Revisitando Castelo Branco

09/08/2011

“Convivios…”

Autor:António José Salgado Rodrigues

 

SE BEM ME LEMBRO…

Aos Domingos de tarde e já em tempo alto, era costume a mocidade mais unida, iam fazer convívios dançantes para a Retorta ou para as Eiras.

As moças levavam os farnéis com boa merenda, os rapazes levavam os dentes. Para dar início ao convívio, começava-se com o jogo do anel, que consistia em um dos presentes colocar um anel entre as mãos colocadas em posição de quem está a rezar com as mãos bem espalmadas, e ia percorrendo o grupo um a um que aguardava, sentados na relva seca, com as mãos na mesma posição mas apoiadas nos joelhos e que abriam levemente para receber as mãos do que tinha o anel que seria depositado nas mãos que fosse entendido, às vezes já combinado. Findo o percurso, perguntava “quantos abraços dás a quem tem o anel?”. A resposta era um, dois, três… a fulana ou fulano e quem adivinhasse cumpria e depois quem tivesse tido a honra de ter sido contemplada com o anel, repetia o gesto e assim sucessivamente, depois lá se substituíam os abraços por beijos…

Findo este jogo faziam-se jogos de roda, findos os quais seguia-se o lanche e arrumados os farnéis, dava-se início ao baile propriamente dito e sem a vigia das mamãs já podiam dançar mais à vontade cada um com o seu par predilecto.

Dançava-se ao toque da filarmónica de beiços - o realejo -e quem havia de ser o tocador… nem mais nem menos que o ILUSTRE REGEDOR (Arlindo Parreira), mas ao que sei, quando a namorada andava a dançar com outro, a música só dava para duas voltas, mas quando o “malandro” dançava com a sua bela namorada, bem aconchegado (aperta, aperta com ela…) a dança durava bem mais, nem se cansava dos lábios…

Todos bem agarrados e sem a presença de estorvilhos, deixavam falar o coração com os corpos bem unidos, iam idealizando um sonho amoroso, os lábios macerados de beijos, tinham que se precatar com o passar das horas, por isso toca de aviar não fossem chegar tarde a casa, mas tudo correra às mil maravilhas e regressavam a casa, e pela noite dentro, já com a cabeça acomodada na almofada, julgo eu que o pensamento do ILUSTRE REGEDOR entrava num sonho de pálidas imagens de semi-recordadas raparigas banhadas pela prolongada luz do Sol nos descuidados dias estivais, de momentos de amor sob a lua cheia das noites de Inverno, imagens de ternura e de indefinido desejo, sexo espiritualizado pela distância em algo doce-amargo e precioso, sublimado pela alquimia do tempo que transforma a mão suada pousada na suave almofada de um seio assustado e palpitante num sonho insubstancial de juventude escassamente relembrado. .Queria beijar-lhe os lábios, afundar-se nos pélegos imóveis dos seus olhos cor de cinza…

Seria assim, Arlindo?

E ao acordares dirias lá para ti

- “OH! NUNCA EU DESPERTASSE DE TAL SONHO!.............

Forte abraço do António José Salgado Rodrigues

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