Este mar que me encara nos olhos
Faz-me querer sair por ele na descoberta.
O vento, sopra, sussurra, grita
Rompe os ouvidos com palavras incertas
Notícias de outros rumos, marés abertas.
Navegante de areias a andar na praia.
Quero antever o mar rasgado na quilha,
Imaginar os sulcos de espuma traçados
Deixados pra trás no finito do barco
Do ponto de partida ao ponto de chegada.
Fico a remoer idéias e possibilidades.
E a vontade de navegar enche-me as velas.
Caminho na areia em passos largos, profundos,
Como quem quer marcar com os pés o trajeto.
Rota segura, eu penso e, afundo os passos.
Para deixar as marcas que servirão na volta
Nesta trilha de mares navegados,
Mare nostrum.
E as ondas que chegam
Apagam tudo depois que passo
E voltam ao mar vezes sem fim.
Viro finalmente no fim da praia.
Quero rever a obra terminada,
Com o olhar de quem já alcançou o objetivo.
Demoro para entender,
Não sobraram as rotas que tracei,
As águas que naveguei, os momentos que vivi.
O mar apagou tudo, e o mundo por onde andei,
Surgiu novo, como se fosse um desconhecido.
Corro enlouquecido atrás das ondas, grito e reclamo,
Culpo o mar, o céu, a areia, o infinito,
Todos cúmplices desta eterna roda maluca.
Estou furioso, mas respiro,
Sentado na areia, fico a olhar ondas a chegar
E aos poucos caio em mim.
A vida e o mar sempre diferentes
Mas isto é o bom de viver,
Um momento novo a cada instante.
Olho a areia e volto a navegar na praia em passos largos…
É ilusão a vida no pensar.
Viver é mergulhar, sentir, arriscar
Cair nas ondas…
Experimentar…
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