A eleição do ultimo regedor de Castelo Branco aconteceu na escola primária. Tínhamos acabado de eleger o presidente da junta, o Senhor Raul Afonso.
O ato exigia eleições para que se escolhesse tambem um novo regedor. Foram indicados alguns nomes, porem nenhum deles foi do agrado do povo.
Nisto alguém se lembrou do Arlindo e sem parar já começaram a fazer os boletins de voto. Os ditos boletins eram tiras de papel enrolado com o nome dos candidatos. Nestas eleições em especial, tivemos dois candidatos, eu e o Julio Casadinho que era o antigo regedor .
Mas deixem explicar como tudo aconteceu e em que circunstâncias:
Ao ouvir falar o nome do Arlindo, a senhora, A. M, gostou da ideia e junto com o senhor Nascimento que era o alfaiate do vale começaram a pedir os votos.
- Bota aqui pro Arlindo
Quero lembrar que os eleitores estavam reunidos por perto, e que nos padrões atuais das eleições, não se poderia falar dos candidatos durante o ato eleitoral. Mas era Castelo Branco em 1976…
Enquanto eles falavam a todos para que votassem em mim, teve alguém que viu e começou a dizer:
-Assim não estava certo, não valia fazer batota!
Nisto logo se juntaram mais a dizer:
- fica ele e mais nada. Precisa-se de gente nova!
E responderam:
- Esta bem, mas tem que haver democracia!
- Mucracia, fica ele e pronto!
- Esta bem, mas com democracia!
Nisso alguém perguntou:
- Ó ZABEL o que é a mucracia?
E logo ela respondeu a rir:
- Não se meta nisso a mucracia e uma batota onde todos querem mandar
- Eu bem me parecia que coisa boa não era...
- Mas não vai ficar tudo o mesmo, bota aqui pro Arlindo e pronto.
Nisso o Julio Casadinho disse:
- Votai todos para ele que eu já estou farto disto.
Assim fui eleito com maioria absoluta, não foi preciso contar os votos. Recebi os parabéns. Uns riam, outros diziam:
- Se estávamos mal ficamos pior...
Acabado de ser eleito agradeci a confiança que depositaram em mim e prometi que iria fazer o melhor à bem de todos e pela democracia.
Não me deixaram terminar de falar e já me cortaram a dizer:
- Ainda acabaste de ser eleito e já estas tu também com a mucracia!
- Cale-se e deixe o ouvir,
Continuei: - Bom ate aqui tudo bem, mas eu quero saber quanto vou ganhar?
- Isso e lá com a câmara, alguém falou.
Respondi: Não, isso não, tem que ser o povo a pagar se quiserem que fique, ou metam outro!
Ninguém disse nada, a resposta que veio foi só o silêncio.
Continuei: - Eu proponho que cada um pague com o que colhe, quem colhe trigo da um alqueire, ou mais conforme o que colhe, quem colhe vinho da uma remeia... quem nao colher pao ou vinho pode dar a galinha ou o parreco,
g argalhda geral
De pronto alguem falou:
- Caralh… ! Do meu não bebes, da muito trabalho!
E sem ligar para o que falava continuei: - outro da feijões, mas, não se preocupem, nas colheitas eu vou a vossa casa a receber.
Cortaram de novo a minha fala:
- Podes dar a volta ao povo, mas de mim, não levas nada!
E já com ares de autoridade respondi:
- Isso é o que vamos ver, tem que haver democracia!
- Ai, lá volta ele com a mucracia, tamos bem aviados!
Alem disso e como sabem o regedor senpre teve dois cabos os guarda costas escolhi dois homens de minha inteira comfiança:
O senhor Luis Pardal e o Senhor Amandio Gonçalves mais conhecido pelo Amandio Mangas, era o pai do xico lagarto.
Depois disso na primeira vez que fui a câmara de Mogadouro, ja lá estava tudo relatado. Já sabiam de tudo, fui reçebido com abraços que eu dispenssei, vamos au que enteressa que querem de mim e para levantares as pistolas as estrelas e os cavalos.
E assim ali na Câmara Municipal, começou outra mucracia.
Mas esta fica para contar mais tarde, outro dia, eu prometo.
O que se passou dai para a frente vai sair a qualquer momento, estejam atentos.
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Arlindo Parreira
O ultimo Regedor de Castelo Branco
Contexto histórico:“Em Portugal, entre 1836 e 1976, o regedor era um funcionário público que representava a administração central junto de cada freguesia.Nas primeiras eleições, realizadas no primeiro aniversário da revolução, mais de 93 % da população acorreu às urnas, numa demonstração maciça de participação política. Os primeiros e escassos anos «após o 25 de Abril» viram uma proliferação de partidos políticos, um alto nível de participação eleitoral e inúmeras outras actividades políticas: greves, ocupações de terras, assembleias de trabalhadores e moradores, comissões de moradores, etc.Sob o Estado Novo, Portugal foi organizado segundo uma série de unidades geográficas dispostas hierarquicamente. A unidade política mais pequena era a freguesia. As freguesias variavam de tamanho e podiam compreender um certo número de lugares, aldeias e vilas. Uma cidade abrangia diversas freguesias. Cada freguesia tinha um órgão de administração local — a junta de freguesia. Um certo número de freguesias contíguas constituíam um concelho, dirigido pelo presidente da câmara, nomeado pelo governo central, e por um conselho municipal (a câmara municipal).Ao nível local, havia duas instituições governamentais: a junta de freguesia eleita e o regedor nomeado.O regedor representava a polícia e a administração do Governo. Era um residente local alfabetizado, bem conceituado, nomeado anualmente pelo presidente da câmara, de quem dependia directamente. As funções do regedor incluíam a recolha de dados para o censo da população, o policiamento da freguesia, a recolha de estatísticas sobre a agricultura e a indústria, afixação de decretos governamentais, notificação de mancebos para o serviço militar, comunicação ao presidente da câmara de irregularidades na administração da freguesia ou na actuação da junta. Em cada aldeia da freguesia, o regedor era auxiliado por um cabo da polícia, nomeado pelo presidente e por indicação do regedor.”[1]“Incumbia aos regedores: cumprir e fazer cumprir as ordens, deliberações e posturas municipais e os regulamentos de polícia, levantar autos de transgressão sempre que necessário, auxiliar as autoridades policiais e judiciais sempre que necessário, agir de modo a garantir a ordem, a segurança e a tranquilidade públicas, auxiliar as autoridades sanitárias, garantir os regulamentos funerários, mobilizar a população em caso de incêndio e cumprir outras ordens ou instruções emanadas do presidente da câmara municipal.” [2]A figura do regedor de freguesia foi extinta na sequência da introdução da Constituição da República Portuguesa de 1976. [3]
Referências:
[1] Riegelhaupt,Joyce Firstenberg,Análise Social, vol. XV (59), 1979-3.º, 505-523
[2] SANTOS, Maria José Moutinho, Bonfim - Séc. XIX: A Regedoria na Segurança Urbana, Cadernos do Bonfim nº1, Setembro de 2001
SOBRAL, J., As Divisões Administrativas de Portugal, ao Longo dos Tempos, Audaces, 2008
[3] Parecer n.º 31/2005 da Procuradoria Geral da República sobre a evolução da estrutura administrativa
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