27/10/2013
25/10/2013
Lavrar a alma.
Vi um lavrador lavrar a alma com palavras fortes como o aço, lamentando a vida, as estações, a sorte. Vi que lhe rompiam o peito e rasgavam as fibras do coração, as ideias de vencer a sina de quebrar o fado, a realidade de comer o pão com o suor do rosto e a gana de matar a fome que lhe toma os dias.
Pensamentos que iam e voltavam como sulcos de uma lavra continua do chão do ser onde teimava em semear os sonhos de dias melhores de terras férteis fartura e prosperidade.
Ao rasgar a terra, rasgava a alma, virava a vida, eterna lavoura.
17/10/2013
Perguntas…
Ao fundo a capela da Vila Velha, na frente os choupos e freixos da ribeira, no meio os pensamentos e as visões de outros tempos doutras emoções. E o outono a moldar os sentimentos desta paisagem, tão querida tão distante.
Melancolia de tantas saudades de tantos rostos, momentos vividos, pessoas.
Tudo neste contexto, é vida. A minha a de meus pais, irmãos e de todos que ali nascemos, que neste cenário tomou forma e dele partiu para o mundo e para outras dimensões.
Quem vem a vila velha leva no peito a presença de tudo isto.
E por isso é bela. Por isto é impar e sem igual. Como a padroeira, que a todos recheia a vida com a fé. A intimidade deste lugar exige os olhos abertos para o divino, para o não material.
Sempre me questionei porque a capela fica de costas para o caminho que sai da aldeia e termina nela? Para onde aponta a porta? Que sentido tem esta escolha da orientação oposta ao caminho?
16/10/2013
Perguntas…
Ao fundo a capela da Vila Velha, na frente os choupos e freixos da ribeira, no meio os pensamentos e as visões de outros tempos doutras emoções. E o outono a moldar os sentimentos desta paisagem, tão querida tão distante.
Melancolia de tantas saudades de tantos rostos, momentos vividos, pessoas.
Tudo neste contexto, é vida. A minha a de meus pais, irmãos e de todos que ali nascemos, que neste cenário tomou forma e dele partiu para o mundo e para outras dimensões.
Quem vem a vila velha leva no peito a presença de tudo isto.
E por isso é bela. Por isto é impar e sem igual. Como a padroeira, que a todos recheia a vida com a fé. A intimidade deste lugar exige os olhos abertos para o divino, para o não material.
Sempre me questionei porque a capela fica de costas para o caminho que sai da aldeia e termina nela? Para onde aponta a porta? Que sentido tem esta escolha da orientação oposta ao caminho? Há sentido nesta posição?
26/09/2013
Lavrador de versos
Vivo como um lavrador de versos,
A arar, o papel, com mil palavras.
A cada dia vinco mais dispersos,
Sulcos, das minhas idéias e lavras.
Soltam-se da minha folha mensagens,
Sonhos longos, eternos, profundos
Palavras novas, vontades, miragens,
Rodas vivas, visões de novos mundos.
Com a profundidade de estar perdido
Entre a vontade de conhecer saborear,
Tudo o que tiver maior valor sentido
O amor, viver, ou um simples pensar.
Procuro, o renascer, o constante chegar
Nesta lavoura, da vida, eterno advir.
Busco uma forma de sempre germinar
E com novo jeito ser, viver e sentir.
Albano Solheira
25/09/2013
Minha aldeia
Tudo é tão lindo visto daqui
As ruas, casas, telhados, muros
Homens, mulheres, animais.
Aquarela viva, cenário, presépio.
Tudo tem seu lugar e proposito
E parece tão certo, eterno e presente.
Só os que sabem disso,
Tem nos olhos o encanto de ver, que
A vista mais bela é a da minha aldeia,
Pois o mundo não é tão grande Nem maior que a minha aldeia,
Porque não cabe dentro nem passa por ela.
O Mundo tem grandes cidades
E se revive, existe, nelas somente.
Como tantos que buscam em tudo o que lá não está,
Pois que a memória das gentes é vaga.
Minha aldeia esta ali, onde sempre esteve,
Poucos sabem disso,
E sequer me importo com isso.
O mundo ficou pequeno
Toda a gente sabe.
Mas poucos reconhecem onde estão
Vão e de onde veem
E por isso ele pertence a tanta gente…
É mais livre e maior o povo da minha aldeia. Chegar na minha aldeia é sair do mundo,
Para entrar em outro mundo.
Para além do qual há outros lugares.
Ninguém nunca pensou no que lá há antes.
E depois que importância isso tem?
Minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está nela, está apenas nela.
No mundo ninguém sabe nunca onde esta.
E vive com pressa de ir, de chegar, de partir.
Aqui vive-se um dia depois do outro.
E viver e estar são a mesma coisa.
No fim ou no começo,
Tudo é, e isso basta.
24/09/2013
Purgatório
Quando criança acreditava que o purgatório ficava atrás do altar da igreja e que por lá estavam todas as almas que tinham que pagar os pecados antes de seguirem para o céu. Confesso que fiquei muitas missas a olhar para o altar e a imaginar como por lá estariam e que tormentas teriam que purgar para passar para a etapa seguinte.
Intrigado como podiam caber tantas almas em um lugar tão apertado. Uma matemática e geometria muito intrigante para quem tinha quatro para cinco anos. Metafisica prática e simples. Tudo tinha lugar e motivo, mesmo não entendendo ao certo o que seriam, o céu e o inferno, criava o cenário para os poder entender.
Mas os anos passam e as coisas mudam de lugar.
21/09/2013
Santa Barbara
Acordei com o estrondo dos trovões. A virada do tempo, começou dias atrás e foi anunciada pela meteorologia, mas somente hoje ela chegou com força total.
Os clarões anunciavam desde o inicio da noite a tempestade que chegou de madrugada com chuva, trovões fortes e clarões que iluminam o céu continuamente. A energia elétrica falhou. A cortina do quarto estava aberta e deixava entrar pela janela relâmpagos que iluminavam sem parar as paredes, o chão e o teto, projetando a sombra dos armários para todas as direções.
Levantei para fechar as cortinas. A Julia acordou assustada e a Karina levantou para acalma-lá, graças a Deus voltou a dormir.
Meus dois cachorros estavam desesperados e apavorados gemendo e arranhando a porta do banheiro onde onde estavam recolhidos. Consegui acalma-los com ração e umas velas acesas.
Perdi o sono. Felizmente o ipad esta com bateria cheia mas sem internet faltou o que fazer para esperar o sono.
O som das sirenes dos alarmes das casas de temporada, completa a sonoplastia e preenche o silencio e a escuridão da madrugada. Aos poucos a tempestade começa a acalmar e os relâmpagos ficam mais dispersos.
Esta época é sempre de apreensão em Santa Catarina. As chuvas e as enxurradas deixaram os meses de setembro e outubro marcados pelas tragédias. Foram muitas as perdas ao longo dos anos. Vidas e bens, projetos e sonhos, varridos pelas calamidades que inundaram cidades.
Ainda sem sono comecei a lembrar do medo que tinha quando criança dos trovões. E as memórias foram surgindo, como relâmpagos de outros tempos inundando minha mente de imagens e sensações distantes e para minha surpresa ainda muito fortes.
Voltei no tempo...
A Capela de Sto. Antonio fica perto da minha casa. Uma capela bonita, pequena e aconchegante, com um altar central onde o Santo Lisboeta e casamenteiro, tem seu altar em destaque rodeado de outras imagens de santos e sanas. Normalmente a capela ficava fechada. Naquele dia porem, foi aberta, pelas mulheres que ali acorreram para invocar Sta. Barbara e pedir proteção preocupadas com a forte trovoada que estava a chegar. O dia escureceu e apesar de serem umas duas da tarde, e estarmos o inicio do mês de junho parecia ser o anoitecer.
A maioria das searas ainda estavam nos campos a espera de serem segadas. As famílias trabalhavam de sol para colher o pão. A ameaça de temporal punha em risco as vidas e os trabalhos de muitos dias, canseiras, e esperanças.
Nesta escuridão os relâmpagos faiscavam e riscavam o céu rompendo as nuvens. O vento soprava forte e passeava feroz pelas ruas montado em redemoinhos de poeira. Era o fim do mundo, ou parecia ser pelo menos.
As mulheres tiravam os brincos das orelhas e cobriam as cabeças com os lenços. ficavam a ajeitar os cabelos continuamente para acalmar.
- Ave Maria, Santa Maria...
- Ai meu Deus, gritavam
- Oh valha-nos Santa Barba, São Bernardino...
Esconjuravam a trovoada...
- Vai pra serra do marão onde não ha vinha nem pão.
A imagem da Santa foi colocada na porta da capela em um altar improvisado, virada para a rua.
E começaram o responso da Santa.
Santa barbara,
que sois mais forte que as torres das fortalezas
e a violência dos trovões,
Fazei que os raios
Não nos atinjam...
Os trovões não nos assustem
Nem abalem a coragem e a bravura.
Ficai sempre ao nosso lado,
Para enfrentarmos de fronte erguida
E rosto sereno todas as tempestades
E batalhas da nossa vida...
As nuvens baixas em cima da aldeia, relâmpagos e trovões ecoavam pelo céu e dentro da capela cheia de mulheres e crianças. As orações estremeciam com a violência da tempestade e as vozes vacilavam temerosas da falta de fé. Mas pelo menos daquela vez a tempestade passou e foi para a serra do Marão.
01/09/2013
Nossa Senhora da Vila Velha
31/08/2013
Setembro
12/05/2013
Cada vez mais
Cada vez melhor.
Assim, na luz do dia.
Revejo o sonho
Que me mantinha
Preso a ti.
Minha paixão
Fez de mim teu servo
Em minha ilusão
Fulgor dos olhos
Relampejo da alma
O amor que te tenho
Dá-me vida...
Nasce a cada dia
O fruto de nosso amor
Nas palavras que dizemos
No vinho dos teus beijos
Na doçura de teus lábios
Amor, amor, amor,
Amor que um dia
Tão gigante
Imenso e profundo
Nascido de teu olhar
Crescido no peito.
Arrebatou minha vida.
30/03/2013
Feliz Pascoa
Amêndoas e folar.
Ruas de alecrim,
Papoulas e malmequer,
enfeitam o chão.
Vai sair a procissão,
Do adro pelo eiró,
desce pelo vale,
sobe ate a praça
para chegar na estrada.
E páscoa, aleluia,
Os campos de trigo
Verdejam floridos,
As vinhas rebentam
As amendoeiras
Floresceram sem geada.
Cantamos, aleluia.
As famílias reunidas
Vieram pelo folar.
E aleluia, aleluia
Vamos cantar.
Papoulas
Campos de trigo
verdes de espigas,
Vermelhos de descobertas
Pão e sonhos,
Trabalhos e esperanças.
No mesmo campo,
O lavrador semeou os grãos,
Sustento do corpo.
E o Criador derramou as sementes,
Alento da alma.
09/03/2013
Ribeira
No fim do povo, à entrada da aldeia, corre a ribeira.
A mesma, sempre, de passagem.
Como as gentes, como o tempo.
Passageiros...
Cada geração de um novo jeito
Repete e esgota
De uma estação a outra sua existência
Primavera, verão, outono e inverno.
Fim e recomeço
Eterna é a vida.