Revisitando Castelo Branco

25/01/2011

SANTA MARIA DE CASTELO BRANCO (1) - Nota Introdutória

Autor: Manuel Augusto Carlos

Sobre a freguesia de Castelo Branco apresentarei, oportunamente, alguns artigos em formato resumo / tópicos que são parte integrante de um Ensaio Monográfico não académico, intitulado “Santa Maria de Castelo Branco” que penso completar muito brevemente. Optei por uma linguagem corrente e acessível, contudo, um ou termo terá a coloquialidade necessária e não respeito, por opção, o recente acordo ortográfico. Não é fácil dissertar sobre temas históricos cujas fontes são precárias, inexistentes e muito documento apócrifo (cópias de conveniência). No entanto, cruzando factos históricos, autores ibéricos, raciocínios de pura lógica e recorrendo ao onomástico é possível aproximarmo-nos de uma realidade vivida pelos nossos antepassados.

Tratarei da importância do castro de Santa Maria a Velha num contexto de estratégica local até aos benefícios da romanização; das lutas com Mouros (justificação da corrupção da palavra ou do seu étimo “Pelejar” que derivou em “Prejal” ou “Preijal”, local conhecido pelo “Cabeço dos Mouros”); da influência do Mosteiro de Castro de Avelãs ao direito de Padroado na Comenda de Santa Maria de Castelo Branco independente da Comenda da Ordem de Cristo de S. Mamede do Mogadouro no esforço da reconquista cristã; do predomínio dos Braganções (não confundir com a casa de Bragança fundada após Aljubarrota), Sousões, Távoras e outras linhagens vindouras de famílias patriarcais já na alvorada da nova riqueza adquirida pelo comércio de escravos, pelo “achamento” de novas terras em mares nunca antes navegados e outros negócios da China que permitiram comprar títulos de nobreza, prática muito comum na Europa aristocrática sem esquecer, obviamente, a importância da entrada de Judeus no nordeste transmontano expulsos de Espanha em +/- 1490 e que o bom senhor rei D. João, o segundo de seu nome, aceitou a troco de 2 moedas de oiro por cabeça. Neste contexto vamos descobrir a nova rua das “Paneiras” numa “Castelo Branco” seiscentista, à cabeça de uma rica Comenda nas terras que tinha na diocese de Miranda, bispado criado em 1545.

Não esperem contos da carochinha! Lancei às urtigas a velha cartilha histórica, a exemplo – um dia, um professor doutor muito mediático, de visita pelo Mogadouro, querendo homenagear a boa gente da terra (que bem merecem), disse que o Pelourinho da vila… mas Mogadouro não tem, presentemente, Pelourinho! Já teve com certeza! (onde está ele?) Todas as terras que outrora receberam carta de foral edificavam um pelourinho consolidando a honra administrativa, qual foguete em dia de festa e calhaus não faltavam na nossa terra. O que a Vila do Mogadouro tem é uma Picota – provavelmente, pelo simplório formato, erigida pelo 3.º ou 4.º Távora feudal, senhor do Mogadouro, para assinalar a sua prepotência e publicitar os castigos ali infligidos e ao mesmo tempo recordava o antigo pelourinho quiçá “transladado” para outra terra mais na moda. Mas há, mesmo oficialmente, quem insista em deturpar Pelourinho por Picota e vice-versa, em Castro Vicente por exemplo, aí sim, temos Pelourinho muito recente de estilo manuelino. Quando se diz que “a terra tal” teve a primeira carta de foral lavrada pelo “rei tal” não significa que fosse o primeiro foral, o que não temos é documento outorgado que comprove uma anterior carta de foral, o que é diferente, não acham? Há Historiadores que afirmam a iliteracia do nosso rei conquistador e fundador da nação – o facto de não haver nenhum documento assinado pelo D. Afonso Henriques não significa que o “homem” não soubesse escrever, logo ele, de educação objectiva e própria para futuro rei e sabemos que deu muita carta de foral por uma geração ou duas e mesmo a “jure perpétua” por exemplo no caso da vila de Arouca na pessoa da sua neta, a Rainha Santa Mafalda. Os forais tinham o objectivo de fixar os povos na terra que trabalhavam consolidando a prática administrativa, fiscal e social.

Também quando se diz que Camões, no meio de águas bravas, ferido e aturdido pelo naufrágio, conseguiu nadar com uma só mão para na outra segurar o “Os Lusíadas” nada de mais errado. O “homem” nadou com as duas mãos, com os pés e até com os dentes, desesperadamente, até terra firme e, ao salvar o “coiro”, salvou o manuscrito que trazia, certamente, dentro da cabeça. São histórias como estas que eu, criteriosamente, declino. Porém, lendas de moiras encantadas e princesas sobejamente belas… venham elas!

Aproveito este ensejo para agradecer ao Autor do Portal de Castelo Branco, o grande Luís Pardal, o convite para apresentar uma visão histórica da nossa querida aldeia que quanto mais longe estamos mais saudade dela temos. Para terminar esta nota introdutória, não deixa de ser curioso o seguinte:

- Quem vem da Vila Velha e pelo caminho se demora a apreciar, com todos os sentidos, a natureza envolvente, em determinado momento da viagem verá que a Vila Nova se afigura como um coração muito bem desenhado. Foi este o sonho dos nossos antepassados, legarem-nos uma aldeia feita com muito amor.

Vale de Cambra, 25 de Janeiro de 2011.

Manuel Augusto Carlos

Sem Título-1

1 comentário:

  1. Anónimo14.2.11

    Manuel Carlos, achei muito interessante a tua abordagem à História local dessa bonita terra, que com muita pena não conheço. Sou da opinião que não devemos modificar a História só porque é mais bonito ou nos envaidece mais.
    Se não é Pelourinho mas sim Picota, deve-se assumir esse facto e até explorá-lo. Poder-se-ia, inclusivamente, investigar as atrocidades cometidas pelos senhores feudais e as Picotas são símbolos desse período de terror.
    Posto isto termino, mas antes sugiro também que abordes o Folar e as Alheiras da zona, procurando a sua receita mais original e a história da sua evolução. Ah! E já agora arranja alguns exemplares para a malta.
    Um abraço
    Luís Martins (Vale de Cambra)

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