Revisitando Castelo Branco

08/11/2009

O último Regedor

Autor: Arlindo Parreira

 
regedor 2Foto Castelo Branco decada 70

A eleição do ultimo regedor de Castelo Branco aconteceu na escola primária. Tínhamos acabado de eleger o presidente da junta, o Senhor Raul Afonso.

O ato exigia eleições para que se escolhesse tambem um novo regedor. Foram indicados alguns nomes, porem nenhum deles foi do agrado do povo.

Nisto alguém se lembrou do Arlindo e sem parar já começaram a fazer os boletins de voto. Os ditos boletins eram tiras de papel enrolado com o nome dos candidatos. Nestas eleições em especial, tivemos dois candidatos, eu e o Julio Casadinho que era o antigo regedor .

Mas deixem explicar como tudo aconteceu e em que circunstâncias:

Ao ouvir falar o nome do Arlindo, a senhora,  A. M, gostou da ideia e junto com o senhor Nascimento que era o alfaiate do vale começaram a pedir os votos.

- Bota aqui pro Arlindo

Quero lembrar  que os eleitores estavam reunidos por perto, e que nos padrões atuais das eleições, não se poderia falar dos candidatos durante o ato eleitoral. Mas era Castelo Branco em 1976…

Enquanto eles falavam a todos para que votassem em mim, teve alguém que viu e começou a dizer:

-Assim não estava certo, não valia fazer batota!

Nisto logo se juntaram mais a dizer:

- fica ele e mais nada. Precisa-se de gente nova!

E responderam:

- Esta bem, mas tem que haver democracia!

- Mucracia, fica ele e pronto!

- Esta bem, mas com democracia!

Nisso alguém perguntou:

- Ó ZABEL o que é a mucracia?

E logo ela respondeu a rir:

- Não se meta nisso a mucracia e uma batota onde todos querem mandar

- Eu bem me parecia que coisa boa não era...

- Mas não vai ficar tudo o mesmo, bota aqui pro Arlindo e pronto.

Nisso o Julio Casadinho disse:

- Votai todos para ele que eu já estou farto disto.

Assim fui eleito com maioria absoluta, não foi preciso contar os votos. Recebi os parabéns. Uns riam, outros diziam:

- Se estávamos mal ficamos pior...

Acabado de ser eleito agradeci a confiança que depositaram em mim e prometi que iria fazer o melhor à bem de todos e pela democracia.

Não me deixaram terminar de falar e já me cortaram a dizer:

- Ainda acabaste de ser eleito e já estas tu também com a mucracia!

- Cale-se e deixe o ouvir,

Continuei: - Bom ate aqui tudo bem, mas eu quero saber quanto vou ganhar?

- Isso e lá com a câmara, alguém falou.

Respondi: Não, isso não, tem que ser o povo a pagar se quiserem que fique, ou metam outro!

Ninguém disse nada, a resposta que veio foi só o silêncio.

Continuei: - Eu proponho que cada um pague com o que colhe, quem colhe trigo da um alqueire, ou mais conforme o que colhe, quem colhe vinho da uma remeia... quem nao colher pao ou vinho pode dar a galinha ou o parreco,

g argalhda geral

De pronto alguem falou:

- Caralh… ! Do meu não bebes, da muito trabalho!

E sem ligar para o que falava continuei: - outro da feijões, mas, não se preocupem, nas colheitas eu vou a vossa casa a receber.

Cortaram de novo a minha fala:

- Podes dar a volta ao povo, mas de mim, não levas nada!

E já com ares de autoridade respondi:

- Isso é o que vamos ver, tem que haver democracia!

- Ai, lá volta ele com a mucracia, tamos bem aviados!

Alem disso e como sabem o regedor senpre teve dois cabos os guarda costas escolhi dois homens de minha inteira comfiança:

O senhor Luis Pardal e o Senhor Amandio Gonçalves mais conhecido pelo Amandio Mangas, era o pai do xico lagarto.

Depois disso na primeira vez que fui a câmara de Mogadouro, ja lá estava tudo relatado.  Já sabiam de tudo, fui reçebido com abraços  que eu dispenssei, vamos au que enteressa que querem de mim e para levantares as pistolas as estrelas e os cavalos.

E assim ali na Câmara Municipal, começou outra mucracia.

Mas esta fica para contar mais tarde, outro dia, eu prometo.

O que se passou dai para a frente vai sair a qualquer momento, estejam atentos.

Visita o site todas as semanas nao estejas a espera que tem mandem o email, escreve alguma coisa, faz as tuas criticas, sem elas nao é possivel melhorar a nossa pagina!!!

 

Arlindo Parreira

O ultimo Regedor de Castelo Branco

 

 

Contexto histórico:
“Em Portugal, entre 1836 e 1976, o regedor era um funcionário público que representava a administração central junto de cada freguesia.
Nas primeiras eleições, realizadas no primeiro aniversário da revolução, mais de 93 % da população acorreu às urnas, numa demonstração maciça de participação política. Os primeiros e escassos anos «após o 25 de Abril» viram uma proliferação de partidos políticos, um alto nível de participação eleitoral e inúmeras outras actividades políticas: greves, ocupações de terras, assembleias de trabalhadores e moradores, comissões de moradores, etc.
Sob o Estado Novo, Portugal foi organizado segundo uma série de unidades geográficas dispostas hierarquicamente. A unidade política mais pequena era a freguesia. As freguesias variavam de tamanho e podiam compreender um certo número de lugares, aldeias e vilas. Uma cidade abrangia diversas freguesias. Cada freguesia tinha um órgão de administração local — a junta de freguesia. Um certo número de freguesias contíguas constituíam um concelho, dirigido pelo presidente da câmara, nomeado pelo governo central, e por um conselho municipal (a câmara municipal).
Ao nível local, havia duas instituições governamentais: a junta de freguesia eleita e o regedor nomeado.
O regedor representava a polícia e a administração do Governo. Era um residente local alfabetizado, bem conceituado, nomeado anualmente pelo presidente da câmara, de quem dependia directamente. As funções do regedor incluíam a recolha de dados para o censo da população, o policiamento da freguesia, a recolha de estatísticas sobre a agricultura e a indústria, afixação de decretos governamentais, notificação de mancebos para o serviço militar, comunicação ao presidente da câmara de irregularidades na administração da freguesia ou na actuação da junta. Em cada aldeia da freguesia, o regedor era auxiliado por um cabo da polícia, nomeado pelo presidente e por indicação do regedor.”[1]
“Incumbia aos regedores: cumprir e fazer cumprir as ordens, deliberações e posturas municipais e os regulamentos de polícia, levantar autos de transgressão sempre que necessário, auxiliar as autoridades policiais e judiciais sempre que necessário, agir de modo a garantir a ordem, a segurança e a tranquilidade públicas, auxiliar as autoridades sanitárias, garantir os regulamentos funerários, mobilizar a população em caso de incêndio e cumprir outras ordens ou instruções emanadas do presidente da câmara municipal.” [2]
A figura do regedor de freguesia foi extinta na sequência da introdução da Constituição da República Portuguesa de 1976. [3]
Referências:
[1] Riegelhaupt,Joyce Firstenberg,Análise Social, vol. XV (59), 1979-3.º, 505-523
[2] SANTOS, Maria José Moutinho, Bonfim - Séc. XIX: A Regedoria na Segurança Urbana, Cadernos do Bonfim nº1, Setembro de 2001
SOBRAL, J., As Divisões Administrativas de Portugal, ao Longo dos Tempos, Audaces, 2008
[3] Parecer n.º 31/2005 da Procuradoria Geral da República sobre a evolução da estrutura administrativa

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