Revisitando Castelo Branco

02/03/2011

Carros de bois

Autor: Arlindo Parreira

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Quero lhes falar de como eram construídos os carros de bois e como eram úteis nas lidas, e afazeres da agricultura e do dia a dia da nossa terra.  Puxados por bois, vacas, machos, burros, etc.  estavam sempre presentes em todos os momentos da vida na aldeia.

Eram usados no transporte de tudo, no acarretamento de cereais nas vindimas, em todas as colheitas. É até difícil de acreditar nos dias de hoje, que eles foram os responsáveis pelo transporte dos materiais utilizados na construção das casas mais antigas feitas de pedra solta. Ao olharmos as propriedades de nossa terra, que na sua maioria, são rodeados por muros e paredes de pedra a delimitar os terrenos, também podemos ver a importância e  utilidade que eles tinham.  Naqueles tempos eram Indispensáveis na nossa vida.

Mas, não quero nomear tudo, com risco de ser cansativo, os mais velhos sabem bem do que estou a falar.

Ainda andava na escola com 11 anos e eu já tinha o bicho da madeira. Assim que saia da escola eu ia para a oficina do meu tio apanhar umas pontas de tábuas e caibros que sobravam para eu também fazer os meus projectos. Com a ajuda do meu primo e com as ferramentas do meu pai cortava pregava e, assim fazia os meus brinquedos em madeira, que até eram admirados pelos meus companheiros de escola

Moto de MadeiraCopiar O meu tio dava-me as rodas que eram peças que saiam das  dos carros e com elas fazia as motos como nós lhe chamávamos. Depois de pronta subíamos com ela ás costas até a Escola metíamos óleo ou azeite nos eixos para deslizar mais rápido e chegar mais longe possível. Depois era só mandar ver pela encosta abaixo. Quem chegasse mais longe ficava feliz por ter ganho a corrida. Sempre aconteciam uns  tombos mas isso era normal e dava alegria.

Como eu gostava de trabalhos em madeira o meu tio António Bernardino da silva e o meu primo Ernesto Silva convidaram-me par ir aprender com eles. Era o meu sonho e logo aceitei o convite,  pois meu pai também era do oficio mas já não trabalhava.  Com eles aprendi a fazer de tudo, carros, arados, jugos, charruas, barris para o vinho, cubas, portas, janelas, escadas. Tantas e tantas coisas uteis para os afazeres da terra como por exemplo os  teares onde eram feitas colchas de linho, tapetes, colchas. Prometo que ainda lhes falo dos teares e do linho mais tarde em outro artigo. São muitas lembranças.

Este inicio foi para recordar como tudo começou, porem que quero falar e como tudo isto era feito. Não esqueci  os nomes das peças e as medidas . Os jugos para os bois eram feitos de forma muito diferente pois que eles puxavam com a cabeça o carro e a charrua arado etc.. Além de especiais eram mais pesados e fortes diferentes dos dos machos por exemplo que eram mais leves que neste caso eram diferentes porque nos machos se usavam melei-as e os jugos tinham cavilhas.

Mas o carpinteiro não trabalhava apenas a madeira. Ele tinha que fazer as próprias ferramentas, como o compasso, arco de pua, enxós, graminho, plaina, machado, serrote, formão, e tantas outras. As peças de ferro das ferramentas de  corte eram feitas na frágua, ou na forja sobre indicação do carpinteiro.

A carpintaria era uma pequena indústria artesanal que desapareceu com o andar dos tempos, mas que merece todo o nosso respeito, primeiro por ser uma arte, e segundo pelo seu papel no desenvolvimento das nossas aldeias, vilas e cidades.

Os carros de bois que são o tema deste meu artigo muito usados em seus tempos áureos,  e sejam nos dias de hoje uma figura lendária, infelizmente hoje em dia só são vistos nos jardins das casas como decoração. Triste sina para algo que até muito pouco tempo atrás era quem punha Portugal em movimento. E  não podia parar, pois era sem nenhuma dúvida, o principal factor de desenvolvimento.

Diferentemente do que muitos possam repensar, o carro de bois que se apresenta como uma peça bastante rústica, pode ser considerada, como uma verdadeira obra de arte onde os cálculos são perfeitamente observados com muito rigor e precisão.

O carro de bois é composto de três partes. O par de rodas o eixo e a mesa. A matéria-prima para a construção do carro eram a madeira e ferro.

A madeira utilizada na construção das rodas era de freixo, que precisava estar bem seca e ficava anos armazenada no palheiro até curtir e secar completamente. No restante do carro utilizávamos a madeira é o olmo.

Na construção das rodas são utilizadas cinco peças em cada uma, que são: o meão, duas cambotas e duas arreias. O meão é a peça central da roda. A produção desta peça era a parte  mais importante. É ela que recebe o furo quadrado onde e fixado o eixo, por intermédio das respigas e demais parte das rodas. As cambotas que se apresentam como duas meias luas, são fixadas ao meão por intermédio das arreias que se unem, por intermédio dos furos abertos no meão e nas meias luas. As arreias constituem peças internas, não sendo visíveis depois da roda montada.

Cada roda completa-se com a aplicação do aro de ferro, que e fixado mediante a aplicação de pregos grandes chamados cravos de cabeça grande. O ferra das rodas garante maior resistência e reveste completamente a roda. Esta operação de colocar o ferro nas rodas a que chamávamos de engulhamento era feita na forja. O ferreiro aquecia as barras na forja bem ao rubro para facilitar a dobragem em circulo a medida das rodas, este dia era de muito trabalho era preciso malhar o ferro enquanto bem quente, os donos dos carros já encomendados este dia davam muita e  boa comida e muito vinho para ter força .

O eixo que une as duas rodas é constituído de uma única peça, que vai encaixar nas respigas do meão, levando uma cavilha por fora para não se soltar das rodas

A mesa é a parte mais complexa do carro a que mais exige simetria. São peças básicas da mesa. O cabeçalho é a maior parte da mesa, é construída de uma única peça em madeira de olmo sem nós, vai ser rasgada e dobrada no fogo para facilitar a dobragem, á medida que se vai dobrando são aplicadas as travessas onde vai ser aplicado o soalho, e as engarelas, os estadulhos e outros componentes, depende do trabalho que pretendem fazer.

As medidas variam de acordo com as encomendas: 

Mesa: comprimento 3 metros por 1,30 de largura.

Cabeçalho: 4,5 a 5 metros

Eixo: 1,65 de comprimento e 22 cent. De espessura

Roda: 1,20 de altura.

Pronto e acabado o carro pode transportar cerca de mil quilos, quando bem carregado ele canta pode ouvir-se a léguas de distância. Dá uma saudade do tempo em que os lavradores se uniam  no acarretamento dos cereais e ao chegar as eiras vinha aquela fila de carros cada um cantando de maneira diferente. Era a coisa mais linda, os carros chegavam a chorar, e os donos todos vaidosos por chegarem com as grandes carradas.

Os carros de bois costumavam trazer 30 pousadas, os dos machos 20 pousadas. Cada pousada tinha quatro molhos. O lavrador usava uma vara para guia dos animais, chamada de aguilhada, com um ferrão na ponta que era usada quando a marcha era lenta ou queria mudar de direção. Todos os animais tinham um nome, a maravilha a boneca a castanheira, o granjo o bandido, e até nomes  feios quando o animal era matreiro.

Entre as palavras mais utilizadas para os animais era Oooaaa! Que significa parar

Saudade e recordação, porem quando vejo um carro  abandonado é uma imagem que me  corta o coração

Arlindo Parreira

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