulho e de união na nossa terra. Uma festa alegre, brindada com a força e alegria de todas as famílias de nossa aldeia, e claro que não podia deixar de ser celebrada também com alguns garrafões do vinho “nacional” albicastrense. Um vinho muito especial, como dizem os entendidos e apreciadores: O vinho, “nacional”, é um santo vinho  que alegra o coração das mulheres e não entristece o dos homens.

A animada confraternização e reunião á volta da fogueira do galo proporciona a todos os presentes momentos de degustação de pão, presunto, alheiras, chouriços, chouriças, azeitonas que são sabiamente preparados com maestria pelas mulheres de nossa terra. O bacalhau cru, mesmo não sendo pescado na ribeira das pombinhas também faz sucesso e é muito elogiado por todos. Mas pudera não gostar, o sal dele puxa o vinho e apura o gosto...

A debulhadora (malhadeira) do Regedor Nossa fogueira sempre fez e teve histórias para contar... Simbolicamente na década de 80 foi queimada uma malhadeira inteira na fogueira do galo, para representar o fim  dos trabalhos e canseiras da lida na lavoura, anunciado com a chegada das novas maquinas agrícolas à nossa região, . O autor deste manifesto foi nosso antigo regedor, Arlindo Parreira, um albicastrense que atualmente reside no Canadá, mas sempre presente.

Relembrar tradições é também uma forma de as manter vivas! Talvez eu tenha esquecido de algo sobre a fogueira e missa do galo… Ajude a lembrar. Participe do site participe deste resgate!  Enviem artigos, fotos, lembranças, etc. para: luispardal@castelobrancomogadouro.com

Abraços a todos e Feliz natal !

Leia outros artigos  do blog sobre a fogueira do Galo:

Fogueira do Galo 2008 e Tradição da fogueira do Galo 

Luis Pardal 

24/12/2010

Natal no Canada

Autor: Arlindo Parreira

As tradições de Natal são as mais singelas e puras, são recordações que guardamos da nossa infância, e que nos acompanham para onde quer que vamos.

Em casa de cada Português há uma árvore de Natal decorada com enfeites de Natal. Bolas coloridas ícones, imagens de Natal, luzes pisca-pisca que representam as estrelas, a ponta em forma de estrela guia os reis magos até ao local do nascimento de Jesus

Alguns mais dedicados fazem o presépio na frente da casa, como podem ver neste vídeo, são muitas horas de trabalho feito no rigor do inverno. Tudo é mais difícil por causa das temperaturas. Mas, nem por isso o Senhor José Borges, natural dos Açores, deixa de fazer o seu melhor. É preciso muito empenho e dedicação, O senhor Borges já vem fazendo este presépio a 7 anos, sem ajuda de ninguém, todos os anos faz diferente, com imagens novas enfeites, tudo ao pormenor.

Ca fora o presépio e iluminado com 65 mil luzes, e o de dentro de casa com 12 mil, ele trabalha na construção todo este trabalho e feito com a ajuda da esposa as tardes depois de vir do trabalho e aos fins der semana. Este magnífico trabalho pode ser visto por satélite, Ele mora ao número 117 da Caledónia R.D.

No Canada as tradições de Natal é o peru e o bolo-rei, mas os Portugueses mantem-se as tradições, dia 24 a noite, com a família reunida, comesse o bacalhau com toros de couve, o polvo com batatas cosidas regado com vinho tinto Português

Depois da ceia até fazer horas de ir para a missa do galo. Umas nozes e figos secos regados com aguardente Nacional e vinho do Porto.

Depois da missa os mais novos não escondem a ansiedade de abrir os presentes, de olhos arregalado e os mais reguilas querem ser os primeiros a abrir as caixas dos presentes que ficam debaixo da árvore de Natal

Dia de Natal visita-se os amigos e parentes desejando boas festa, e dura assim os festejos ater fim der ano.

 

É sempre bom relembrar

Dai um cobertor a quem tem frio

Dai comida a quem ter fome

Dai um abraço a quem tem solidão

Vamos todos numa só oração

Que este Natal de solidariedade toque os nossos corações

FELIZ NATAL 2010

23/12/2010

A horta das Lameiras

Autor: Aida Freitas Ferreira

O texto andava na gaveta e fazia parte do meu diário de infância e dos dias de Verão que passava com os meus avós e que com eles ia às hortas.E…depois de há tempos ler o trecho do meu primo Isaías sobre este local voltei ao meu arquivo pessoal.

Naquela noite quente a minha avó Aida (Cordeiro) veio a nossa casa depois do jantar perguntar-me se não queria ir com ela regar à horta das Lameiras ao que eu logo acedi.

Pelas cinco horas da manhã fui acordada pela voz da minha avó:- Oh Aidinha! Aidiiinha! Anda minha filha, levanta-te.

Acabrunhada fui-me vestindo e calçando. Desci as escadas para cozinha e aí já me esperava a caneca de leite com cevada e uma torrada.

- Despacha-te! Olha que o avô já foi há um bom bocado e já deve estar a chegar à horta. Exclamou ela no sentido de me apressar.

Quando desci as escadas de acesso à rua a burra já estava albardada e as portas da adega e da curralada fechadas.Quando desci as escadas de acesso à rua a burra já estava albardada e as portas da adega e da curralada fechadas. Faltava apenas eu. A madrugada estava ainda fria apesar de ser pleno Julho. Agasalhada pelo casaco de malha lá subi para cima da burra e subimos a íngreme rua da Igreja. Eu a cavalo e a minha avó a pé puxando a rédea da burra para a ajudar naquele intervalo da casa da Ti Garcinda, pois ali ela resvalava e de nada valiam as ferraduras pois os paralelos pareciam ter manteiga.

Passando o adro da igreja e chegadas ao triangulo a minha avó montou na burra. Eu escarranchada na frente da albarda e a minha avó sentada na traseira. Subir a estrada até chegar ao cruzamento da Serrinha da Rodela, no corte no Alto de Sto António e fugir dela. A falta dos balidos das ovelhas denunciava que já não estavam na corte ou mesmo até que tinham passado a noite ao relento, aproveitando as belas noites de Verão.

Atravessamos mais uma vez a estrada agora já do lado de baixo da Serrinha e descemos em direcção à horta do Arlindo a caminho da Devesa. Daqui até às Lameiras encontramos quase todos os vizinhos. O caudal do ribeiro era pequeno e até às Lameiras de Cima havia muitas hortas, muito feijão, muito cebolo e muito tomate para regar. A augueira traz água pois os das hortas de baixo madrugavam mais no sentido de obter rega. Fizera-se acordo dos dias de rega e este era já tido por tácito para que todos pudessem ter água na horta. Muitos aí passam a noite como forma de aproveitar o tempo e a água. Uma delas era a Srª Maria Neto, outra a tia Idalina e o Sr. Zé Rito. Os meus avós tinham a sorte de ter um poço na horta de que lhes permitia ter algum desafogo.

Ao clarear do dia chegávamos ao cimo das Lameiras e entretanto eu já tinha saltado do burro para correr pela encosta acima e ver as vistas de toda a Devesa.

Os bons dias começavam ainda de noite pois aqui talvez pela força das encostas do vale a noite era escura. Mas a burra já sabia o caminho de cor e raramente tropeçava nos calhaus. Muitas vezes ouvia a coruja e ao amanhecer a passarada acordava e chilreava pelo caminho. A minha avó sabia identificar todos estes cantos e íamos dizendo.

Ao clarear do dia chegávamos ao cimo das Lameiras e entretanto eu já tinha saltado do burro para correr pela encosta acima e ver as vistas de toda a Devesa.

Entretanto o meu avô Zé António chamava-me acrescentando:

-Então rapariga ! Não vens ajudar a avó a regar? Deixa lá as subidas às árvores por ora, anda cá p’ra baixo ajudar. Vais para o fundo do suco ver quando a água lhe chega.

Gritei: - Já voooooooou! E…desci em escorrega! Uau!

Correr os sucos das batatas de ponta a ponta e…- Já chegou!

Aida olha o sol!? Coloca o chapéu! Anda cá? Não queres lanchar? Toma lá pão com queijo.

No fim da rega já o sol começava a torrar e a minha avó já tinha colocado seu chapéu de palha e, já muitas vezes dissera:

- Aida olha o sol!? Coloca o chapéu! Anda cá? Não queres lanchar? Toma lá pão com queijo.

Ao chamado do chapéu fazia ouvidos moucos mas ao pão com queijo não me dava por rogada e lá ia eu procurar a fardela da merenda.

Agora restava tapar o poço e virar a augueira para o ribeiro.

Oh Zé! Tens horas? Perguntava a minha avó e este colocava a mão em pala no boné, olhava o sol e respondia: - São prá aí onze.

Ou seja horas de colocar pés ao caminho. O sol já ia alto e continuava a queimar. O regresso até ás hortas das Devesas era feito a correr à frente da burra, a saltitar e colher as floritas que me apareciam na berma do carreiro. O meu avô esse iria mais tarde e como estava com o carro das burras faria o percurso da estrada, passando o Salgueiral.

Carro de Bois e Arado, miniaturas em madeira, oferecido pela Junta de Freguesia de Castelo Branco de Mogadouro. Presidência Aberta do Dr. Mário Soares em Bragança (15 a 26 de Fevereiro de 1987)

(www.fmsoares.pt)

Carro de Bois e Arado, miniaturas em madeira, oferecido pela Junta de Freguesia de Castelo Branco de Mogadouro (35 x 17 x 18 cm.) Presidência Aberta do Dr. Mário Soares em Bragança (15 a 26 de Fevereiro de 1987)

Curiosidade: Este carro de bois e arado foi feito pelo Sr. Ernesto Silva para a Junta de Freguesia oferecer ao Exmo. Sr. Presidente da República, Dr. Mário Soares

Aida Freitas Ferreira

22/12/2010

Da azeitona ao azeite

Autor: Aida Freitas Ferreira

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“Quem azeite colhe antes de Janeiro, azeite deixa no madeiro”

“Quem colhe azeitona antes do Natal, deixa metade no olival”

Apesar dos populares dizerem tal após o dia de todos os Santos e até Janeiro, desde a madrugada gelada até ao por do sol, as gentes da terra fazem a colheita da azeitona para fazer o azeite. Muitas vezes engaranhados pelo frio fazem fogueiras para aquecer as mãos e dar algum alento ao duro trabalho.

Em outros tempos para mantas de sarapilheira e mais tarde para toldos estendidos pelo chão, ranchos de homens varejam a rama das oliveiras e as mulheres, de olhos no chão apanham a azeitona que ressalta para fora daqueles. http://www.diariodetrasosmontes.com/)

Em outros tempos para mantas de sarapilheira e mais tarde para toldos estendidos pelo chão, ranchos de homens varejam a rama das oliveiras e as mulheres, de olhos no chão apanham a azeitona que ressalta para fora daqueles.

No fim do dia a azeitona é limpa de folhas e voltada a ensacar aguardar o fim da lide e a oportunidade de ser levada à prensa do lagar pois, dos de varas já não me lembro de ver ou mesmo ouvir falar.

No fim do dia a azeitona é limpa de folhas e voltada a ensacar aguardar o fim da lide e a oportunidade de ser levada à prensa do lagar pois, dos de varas já não me lembro de ver ou mesmo ouvir falar.

Na nossa aldeia havia dois grandes lagares de prensa, o do Sr. Alberto Ferreira e do Sr. Manuel Escalhueiro que, por força da idade dos seus donos ou por impedimento da regulação comunitária deixaram de laborar contudo, faziam-no 24 horas sobre 24 horas.

A azeitona era despejada para dentro de uma cisterna onde duas mós de granito giravam sob a força do motor do tractor e a esmagavam. A pasta que daí resultava era colocada nas seiras eram então empilhadas na prensa. Desta prensagem decantava-se o azeite, que era transportado em cântaros de lata. Depois é depositado em talhas de barro ou vasilhas de metal onde repousa até à Primavera altura em que começa a utilizar.

A palavra azeite vem do árabe Az + zait. Quer dizer sumo de azeitona.

A azeitona era despejada para dentro de uma cisterna onde duas mós de granito giravam sob a força do motor do tractor e a esmagavam. A pasta que daí resultava era colocada nas seiras eram então empilhadas na prensa.

Moinho da azeitona de lagar de tracção animal. (imagem extraída de http://motg.blogs.sapo.pt/arquivo/2006_08.html)

O lagareiro tinha direito a uma maquia, que por norma representava 10% da colheita. O bagaço da azeitona servia para a lareira, como substituto da lenha. O seu cheiro era tão característico que durante estes meses pelo Vale e pelo Bairro da Escola cheira a bagaço queimado. Muitas vezes nos era permitida a entrada na prensa para olhar este processo e aquecer as mãos junto da fogueira ou mesmo provar uma torrada de azeite.

Aida Freitas Ferreira

É tempo de vestir samarra!

Autor: Aida Freitas Ferreira

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Nas minhas andanças pelos livros, que é onde passo quase todos os meus dias, dada a minha profissão, encontrei este poema que adorei e vem mesmo a calhar.

Também eu tive uma samarra e como eu a adorava vestir e sentir o pelo macio que acariciava as orelhas a caminho da escola.

E...nestes últimos dias em que o frio também chegou ao Porto eu voltei a lembrar-me dela … e assim vesti-a (uma outra que entretanto adquiri pois eu sei que não cresci muito mais mas aquela de quando tinha dez anos deixou de me servir). Já agora até me lembro do dia em que foi comprada. Foi comprada pelos meus pais na Casa Casimiros num dia de Gorazes. Ficou à consignação da Dª Alzira, balconista da secção de senhora, no sentido de eu passar por lá no dia seguinte para a experimentar. E caiu que nem uma luva, de tal modo que nesse Inverno a usei quase todos os dias.

Continuo a adorar ver o look invernal transmontano: uma samarra pelo corpo, um boné de pala sobre os olhos e umas boas botas feitas à medida e curadas pelo sebo.

A minha samarra

É uma relíquia transmontana
Esta quente e vetusta samarra
Sendo típica veste de montanha
Na verdade, nada tem de bizarra

A pele doirada, cor de piçarra
De dócil raposa sacrificada
À vaidade que lhe deitou a garra
Tem a docilidade entranhada

É vestuário de estação
Que protege do frio no Inverno
Por isso se usa sem condição

Nas serras de Trás-os-Montes paterno
Agasalha corpo e coração
E a samarra é, sinal fraterno

Vale de Salgueiro, sábado, 21 de Agosto de 2010
Henrique Pedro - “Poemas da Guerra de Mim e de Outrem” (Editora Piaget – 2001).

 

Aida Freitas Ferreira

21/12/2010

Ditados e provérbios albicastrenses.

Autor: Ricardo Pereira
 
Ajudem a reunir ditados e provérbios dos albicastrenses de hoje e de outras épocas! Este artigo já está na terceira edição e com a ajuda de todos reunimos 125 provérbios.
 
É simples, basta cada um que lembrar de um ditado, escreve-o nos comentários(clique para seguir a pagina).
 
Serão reunidos de vez em quando em um artigo que volta á pagina inicial para relembrar. Por favor assinem sempre com o nome para sabermos quem lembrou do ditado. É muito interessante e permite relembrar frases que nossos avós nos deixaram e que sem dúvida ficarão no esquecimento se não as juntarmos.
 
Um forte abraço
 
DITADOS ALBICASTENSES:

1. A boda e batizado não vai sem ser convidado;

2. A casa que tem bom vinho não precisa ramo;

3. A cavalo dado não se olha o dente;

4. A culpa morreu solteira;

5. A fruta proibida é a mais apetecida;

6. A galinha da vizinha é sempre melhor que a minha;

7. A justiça tarda, mas não falha;

8. A liberdade do homem começa quando fica viúvo;

9. A mentira corre, mas a verdade a apanha.;

10. A necessidade aguça o engenho;

11. A ocasião faz o ladrão;

12. A ociosidade é mãe de todos os vícios;

13. A união faz a força;

14. A vaidade é o espelho dos tolos;

15. A verdade é como o azeite, vem sempre ao de cima;

16. A vozes loucas, orelhas moucas;

17. Abril águas mil;

18. Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura;

19. Albarda-se o burro à vontade do dono;

20. Amigos, amigos, negócios à parte;

21. Amor com amor se paga;

22. Antes de casar, arranja casa para morar, terras para lavrar, e vinhas para podar;

23. Antes quebrar que torcer;

24. Antes tarde que nunca;

25. Ao menino e ao borracho põe Deus a mão por baixo;

26. Aquele e de bronze ganha dez e gasta onze;

27. Ate ao lavar os cestos é vindima;

28. Barriga cheia companhia desfeita;

29. Boca fechada não entra moscas;

30. Burro velho não tem andadura e se a toma pouco dura;

31. Burro velho, não aprende línguas;

32. Cada cabeça sua sentença;

33. Cada macaco no seu galho;

34. Cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso;

35. Calças brancas em Janeiro, sinal de pouco dinheiro;

36. Cão que ladra não morde;

37. Casa em que não há pão, todos ralham e ninguém tem razão;

38. Casa que não e ralhada não e governada.;

39. Coices de garanhão pra égua carinhos são;

40. Com papas e bolos se enganam os tolos;

41. Com vinagre não se apanham moscas;

42. Comer o pão que o diabo amassou;

43. Comes te gato por lebre;

44. Contra fatos não há argumentos;

45. De pequenino se torce o pepino;

46. Deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer;

47. Depois do baptizado feito não sobram padrinhos;

48. Deus da as nozes a quem não tem dentes;

49. Deus escreve direito por linhas torta;

50. Devagar se vai ao longe;

51. Diz com que andas eu te direi quem tu és;

52. Em tempo de guerra não se limpam armas;

53. Em casa de ferreiro espeto de pau;

54. Em dia de São Lourenço,vai à vinha e enche o lenço;

55. Em dia de São Martinho vai à adega e prova o vinho;

56. Em dia de São Tiago, pinta o bago;

57. Em terra de cego que tem um olho é rei;

58. Entre mortos e feridos algum há de escapar;

59. Fiat na virgem e não corras;

60. Galinha do campo não quer capoeira;

61. Gato escaldado de água fria tem medo;

62. Grão a grão enche a galinha o papo;

63. Guarda que comer e não guardes que fazer;

64. Homem prevenido vale por dois;

65. Juntam-se as comadres , descobrem-se as verdades;

66. Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão;

67. Leitão de um mês ,cabrito de três;

68. Mais depressa se apanha um mentiroso, que um cocho;

69. Mais vale um pássaro na mão, que dois a voar;

70. Matar dois coelhos de uma cajadada;

71. Muita parra pouca uva;

72. Mulher honrada não tem ouvidos;

73. Não metas o carro a frente dos boi;

74. Não deixes para amanhã, o que podes fazer hoje;

75. Não há amor como o primeiro;

76. No aperto e no perigo é que se conhece o amigo;

77. Ó ai ó i escorreguei mas não caí;

78. Ó i ó ai quem escorrega também cai;

79. O mal dos outros é o consolo dos parvos;

80. O que é barato sai caro;

81. O sol quando nasce é para todos;

82. Onde canta o galo não canta a galinha ... (querias);

83. Os amigos são para as ocasiões;

84. Para a frente é que é Lisboa;

85. Para bom entendedor meia palavra basta;

86. Poda em Março, vindima no regaço;

87. Quem anda de boca aberta, ou entra mosca ou sai asneira;

88. Quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado lhe vem;

89. Quem canta na cama e assobia à mesa,ou não tem juízo ou pouco lhe pesa;

90. Quem canta seu mal espanta;

91. Quem dá aos pobres empresta a Deus;

92. Quem dá o que tem a pedir vem;

93. Quem diz a verdade não merece castigo;

94. Quem diz a verdade... vai pro céu;

95. Quem espera desespera;

96. Quem espera sempre alcança;

97. Quem foi ao mar perdeu lugar;

98. Quem foi ao vento perdeu o assento;

99. Quem muito dorme, pouco aprende;

100. Quem não tem dinheiro não tem vícios;

101. Quem não trabuca não manduca;

102. Quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é tolo ou não tem arte;

103. Quem rouba tostão é ladrão e quem rouba milhão é barão;

104. Quem sai aos seus, não degenera;

105. Quem semeia ventos, colhe tempestades;

106. Quem te avisa teu amigo é;

107. Quem tem vagar faz colheres;

108. Quem torto nasce tarde ou nunca se endireita;

109. Quem tudo quer tudo perde;

110. Quem vai a feira perde a cadeira;

111. Quem vai à guerra, dá e leva;

112. Quem vai para o mar avia-se em terra;

113. Quem viver verá as voltas que o mundo dá;

114. Saber esperar é uma virtude;

115. Se queres a vinha remoçada, poda-a enfolhada;

116. Se sabes o que eu sei cala-te que eu me calarei;

117. Tantas vezes vai o cantaro à fonte, que um dia lá fica a asa;

118. Tão ladrão é o que vai à horta, como o que fica à porta;

119. Ter mais olhos que barriga;

120. Trabalhar para aquecer, é melhor morrer ao frio;

121. Trigo com morrão, não faz bom pão;

122. Trinta dias tem Novembro, Abril junho e Setembro, de 28 só há um, e os mais são de 31;

123. Tristezas não pagam dívidas;

124. Um burro carregado de livros não é doutor;

125. Vozes de burro não chegam ao céu;

 
vinha em castelo branco mogadouro

Avanço da IC5 por terras albicastrenses.

Autor: Isaias Cordeiro

Para os Albicastrense espalhados pelo mundo ávidos de notícias sobre a nossa terra ofereço algumas fotos sobre a passagem da Ribeira e dos ribeiros do Carvalhal e Rodela. A construção de pontes na actualidade resume-se a unir peças de “legos”, em betão claro. Breves dias de trabalho de máquinas e estão prontas para a sua tarefa.

traçado IC5Traçado da IC5 - (clique para aumentar)

Baboedo- Ribeira de Castelo Branco. A escassos metros da foz do ribeiro do Carvalhal. Baboedo- Ribeira de Castelo Branco. A escassos metros da foz do ribeiro do Carvalhal.

 Do topo dessa passagem vemos a nossa aldeia num nível inferior. Ninguém acreditaria tempos atrás. Do topo dessa passagem vemos a nossa aldeia num nível inferior. Ninguém acreditaria tempos atrás.

Passagem no Ribeiro do Carvalhal junto ás fragas de Vale de Veado. Imaginem, pareciam altas vistas dos caminhos, não era assim? Passagem no Ribeiro do Carvalhal junto ás fragas de Vale de Veado. Imaginem, pareciam altas vistas dos caminhos, não era assim?

Também Ribeiro do Carvalhal, vemos o caminho e esquina da horta ex Neves do lado esquerdo. Também Ribeiro do Carvalhal, vemos o caminho e esquina da horta ex Neves do lado esquerdo.

Passagem na Rodela em curso, um pouco mais atrasada. Uma foto da aldeia! A imagem que nos dá!      Passagem na Rodela em curso, um pouco mais atrasada. Uma foto da aldeia! A imagem que nos dá!

Por não ser ainda possível ver no Google o traçado do IC 5 na parte de Castelo Branco junto fotos que dão já uma idéia clara do traçado. É evidente que nós aqui residentes todos conhecemos.

Entre Saradelo e Miuteira até ao limite do termo Castelo Branco/ Meirinhos.Entre Saradelo e Miuteira até ao limite do termo Castelo Branco/ Meirinhos.

Saradelo/ Cruzamento das Quintas das Quebradas / Pendão/ Serrinha da Rodela. Saradelo/ Cruzamento das Quintas das Quebradas / Pendão/ Serrinha da Rodela.

Serrinha da Rodela/ Rodela/ Baboedo / Pedreira até ao alto de Vale de Porco. Serrinha da Rodela/ Rodela/ Baboedo / Pedreira até ao alto de Vale de Porco.

Alto da Serrinha/ Rodela/ Vale de Veado até á ribeira de castelo Branco.Alto da Serrinha/ Rodela/ Vale de Veado até á ribeira de castelo Branco.

 Da Ribeira ,“Baboedo “ até ao alto de Vale de Porco  Da Ribeira ,“Baboedo “ até ao alto de Vale de Porco

Um abraço e Bom Natal para todos

Saudações Albicastrenses

Isaías Cordeiro