Autor: Arlindo Parreira
Mais uma crônica do Regedor de Castelo Branco (o último).
A pedido de alguns amigos lá vai mais um acontecimento da juventude de Castelo Branco
Estávamos nos anos 1967 nessa época éramos muitos rapazes na aldeia, mas como em tudo, sempre existe um líder, que encabeça as iniciativas e na nossa terra, sempre era escolhido a dedo pela rapaziada. O papel do líder era selecionar os melhores e botar as culpas aos mais fracos quando alguma coisa corria mal, mas ao que me lembre nunca tivemos falhas. Esse líder era eu!
Sempre fui o melhor, e me orgulho muito disso, mesmo não tendo medalhas. Isto é a pura verdade, tanto que mais tarde e já com mais experiência e vivencia de minha liderança, fui nomeado e eleito Regedor, com mais de 100% dos votos.
Isto porem já é do conhecimento de todos, os que não sabem basta ler minhas crônicas aqui, no blog. Sei que sabem portanto já é do vosso conhecimento.
Quem me conhece sabe o meu sentido de responsabilidade, nunca mentindo aos que em mim confiaram. Apresentação feita ai vem o relato.
Estávamos mais ou menos no ano de 1967, por ai. Falava-se a boca cheia que tinha um meloal, ou uma seara de melões lá para ribeira do moinho do senhor Paulo Moleiro.
Era verdade, ali estava aos olhos de quem queria ver e pior de tudo perto do caminho. Um meloal como nunca antes fora visto em Castelo Branco! Que grande tentação…
Ficava situado ao passar a ribeira quem vai para a capela de.NSra. da Vila Velha. Do lado direito tinha a Horta Senhor, Avelino Bernardo, do lado esquerdo a Horta do Senhor Acácio Costa, que na época tinha uma nora de puxar água. Mais adiante tem um terreno que hoje pertence ao Armando Fernandes. Era aqui mesmo que estava o tal famoso e cobiçado meloal.
Entre a rapaziada muitos foram os que apresentaram planos para tentar saborear os melões. Mas ficaram só na vontade na maioria das vezes não tinham estratégia nem fundamento e todos deram com as burras na água. Isto deixou a malta cada vez mais animada, quanto maior o desafio maiores tem que ser os preparativos
O local estava vigiado de dia e noite pela família. Ninguém arredava pé desta tarefa de ficar sentinela aos melões. Para tanto comiam e dormiam armados de espingarda e cão de guarda perto de tão cobiçados frutos.
Tínhamos que bolar um plano, chamei os mais velhos e rápido chegamos a um entendimento. Que foi logo aceite por todos. A hora da rendição era ao anoitecer.
O pai levava a ceia, em uma cesta, ao guarda da noite. Todos os dias á mesma hora ele passava em frente da tasca do nosso amigo Tonho Antoninho, que por sinal, era um bom conselheiro para este tipo de trabalho.
Todos a espreita do dia e hora combinados, até que a oportunidade apareceu. Ao passar em frente da tasca, dois dos meus homens pegaram á porrada e esbracejando e falando que a guerra era por causa das cartas.
Ora ele passando, foi logo ao encalço dos dois rapazes que estavam a pancada, para os apartar. Assim que chegou perto deles mas, sem que parecesse algo combinado, ou sem dificuldade, um dele desistiu da pancada e foi embora fazendo ameaças:
- Isto não vai ficar assim.
O outro que ficou, falou com um entusiasmo convincente:
- Se não fosse o Senhor eu matava-o! Ia ser uma granda desgraça… E em tom de retribuição, ainda a espumar de raiva volta a falar: - Venha aqui beber um copo que eu faço questão de pagar uma rodada para quem me livrou de boas. Estou-lhe muito grato! Beba mais…
Estava tudo a correr como tínhamos planeado… Porem, a certa altura, ele resolveu se lembrar da cesta.
Disse: - A minha cesta que estava aqui? Dissemos para o tranquilizar:
- Olhe… A sua mulher passou por aqui para ir á fonte e ao ver a certa disse que a ia levar ao seu filho lá na horta;
Ele tranquilo e confiante respondeu aliviado:
- Melhor assim…
- Vou-me para casa! E voltou pela rua a despedir-se dos que ali estavam.
Lá na horta, o filho, farto de esperar e com fome, resolveu abandonar o posto de trabalho e ir a procura do pai para saber do teria acontecido.
Mal passou a ribeira em direção a casa…
Nós que já estavam por perto, profissionais do gamanço, equipados com alguns sacos largos, debaixo dos braços, tínhamos que agir com precisão e presteza.
Não se esqueçam que lá também tinha um cão! Mas este, foi fácil de domar, usando técnicas que não vou contar aqui. Ao nos ver por perto, correu sem ladrar e, só parou para olhar pra trás depois da fonte do vale.
Durante a operação, enquanto um fazia a colheita, outro com uma faca de mato tirava o gatilho da arma. que estava escondida na cabana debaixo da palha que servia de colchão.
Por segurança e para evitar algum acidente, foi enterrada de canos para baixo. E em sinal de terreno conquistado pusemos uma metade de um melão na coronha da arma.
Ao passar a ribeira pensando que ninguém tinha visto o trabalho, sai o senhor Avelino Bernardo,do cabanal do moinho. Com um sorriso irônico, chegou perto de nós para nos dar os parabéns.
E disse: - Vi tudo desde o começo… Realmente foi um trabalho bem feito. Não sabia eu da vossa habilidade. Como foi que conseguistes por o guarda de lá para fora?
Isso é um assunto para amanhã… Agora senhor Avelino é hora de por estes melões a salvo em lugar seguro.
- Bom trabalho, sempre quero ver a cara do dono amanhã… Boa idéia vou deixar que faça perguntas a ver se desconfia de alguém.
Ficamos a saber que por respeito e descrição ele nunca falou em nada para ninguém.
Arlindo Parreira
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