Autor: José Fernando Rodrigues Pimentel Sanches
FLAGRANTES DA VIDA REAL
Corria o mês de Dezembro de 1977.
Domingo, madrugada, todos reunidos em casa do “ Ti Firmino Ingueira”, de volta de uns bons rachos a arder na lareira, e alguns degustando-se com um pouco de aguardente. Talvez por ser o mais novo, o sangue fervilhava mais nas veias. Comecei a “puxar” por eles, e lá decidimos sair.
Ainda não tínhamos andado 500 metros, desatou a chover. Abrigamo-nos debaixo de uns carrascos. Veio uma aberta e lá continuamos. Perto da Capela da Nossa Senhora da Vila Velha, parece que alguém estava do nosso lado, o Sr. António “Antoninho” mata o 1º do dia - um coelho. Não demorou muito tempo que os cães levantassem outro coelho, que eu matei, e pouco tempo depois o Guilherme do Souto matou outro.
Mas nesse dia os nossos objectivos eram outros: Raposas - E foi junto à capela de Nª Senhora, debaixo do carrasco que arquitectamos os planos para a “operação raposa”, que consistia no seguinte:
Havia uns buracos num lameiro da Ribeira de Cavalos e eram para lá o primeiro ataque. Eu e o Ti Firmino, íamos na frente, ocupando posições estratégicas, vindo depois o restante exército, composto pelos bravos combatentes - “Ti Chico Moleiro”, Guilherme do Souto e Ti António Antoninho. (Diga-se que cumpriram plenamente a missão que lhes era confiada)
O Ti Firmino com um tiro certeiro matou uma raposa, terminando a investida naquele local.
O próximo alvo era o “Escoval Negral” do Sr. Figueira, nas costas da Soalheira.
Como equipa que está a ganhar não se mexe, a táctica era precisamente a mesma. Dois tomam posição e depois o resto (3) da armada ataca. Mas não sem antes, numa borda de um lameiro, levantado pela “Lisboa” (cadela do Ti Chico) matei mais um coelho.
Voltou a chover. Tivemos que nos enfiar debaixo de umas palas de pedras, e aguardar. Entretanto fizeram-se horas para a bucha e atacamos também.
Já com os estômagos aconchegados, rumamos ao centro das operações. Já posicionados aguardamos em silêncio a chegada da “infantaria”.
De repente ouço um tiro do lado de onde estava o Ti Firmino, mas não soube mais nada. Meio minuto depois uma raposa. Acerto-lhe com o 1º tiro e matei-a com o 2º tiro. Vou a correr para a apanhar e quando cheguei, a mesma estava “cravada” no focinho do meu cão “Skip”, uma pedrada na cabeça e lá largou.
Carreguei-a para o meu posto, onde já tinha a 1ª pendurada.
Nisto aparece o Ti Firmino com outra - 3 raposas, no total.
Bem, é aqui que reúne o “estado maior” e chega à conclusão, que teríamos que regressar ao quartel (casa) pois já era muito peso para carregar às costas.
Entramos na aldeia pela porta principal, mostrando os troféus.
Mais tarde vendemos as 3 peles ao Sr. Manuel Pereira, dono da casa “Tozito” em Mogadouro, tocaram 800$00 a cada um. Naquele tempo era muito dinheiro.
E foi assim neste dia a nossa ida à guerra.
Quero ainda prestar uma singela homenagem a estes amigos “António Gonçalves, Guilherme Fernandes, Francisco Freitas e Firmino Fernandes”, por terem acolhido este jovem, na altura de 18 anos, no seu grupo de caça, tratando-me tão bem.
Obrigado a todos
José Fernando Rodrigues Pimentel Sanches
“Uma forma diferente de revisitar Castelo Branco”
Olá Zé, muito bom tua crónica.
ResponderEliminarMuito legal será que ainda tem bons caçadores na terra?
Olá,
ResponderEliminarencontrei por acaso este blog e gostei muito do conteúdo, parabéns. Tendo um tempo visite http://daquidepitangui.blogspot.com/
Abraço.