Atendendo a um desafio que me foi colocado pelo nosso ex-regedor Arlindo, vou dar continuidade a mais uns capítulos do texto já publicado SE BEM ME LEMBRO, com a publicação deste texto:
- SE BEM ME LEMBRO, também em Castelo Branco era costume a rapaziada fazerem as suas “rondas”, que consistiam em cortejo nocturno, percorrerem as ruas da aldeia e cantarem quadras soltas para expressar o seu sentimento amoroso pelas suas moças pretendidas.
Depois de breve reunião e afinação das violas dos tocadores Cândido Pombo e seu filho e meu amigo Dário Pombo, Serafim Rito, António Salgueiro, Armando Emílio Neto, Francisco Urze, ora uns ora outros, na tasca do Cândido, dava-se início à “ronda”, com as vozes devidamente afinadas, quadras essas umas mais amorosas, outras mais brejeiras, como vamos atentar: -
Ó LUAR DA MEIA – NOITE,
ALUMIA CÁ PRA BAIXO.
EU PERDI O MEU AMOR,
ÀS ESCURAS NÃO O ACHO.
SUBI AO CÉU E SENTEI-ME,
DUMA NUVEM FIZ ENCOSTO.
DEI UM BEIJO NUMA ESTRELA,
JULGANDO QUE ERA O TEU ROSTO.
OLIVEIRA PEQUENINA
QUE AZEITONA HÁS-DE DAR,
COMO EU POBRE E SEM DINHEIRO
QUE AMORES HEI- DE ARRANJAR.
ANDAS-TE A GABAR QUE ÉS BOA,
MAS NÃO ACHAS QUEM TE QUEIRA.
ÉS APALPADA POR TODOS,
COMO O FIGO NA FIGUEIRA.
RUA ABAIXO, RUA ACIMA,
TODA A GENTE ME QUER BEM.
SÓ O DA CAIXA DO CORREIO
NÃO SEI QUE RAIVA ME TEM.
DA MINHA JANELA À TUA,
É O SALTO DE UMA COBRA.
AINDA HEI-DE CHAMAR,
À TUA MÃE MINHA SOGRA.
ONTEM À NOITE À MEIA-NOITE,
NEM MEIA-NOITE SERIA.
HOUVI CANTAR O MEU GALO
NO TEU POLEIRO, M
MARIA QUE LINDO NOME!
QUEM TO PÔS, QUEM TO PORIA.
BAPTIZOU-TE A MADRUGADA
FOI MADRINHA A LUZ DO DIA.
Terminada a “ronda”, no local onde começara, bebiam-se mais uns copos e faziam-se os mais variados comentários à cantoria: - É pá, onde aprendes-te as da Maria? Olha que essa foi mesmo a preceito; olha que foste duro com aquela! É para que não se queira fazer mais que as outras e por aí adiante…. Rapazes, a noite já vai longa e amanhã é dia de trabalho e lá iam para a cama dormir, quiçá, sonhar com as suas amadas
Já que estamos em tempo de poesia, prometo que em breve irei publicar dois poemas de minha autoria quando ainda era menino e moço.
Forte abraço do António José Salgado Rodrigues
..Mas românticos!.. quanta inspiração!. Achei lindos os versos e senti inveja da musa inspiradora. Pena eu ter saído tão cedo da aldeia e não ter passado por essas experiências que deveriam ser emocionantes.
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