Revisitando Castelo Branco

09/08/2011

“RAPAZES VAMOS À RONDA…

Autor: António José Salgado Rodrigues

                Atendendo a um desafio que me foi colocado pelo nosso ex-regedor Arlindo, vou dar continuidade a mais uns capítulos do texto já publicado SE BEM ME LEMBRO, com a publicação deste texto:

                - SE BEM ME LEMBRO, também em Castelo Branco era costume a rapaziada fazerem as suas “rondas”, que consistiam em cortejo nocturno, percorrerem as ruas da aldeia e cantarem quadras soltas para expressar o seu sentimento amoroso pelas suas moças pretendidas.

                Depois de breve reunião e afinação das violas dos tocadores Cândido Pombo e seu filho e meu amigo Dário Pombo, Serafim Rito, António Salgueiro, Armando Emílio Neto, Francisco Urze, ora uns ora outros, na tasca do Cândido, dava-se início à “ronda”, com as vozes devidamente afinadas, quadras essas umas mais amorosas, outras mais brejeiras, como vamos atentar: -

 

                                               Ó LUAR DA MEIA – NOITE,

                                               ALUMIA CÁ PRA BAIXO.

                                               EU PERDI O MEU AMOR,

                                               ÀS ESCURAS NÃO O ACHO.

 

                SUBI AO CÉU E SENTEI-ME,

                DUMA NUVEM FIZ ENCOSTO.

                DEI UM BEIJO NUMA ESTRELA,

                JULGANDO QUE ERA O TEU ROSTO.

 

       OLIVEIRA PEQUENINA

       QUE AZEITONA HÁS-DE DAR,

       COMO EU POBRE E SEM DINHEIRO

       QUE AMORES HEI- DE ARRANJAR.

 

                ANDAS-TE A GABAR QUE ÉS BOA,

                MAS NÃO ACHAS QUEM TE QUEIRA.

                ÉS APALPADA POR TODOS,

                COMO O FIGO NA FIGUEIRA.

 

                        RUA ABAIXO, RUA ACIMA,

                        TODA A GENTE ME QUER BEM.

                        SÓ O DA CAIXA DO CORREIO

                        NÃO SEI QUE RAIVA ME TEM.

 

                DA MINHA JANELA À TUA,

                É O SALTO DE UMA COBRA.

                AINDA HEI-DE CHAMAR,

                À TUA MÃE MINHA SOGRA.

 

       ONTEM À NOITE À MEIA-NOITE,

       NEM MEIA-NOITE SERIA.

       HOUVI CANTAR O MEU GALO

       NO TEU POLEIRO, M

 

                MARIA QUE LINDO NOME!

                QUEM TO PÔS, QUEM TO PORIA.

                BAPTIZOU-TE A MADRUGADA

                FOI MADRINHA A LUZ DO DIA.

 

                Terminada a “ronda”, no local onde começara, bebiam-se mais uns copos e faziam-se os mais variados comentários à cantoria: - É pá, onde aprendes-te as da Maria? Olha que essa foi mesmo a preceito; olha que foste duro com aquela! É para que não se queira fazer mais que as outras e por aí adiante…. Rapazes, a noite já vai longa e amanhã é dia de trabalho e lá iam para a cama dormir, quiçá, sonhar com as suas amadas

                Já que estamos em tempo de poesia, prometo que em breve irei publicar dois poemas de minha autoria quando ainda era menino e moço.

                 Forte abraço do António José Salgado Rodrigues

1 comentário:

  1. ..Mas românticos!.. quanta inspiração!. Achei lindos os versos e senti inveja da musa inspiradora. Pena eu ter saído tão cedo da aldeia e não ter passado por essas experiências que deveriam ser emocionantes.

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