Revisitando Castelo Branco

09/04/2008

Ao toque dos sinos

A aldeia acorda lentamente. Algumas lareiras já estão acesas e os chupões espalham no ar frio da manha, um bafo quente e esbranquiçado que se eleva acima dos telhados. Aos poucos a vida retoma o curso. A luz pálida da aurora treme no brilho branco metálico, dos telhados com geada. No céu as estrelas começam a desaparecer cansadas da longa e fria noite. O sol a espreguiçar os braços nos cabeços da aldeia, alonga o corpo por todos ribeiros e caminhos e firma o dia. A luz muda a cada segundo.


Uma trilha sonora começa a crescer por todos os cantos da aldeia. Galos cantam ao desafio, e são seguidos pelo cacarejar das galinhas que ficam a reclamar aborrecidas, com tanta vontade de cantar a esta hora do dia dos seus parceiros. Ouvem-se os burros, as vacas, as mulas, os machos, enfim todos os outros animais, a pedir o tratamento antecipado antes que mais um dia de trabalho comece. Os sons crescem na mesma velocidade do fim da noite. Até os cães que sabem que ainda não é hora de ir para o gado vão bocejando alertados com tanto rebuliço.
O sino toca as Avé Marias. Três toques... pausa... três toques... pausa...três toques!
Os que ainda resistiam sentem-se agora convocados para o recomeço da vida. As mulheres já saíram da cama faz algum tempo. Com a lareira acesa vão pondo a mesa para o pequeno almoço. As labaredas das giestas secas a estalar na lenha de freixo começam a aquecer a casa e empurram o frio lá para fora. Hora de acordar os filhos, de chamar o marido, de apressar a todos...

Uma grelha aquece no braseiro da lareira enquanto espera as fatias de pão para torrar. Aos poucos os donos da casa vão chegando e, um a um sentam á roda do borralho. Filho vai lavar essa cara diz a mãe para o mais novo, que com medo da água fria, tenta sem sucesso, passar o inverno sem lavar o rosto. Antecipando a cada um que chega e senta ouve-se o barulho dos passos e o arrastar dos bancos da cozinha. Não conversam entre si, falam por sinais e monólogos, nesta mímica rotineira do dia a dia, sabem de cor a função e não precisam usar palavras.

As torradas a assar espalham no ar um gosto bom que se mistura com o aroma do café e do leite fervido. Na seqüência assam umas alheiras que vão para a mesa a juntar-se ao queijo de ovelha, azeitonas, fatias de presunto e salpicão. O frio e o trabalho pesado exigem, aos que vão ao trabalho no campo, um reforço no estomago, saco vazio não se tem de pé.

Com os corpos quentes e mais acordados sentam-se todos na mesa. Comem enquanto espantam o sono de vez. O corpo, reage ao alimento e finalmente toma as rédeas do sono para recomeçar a vida. Fazem os planos, distribuem tarefas e funções, acertam detalhes. Para arrematar o pai e a mãe reclamam da geada que pode queimar a amêndoa e um a um vão deixando a cozinha com a certeza de que a vida continua e precisa ser vivida.

Começa mais um dia na aldeia...

1 comentário:

  1. Ao toque dos sinos. lembro de acabarem as brincadeiras nas eiras.São horas do Senhor. Acabava o rou-rou e começava a correria e a dispersão. Até amamnhã! Voltaremos no fim da escola para desempaatar ( quando o jogo era ao "salva tudo"). Lembro com um sorriso nos lábios o dia em que Susana amarruco até ao fim. o cansado e a desilução tinham tomado comta dela. Da varanda o meu pai dizia" Tirone fica." o Tirone era o meu, mais velho, cão de estimação. Lembro-me dele de miuda. Amarelo, coelheiro como nuna visto e companheiro. acompanhou-nos pela infância e pela juntuve. Nesse dia o Tozé arranjar um esconderijo complexo - enfiare-se dentro de um bidão e esperava, impaciente, pelo destcamentp da Susana, a Charneca que tnha uma boneca". Tocaram os sinos e o Toze lá continuo dentro do Bidão. Nestia o joge do tirolilo ficara sem resuloçao. Última badalada ... corre, disperasa e até aaammaaanhãã

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