Revisitando Castelo Branco

19/07/2011

TRINDADE COELHO NA ROTA DE MEIRINHOS E VALVERDE

Autor: António José Salgado Rodrigues

Após a sua morte trágica ocorrida em 4 de Agosto de 1908, deixou viúva a MARIA LUCILLA, que passou a viver com o seu único filho HENRIQUE TRINDADE COELHO e nora Maria Cristina em Lisboa. Este foi também escritor, jornalista e diplomata no Vaticano e Santa Sé, se a memória não me atraiçoa, foi também Ministro de Portugal no Quirinal, lugar que aceitou o convite que lhe fora formulado para sobraçar a pasta dos Estrangeiros.

Tinham familiares em MEIRINHOS e foi nesta freguesia do concelho de Mogadouro que a viúva de Trindade Coelho passou alguns dias para descanso, em casa de ANTÓNIO CARLOS PINTO SALGADO e esposa MARIA TRINDADE COELHO ou MARIA DOS SANTOS COELHO SALGADO, isto por volta de Junho ou Julho do ano de 1920.Esta nasceu no lugar de QUINTA DA ROCA, anexa à freguesia de VALVERDE, onde foi Professora Oficial. Há quem diga estar sepultada no cemitério da ROCA. Deste matrimónio nasceu LUCILA DA ENCARNAÇÃO SALGADO ou LICILA PINTO SALGADO (Lucila em atenção à Maria Lucilla), neta materna de MARIA INFÂNCIA TRINDADE COELHO, conforme documento oficial do assento de baptismo, IRMÃ de Trindade Coelho, havendo quem diga que seria neta de MARIA DA CONCEIÇÃO TRINDADE COELHO, também IRMÃ de Trindade Coelho, não sei qual a verdadeira, que viria a contrair matrimónio com Francisco Rodrigues Bernardes, -“ o Professor Rodrigues” mencionado no texto “Castelo Branco e Trindade Coelho”, onde foi Professor Primário, mas ambos nascidos e criados na referida freguesia de Meirinhos. Deste matrimónio nasceram Maria Zelina Salgado Rodrigues e este vosso amigo António José Salgado Rodrigues.

Como atrás referi, a viúva de Trindade Coelho resolveu ir passar uns dias a Meirinhos a casa dos familiares também referidos, e daí a carta que Henrique Trindade Coelho escreveu a Maria Trindade Coelho a quem, tanto ele como o pai tratavam familiarmente por “MICAS”, como se comprova com as dedicatórias escritas pelo próprio punho em livros em minha posse e que adiante transcrevo, como também passo a transcrever a carta inédita que facultei ao meu prezado amigo DR. Pimenta de Castro, que a viria a publicar pelo menos numa Revista (já extinta) da região de Março de 1998. Ao cimo da primeira página é visível o “EX-LIBRIS” de Henrique, cuja divisa é “AGITADO COMO A LUA NA ÁGUA”. Eis a carta:

“MINHA QUERIDA MICAS:

TUA TIA SEMPRE RESOLVEU PARTIR.

QUATRO OU CINCO DIAS ANTES, RECEBERÁS UM TELEGRAMA AVISANDO-TE DA SAÍDA, QUE SERÁ NO comboio correio da noite, QUE CHEGA A Campanhã. NO DIA SAGUINTE ÀS SEIS DA MANHÃ, ONDE TEU MARIDO DEVERÁ esperá-la. AVISAREI TELEGRAFICAMENTE O FERNANDO.TELEGRAFO.TE, É CLARO, COM ANTECEDÊNCIA PARA TEU MARIDO TER TEMPO DE DAR, NO PORTO, AS SUAS voltas, QUE É, SEGUNDO ME PARECE, A FORMA AMÁVEL QUE ELE EMPREGA – PARA TE SER INFIEL. O PORTO AINDA É O MESMO DOS ROMANCES DE CAMILO. ABUNDAM AINDA POR LÁ AQUELAS FULMINANTES BELEZAS QUE MEIRINHOS NÃO POSSUE, NÃO ME REFERINDO A TI, É CLARO, QUE ÉS A MULHER QUE ELE ATURA- HÁ NÃO SEI QUANTOS ANOS DE RESIGNADO MARTÍRIO. POR CONSEQUÊNCIA, TOMA CAUTELA COM O PORTO E DESINFECTA BEM, NO REGRESSO, A ROUPA BRANCA DE TEU MARIDO ASPIRANDO.LHE PRIMEIRO, É CLARO, OS PERFUMES DENUNCIADORES QUE ELE TERÁ O CUIDADO DE DERRETER…NAS TRANSPIRAÇÕES OBRIGATÓRIAS DA CANÍCULA DE JUNHO…

RECEIO QUE A VIAGEM SEJA LONGA DEMAIS PARA TUA TIA. ELA É MAIS RIJA DO QUE EU, E, QUANTO A ESPÍRITO, TOMARA EU TER METADE DO QUE ELA TEM. SÓ TE PEÇO, OU ANTES, SÓ TE EXIJO UMA COISA: AO MENOR REBATE D´INCÓMODO OU D,INDISPOSIÇÃO, TELEGRA-ME LOGO. NESTE SENTIDO, CONFIO TANTO NOS TEUS CUIDADOS COMO NO TEU CORAÇÃO.

QUANDO ELA TIVER QUE FAZER QUALQUER VIAGEM, REFIRO-ME À DE MOGADOURO, QUE A FAÇA NAS melhores condições, CUSTE ELA O QUE CUSTAR. ISTO NÃO É UM AVISO PARA TI: - É UMA PREVENÇÃO A RESPEITO DE TUA TIA QUE TEM SEMPRE MEDO DE ME ARRUINAR. EU NÃO SOU RICO. MAS, GRAÇAS A DEUS, GANHO O SUFICIENTE PARA ME NÃO IMPORTAR COM FRIOLEIRAS. DEPOIS, NÃO TENHO HERDEIROS.QUEM VIER ATRÁS DE MIM QUE FECHE A PORTA. ISTO DE NÃO TER HERDEIROS É MODO DE FALAR. SÓ A SOBRINHOS E A PRIMOS AINDA HÉ-DE TOCAR – UM VINTÉM A CADA UM.

BEM. REGULA LÁ O BARCO COM TEU MARIDO. (ELE AINDA USA AQUELES BIGODES QUE CONTINUAM SENDO O MEU PESADELO?).

Responde a esta carta. DIZE À LUCILLA QUE LHE MANDO BOM-BONS PELA TIA.

PARA TI E PARA TODOS, GRANDE ABRAÇO DO

HENRIQUE

2/6/920

P.S. – REPITO: RESPONDE NA VOLTA DO CORREIO. Minha mãe leva uma mala grande. O BILHETE É PARA CARVIÇAIS? Teu marido que esteja em Campanhã.”

Por todo o exposto se conclui que este vosso amigo é BISNETO de Maria Infância Trindade Coelho ou da Maria da Conceição e neto da Maria Trindade Coelho, desta não restam dúvidas, e por isso SOBRINHO BISNETO do Trindade Coelho o que muita gente não sabe ou quer não saber ou ainda simplesmente ignorar…

Vamos às dedicatórias: Do Trindade Coelho, no MANUAL POLÍTICO do Cidadão Portuguez, edição de 1906, prefácio de Alberto D´ Oliveira Ministro de Portugal na Suissa.

“À sua querida Micas, com um abraço lembrança affectuosa do seu Tio m-º Amigo JOZÉ

Do HENRIQUE: “AMORES NOVOS” VERSOS. Para a MICAS com grande abraço do Henrique. Março de 1911.

“CARVÕES”: Para os Primos, pelo muito que lhes quer o Henrique.

Lisboa. Março de 1907

No livro de Trindade Coelho “AUTO-BIOGRAFIA E CARTAS”, com prefácio de D. Carolina Michelis de Vasconcelos de 1910. Na segunda folha diz: Aos EXMºS Senhores-(Segue-se o nome de 11 personalidades que não inúmero e que formaram a Comissão d ´Homenagem a meu pae, com a commovidíssima gratidão do filho Henrique .Nesta folha existia uma dedicatória escrita pelo punho do Henrique para os mesmos primos segundo julgo, pois essa dedicatória no canto superior direito dessa folha foi simplesmente CORTADA, o que só passado muito tempo de me ter sido devolvido por a quem o emprestei é que notei tal proeza… já lá vão mais de 20 anos.

O Lugar de Quinta da Roca e Valverde associa-se ao facto do pai de Trindade Coelho, de nome JOÃO TRINDADE, casado que foi com NARCISA ROSAS DA SILVA, além de comerciante, foi também alfaiate e proprietário de olivais da QUINTA DA ROCA , como referi anexa de VALVERDE, e onde possuía uma casa de habitação onde morava apenas na altura da apanha da azeitona. Essa casa, ao que me disseram em tempos, tinha numa pedra da parede as letras T.C., mas fui várias vezes ver se descobria, não o consegui e agora muito menos dado o estado de ruínas das casas aos anos abandonadas. Aos fins-de- semana deslocava-se a Mogadouro para se abastecer de produtos alimentares e bem assim a todos os outros habitantes de ocasião como ele, lhe solicitavam. Era ele que, da janela de sua casa e bem de madrugada, através de um búzio – género trombeta – fazia ecoar, o som de alerta para todos se aprontarem para o início de mais um dia de safra da azeitona.

Para terminar, vai um dos ditos característicos de Trindade Coelho: “ DO LADO DO CORAÇÃO NÃO TENHO BOLSO, COM MEDO QUE O METAL M´O ARREFEÇA”.

Mogadouro, Julho de 2011

(António José Salgado Rodrigues)

Trindade Coelho, esposa Maria Lucilla e filho Henrique.

Em baixo;”EX-LIBRIS” de Henrique.

(Clique para aumentar)Trindade Coelho, esposa Maria Lucilla e filho Henrique. Trindade Coelho, esposa Maria Lucilla e filho Henrique.

Em baixo;”EX-LIBRIS” de Henrique.

(Clique para aumentar)”EX-LIBRIS” de Henrique.

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