Revisitando Castelo Branco

09/08/2011

DR.VERGILIO JOSÉ P.CARVALHO

Autor:António José Salgado Rodrigues

-SE BEM ME LEMBRO,

Foi em tempos Castelo Branco a única freguesia do concelho de Mogadouro que se podia ufanar de possuir um médico residencial praticamente 24 horas por 24, sempre pronto a acudir desde a simples enxaqueca á mais dolorosa e grave enfermidade tanto aos seus conterrâneos como a outros doentes que o procuravam de outras aldeias vizinhas – o saudoso DR. VERGILIO JOSÉ PIMENTEL DE CARVALHO – que, qual João Semana, a principio montado no seu belo alazão, acudia a todas as chamadas urgentes, quantas vezes debaixo de tempestade de chuva, vento ou calor. De trato afável a todos tratava com urbanidade.

Todas as semanas se deslocava à freguesia de Meirinhos a dar consultas nas instalações da Casa do Povo que estava apetrechada com uma sala de consulta e outra de pequenos tratamentos. Ali passava a tarde até terminar as consultas, findas as quais sentava-se num pequeno muro que servia de banco e debaixo de um frondoso olmo, em frente da Igreja, a cavaquear com os amigos, que os tinha, pois sei que se sentia bem entre aquela gente.

Em Castelo Branco dedicava-se, além da assistência médica, da assistência à sua casa agrícola, que era vasta e das melhores, vivia sumptuosamente numa casa fora do comum para a época, rodeado de duas ou três criadas e que todos os albicastrenses conhecem, e melhor que eu, sabem qual o seu destino assim como o das suas propriedades. Tinha gosto pela lavoura que administrava com eficácia e saber, tendo casa para os criados e amplas instalações

Para recolha dos animais de raça bovina e muar e forragens. Nas horas vagas e de bom humor, também se entretinha a dedilhar o seu estimado bandolim para gáudio dos que o escutavam. Como qualquer mortal, também teve os seus amores arcanos.

Com a abertura da estrada que liga a Mogadouro e com o avanço do progresso e sua colocação no Hospital da Misericórdia, toca da comprar um Opel, que até equipou com gira discos, e que diariamente conduzia ao seu destino e recordo que alguns, do triângulo das placas à entrada para a povoação, o seguiam até ao alto da pedreira e olhavam o relógio a ver quantos minutos demorava.

Foi sempre um médico dedicado, de trato afável e que muito de si deu ao Hospital de modo a figurar nos anais das paredes, como benemérito, e onde também existia a fotografia de outro albicastrense cujo nome não me ocorre e sei que era conhecido por “CRISTO”.Na mesma parede havia a fotografia de outros beneméritos e desconheço o destino que lhes foi dado.

Foi numa dessas viagens que a seguir ao cruzamento para Vale de Porco, logo à primeira curva à direita o automóvel, por causas para nós desconhecidas, foi embater num murete que servia de resguardo à boca de um aqueduto, tendo sofrido queixas lombares e cervicais e com o decorrer do tempo haviam lhe haviam de vir a ser fatais, foram o princípio do fim, quando ainda tinha muito para dar á sociedade, pois tinha apenas 62 anos de idade.

O seu mérito foi devidamente reconhecido pela autarquia de Mogadouro ao ter dado o nome de “RUA DR.VERGILIO PIMENTEL DE CARVALHO” – “07/O2/1907 A 15/03/L969”.

Foi ele que de pronto acudiu a socorrer e livrar de morte certa a Maria Elisa Carreiro, a senhora Felisbina e julgo que uma criança cujo nome não me ocorre e que estavam prestes a falecer por afogamento ao terem caído `para a Fonte do Vale, (Fonte de mergulho) fonte esta já relacionada num texto do Arlindo, mas a mesma sorte não teve uma outra criança que viria a falecer.

Para atar os molhos, também teve as suas histórias anedóticas, vou lembrar apenas duas: Numa das suas propriedades perto de casa tinha uma cerejeira que dava o fruto temporão, mas era raro ser ele o primeiro a recolher as cerejas mas não desconfiava do autor dessa proeza, pelo que se bem o pensou, melhor o fez, e com a sua perícia e conhecimento médico, vai de injectar as cerejas mais perto do solo, com produto cujo efeito seria uma pequena dor de barriga e diarreia, género “caga já”.

Passados dias eis que lhe surge no consultório certo indivíduo com dores de barriga, pelo que toca de perguntar ao paciente o que tinha comido e a muito custo lá conseguiu confessar onde tinha comido as cerejas e assim descobriu o “dono das cerejas”.

Além de um raspanete moralizante, foi advertido para não voltar a praticar tais actos, mas com pena dele mandou-o embora sem pagar a consulta, depois de lhe aplicar a medicação adequada para a passagem da enfermidade.

-Outro caso, em determinada ocasião, também por altura das cerejas, certo indivíduo foi de urgência pedir socorro ao Dr.Vergilio com fortes dores abdominais e aperto no ânus que não conseguia evacuar, todo se rebolava com as dores.

Depois de recolhidas as informações do que tinha ingerido – cerejas com tal ansiedade que até os caroços foram deglutidos – pelo que eram estes a obstruir a saída das fezes.

- ”Deita-te aí nessa mesa de cócoras com o traseiro bem para cima com o cú bem aberto”, e toca a começar de usar os métodos indispensáveis à desobstrução e o paciente puxava tal mulher com dores de parto, que a dado momento, são expelidos 2 ou 3 caroços seguidos de uma “borrifadela” de fezes que atingem o médico, supondes como teria ficado …Intestino limpo, antes de mais nada, Dr.Vergilio toca de se ir lavar e desinfectar enquanto o paciente se limpava cheio de vergonha.

- ”Olha que te fique de emenda, não sejas alarve, já estás bom ? ”

- “Sim, senhor doutor, faça o favor de me desculpar e quanto lhe devo?

- “Olha, não te devia levar nada, mas pelo nojo que me fizeste apanhar, vais pagar a consulta e intervenção cirúrgica, é … (não sei quanto).

Vidas de médico.

image (Fotos gentilmente cedidas por pessoa amiga)image

Forte abraço do António José Salgado Rodrigues 

Sem comentários:

Enviar um comentário