É tempo de calor e tempo da segada.
Ainda lembro os dias da ceifa, ou como o povo transmontano diz, da segada, pois aqui "segava-se o pão".
Lembro mesmo até de ir "a cavalo da burra" levar a merenda aos segadores às Olgas.
As Olgas são o topónimo de uma zona entre Castelo Branco e Valverde, onde existe um caminho de ligação entre as duas aldeias, o tão conhecido chamado “Caminho das Olgas.”
A merenda era feita pela minha avó (a Aida) e era colocada em tachos de barro de modo a mantê-la quente até ao local. Era, depois embrulhada numa bela toalha de linho e colocada dentro dos alforges. Nem imaginam a água que me crescia na boca desde a hora, em que ajudava na, feitura das sopas até ao momento de as poder degustar. A viagem parecia muito mais comprida pois vinha um cheirinho ao nariz que aumentava a vontade.
Aí chegada, os segadores paravam a sua árdua tarefa e vinham até à sombras dos olmos da ribeira, no lameiro do Ti ..., bem já não lembro o nome, e punha a mesa sobre a o feno. O prato principal era as ditas sopas. As "Sopas da Segada" como é denominado este prato são feitas de pão, tal como as alheiras.
O processo é o mesmo, contudo são demolhadas pela água de cozer os grabanços (grão de bico). Por fim levam bacalhau e são aromatizadas por alho e pimentão-doce ou colorau, como lhe queiram chamar. Já de água da boca? Também eu. Fá-las-ei…
O pão era confeccionado pela minha avó e pela minha mãe. Pão saboroso e largamente conhecido e afamado. Há que fazer jus a tal confecção, não fosse a minha avó a tão afamada padeira do chamado e conhecido “pão do sr. José António Freitas. É claro que o pão era conhecido pelo nome de quem o distribuía. A cavalo na burra lá ia, uma vez por semana, a Mogadouro, vender o pão. Parecia a viagem do médico de província que neste caso era o padeiro de província.
Também não posso deixar de falar das merendas da malhada. Feita a segada era tempo de acarrejar os molhos de trigo, centeio ou cevada para as eiras. Ai. As medas! Que belo motivo para mais uma brincadeira. Depois dos escorregas do feno na regada vinham os escorregas pelas medas abaixo.
Dia de malhada ou malhadeira era dia de trabalho para os adultos, mas também dia de alegria pela recompensa dos duros meses de trabalho.
A minha casa fica na rua das Eiras, pois nela existam duas, as do Sr. Raul Afonso e as do Sr. Nicolau, que mais tarde eram usadas como “parque” de todas as nossas brincadeiras. Ao lado fica a E.N. 222 que leva às eiras públicas, hoje transformadas, definitivamente, em complexo desportivo da aldeia.
Podem imaginar a azafama que por aqui acontecia. Carros de bois, carros de burras, carros de mulas carregados de molhos de cereal a caminho das eiras. O chiar dos carros “tocavam” uma sinfonia digna de um qualquer grande compositor.
Agora só resta a malhada e recolher a palha para a cama do gado. Havia na aldeia várias malhadeiras, sendo que as últimas que deixaram de laborar foram as do Sr. Raul Afonso, que geriu a freguesia por diversos mandatos, e a do Sr. Escalhueiro, homem abastado da terra e sobejamente conhecido na vila de Mogadouro pelo seu estabelecimento comercial e pelo seu afamado bacalhau e polvo.
Artigo assinado por : Aida Freitas Ferreira
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