Autor: Dulce Pombo
As mães faziam a massa das Rosquilhas para receber o futuro genro de carnaval. A farinha, os ovos, o açúcar e o cheiro da aguardente reinavam na cozinha.
As raparigas ansiavam pelo silêncio da noite enquanto os rapazes se organizavam e concorriam entre si para entrar na casa da tão ansiada Noiva de Carnaval.
Jantava-se cedo e com a lareira acesa a aldeia ia quebrando todos os ruídos do dia. Todos sentiam o seu respirar até que o primeiro chamado se ouvia.
Eles, os rapazes haviam já acertado entre eles quem seria o Noivo de cada Noiva. Elas, em casa, disfarçando a ansiedade sempre esperavam ser escolhidas pelos seus eleitos.
Toda a aldeia estava curiosa, tal momento era não só uma festa de carnaval mas certamente os indícios de namoricos escondidos ou sonhados.
Todos se calavam e ouvia-se o primeiro nome do primeiro pai da primeira noiva:
Ó Sr. (nome do pai da rapariga)
A sua filha (o nome da filha) já se quer casar
Quem lhe havemos de dar para a contentar?
Seguia-se um silêncio de morte em toda a casa e em toda a aldeia. Os rapazes faziam um compasso propositado de forma a criar um suspende que fazia rebentar o coração da noiva de carnaval. E…claro, em todos os lares se ouvia a novidade do pretendente:
- Há-de ser o (fulaninho de tal)
- Que é capaz de a contentar
- É BOM RAPAZ!
- É BOM RAPAZ!
Com certeza que nem sempre se imaginava que o fulaninho era o que havia dado mais no leilão para poder ser o noivo. Mas sendo o imaginado ou não, o desejado ou não, acabava de ganhar o direito a entrar na casa da noiva para beber o copo de vinho, a rosquilha frita há poucas horas.
O pai da noiva o recebia:
- Entra…rapaz…entra….
A noiva de carnaval mantinha a postura que o pai transmontano esperava e assim o noivo podia permissão para dançar no dia seguinte com a Noiva no baile de carnaval.
Tenho a certeza que muitos casamentos se adiantaram na noite de carnaval. Outros ficariam pelos sonhos de adolescência. Mas era assim que se viviam a quadra carnavalesca na minha aldeia.
Outros terão registos diferentes. Estes foram os que eu guardei além das risadas ao ver as minhas amigas enfarinhadas quando tentavam escapar aos rapazes!
Fui à minha aldeia dois dias antes de carnaval deste ano de 2011 e para meu feliz espanto lá andavam uns rapazes com um enorme funil a gritar AÚ pelas ruas da aldeia. Foi então que os registos da minha memória reavivaram e me trouxeram fragmentos de sons, emoções, paladares e saudades.
Muitas saudades!
Dulce Pombo
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