Autor: Aida Freitas Ferreira
O texto andava na gaveta e fazia parte do meu diário de infância e dos dias de Verão que passava com os meus avós e que com eles ia às hortas.E…depois de há tempos ler o trecho do meu primo Isaías sobre este local voltei ao meu arquivo pessoal.
Naquela noite quente a minha avó Aida (Cordeiro) veio a nossa casa depois do jantar perguntar-me se não queria ir com ela regar à horta das Lameiras ao que eu logo acedi.
Pelas cinco horas da manhã fui acordada pela voz da minha avó:- Oh Aidinha! Aidiiinha! Anda minha filha, levanta-te.
Acabrunhada fui-me vestindo e calçando. Desci as escadas para cozinha e aí já me esperava a caneca de leite com cevada e uma torrada.
- Despacha-te! Olha que o avô já foi há um bom bocado e já deve estar a chegar à horta. Exclamou ela no sentido de me apressar.
Quando desci as escadas de acesso à rua a burra já estava albardada e as portas da adega e da curralada fechadas. Faltava apenas eu. A madrugada estava ainda fria apesar de ser pleno Julho. Agasalhada pelo casaco de malha lá subi para cima da burra e subimos a íngreme rua da Igreja. Eu a cavalo e a minha avó a pé puxando a rédea da burra para a ajudar naquele intervalo da casa da Ti Garcinda, pois ali ela resvalava e de nada valiam as ferraduras pois os paralelos pareciam ter manteiga.
Passando o adro da igreja e chegadas ao triangulo a minha avó montou na burra. Eu escarranchada na frente da albarda e a minha avó sentada na traseira. Subir a estrada até chegar ao cruzamento da Serrinha da Rodela, no corte no Alto de Sto António e fugir dela. A falta dos balidos das ovelhas denunciava que já não estavam na corte ou mesmo até que tinham passado a noite ao relento, aproveitando as belas noites de Verão.
Atravessamos mais uma vez a estrada agora já do lado de baixo da Serrinha e descemos em direcção à horta do Arlindo a caminho da Devesa. Daqui até às Lameiras encontramos quase todos os vizinhos. O caudal do ribeiro era pequeno e até às Lameiras de Cima havia muitas hortas, muito feijão, muito cebolo e muito tomate para regar. A augueira traz água pois os das hortas de baixo madrugavam mais no sentido de obter rega. Fizera-se acordo dos dias de rega e este era já tido por tácito para que todos pudessem ter água na horta. Muitos aí passam a noite como forma de aproveitar o tempo e a água. Uma delas era a Srª Maria Neto, outra a tia Idalina e o Sr. Zé Rito. Os meus avós tinham a sorte de ter um poço na horta de que lhes permitia ter algum desafogo.
Os bons dias começavam ainda de noite pois aqui talvez pela força das encostas do vale a noite era escura. Mas a burra já sabia o caminho de cor e raramente tropeçava nos calhaus. Muitas vezes ouvia a coruja e ao amanhecer a passarada acordava e chilreava pelo caminho. A minha avó sabia identificar todos estes cantos e íamos dizendo.
Ao clarear do dia chegávamos ao cimo das Lameiras e entretanto eu já tinha saltado do burro para correr pela encosta acima e ver as vistas de toda a Devesa.
Entretanto o meu avô Zé António chamava-me acrescentando:
-Então rapariga ! Não vens ajudar a avó a regar? Deixa lá as subidas às árvores por ora, anda cá p’ra baixo ajudar. Vais para o fundo do suco ver quando a água lhe chega.
Gritei: - Já voooooooou! E…desci em escorrega! Uau!
Correr os sucos das batatas de ponta a ponta e…- Já chegou!
No fim da rega já o sol começava a torrar e a minha avó já tinha colocado seu chapéu de palha e, já muitas vezes dissera:
- Aida olha o sol!? Coloca o chapéu! Anda cá? Não queres lanchar? Toma lá pão com queijo.
Ao chamado do chapéu fazia ouvidos moucos mas ao pão com queijo não me dava por rogada e lá ia eu procurar a fardela da merenda.
Agora restava tapar o poço e virar a augueira para o ribeiro.
Oh Zé! Tens horas? Perguntava a minha avó e este colocava a mão em pala no boné, olhava o sol e respondia: - São prá aí onze.
Ou seja horas de colocar pés ao caminho. O sol já ia alto e continuava a queimar. O regresso até ás hortas das Devesas era feito a correr à frente da burra, a saltitar e colher as floritas que me apareciam na berma do carreiro. O meu avô esse iria mais tarde e como estava com o carro das burras faria o percurso da estrada, passando o Salgueiral.
(www.fmsoares.pt)
Carro de Bois e Arado, miniaturas em madeira, oferecido pela Junta de Freguesia de Castelo Branco de Mogadouro (35 x 17 x 18 cm.) Presidência Aberta do Dr. Mário Soares em Bragança (15 a 26 de Fevereiro de 1987)
Curiosidade: Este carro de bois e arado foi feito pelo Sr. Ernesto Silva para a Junta de Freguesia oferecer ao Exmo. Sr. Presidente da República, Dr. Mário Soares
Aida Freitas Ferreira
Aida eu tambem fiz muitas vezes este mesmo caminho,indo um pouco mais longe para ir com os meus avos para a horta da Granja.Ali comi as melhores batatas guisadas com cabaçote,a minha avo Arminda tinha là uma panela de ferro e fazia o almoço na horta.como era muito longe passavamos là o dia.Nos faziamos o caminho todo à pé pois o meu Avo aproveitava para levar a burra carregada com as sacas de estrumo,pois para ali nao havia outro acesso,nem carro das bestas podia la ir.Mesmo assim eu nunca perdia a ocasiao de ir com eles Momentos que nao se apagarao da minha memoria,e que graças au teu texto hoje revivo,até o cheiro du monte florido chega a mim
ResponderEliminarObrigada Aida
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