Autor: Aida Freitas Ferreira
Em Castelo Branco não se diz nem se celebra o Carnaval mas sim o Entrudo.
Há semanas que as festividades têm lugar. Entre “torreadas” de discurso jocoso e troça pública, que vão pela noite dentro, cacadas boas ou más que entram pelas portas menos acauteladas ou ainda os Entrudos que nos visitam nas noites frias e nos aquecem o espírito e enchem a casa de risos. Neste caso a tradição é o que sempre foi!
Dos doces ao pó de arroz, que se mistura com a farinha, nas perseguições feitas ás raparigas, que em muitos casos se refugiavam em casa.
Destas perseguições deixo-vos excertos de textos que encontrei na pasta da escola do meu irmão, que acho que tão bem retrata a “doideira” que inebriava estes dias.
“ O Entrudo é um dia muito alegre.
Vestem-se os Entrudos.
Os rapazes enfarinham as raparigas com pó de arroz e à noite fazem-se os casamentos.
Os Entrudos são muito engraçados mas metem medo às pessoas.
No Entrudo comem-se os pés e as orelhas de porco e, também se comem as rusquilhas e os milhos.
Eu gosto muito do Entrudo!
Fevereiro de 1979”
“No Carnaval, eu e o Artur, logo de manhã, fomos enfarinhar a irmã do Paulo. O Artur foi para cima do terraço da casa do Paulo e eu pus-me atrás da porta. Quando ela abriu a porta enfarinhei-a.
Depois, nós os três, fomos correr as ruas ver se víamos mais alguma rapariga. Não vimos nenhuma, mas durante a tarde enfarinhamos muitas.
Quando íamos enfarinhar a Dulce a avó dela veio com uma lata de água e despejou-a em cima do Paulo e eu e o Fernando fomos buscar uma lata de água e despejámo-la em cima dela.
O Carnaval é um dia muito divertido.
Fevereiro de 1980”
Dos doces deixo-vos a receita das rosquilhas!
Esta época estende-se até à quarta-feira de cinzas, contudo os dias mais vividos são o Domingo Gordo e a terça-feira de Carnaval.
O domingo é “Gordo” porque as refeições são à base de carne de porco, conforme a bela descrição da “Expressão Escrita” do meu irmão e dão início do período de abstinência da Quaresma.
A terça-feira de Carnaval é marcada pelo enfarinhar e pela troca de pó de arroz, pelos homens disfarçados de mulher, pelas diabruras de alguns mascarados que aproveitam este dia para dar largas à sua imaginação e à sua personalidade.
Para enfarinhar vale tudo. A aldeia acaba mesmo por entrar numa correria. Subir a varandas, trepar aos telhados para enfarinhar as raparigas mais apetecidas e que se recusam a participar desta tradição.
Ao cair da noite há os casamentos, a troca de rosquilhas e o baile.
Os casamentos são feitos de embude na mão, percorrendo as casas das moças casadoiras. O solteiro mais velho da aldeia diz” Oh, Sr. “fulano”! A sua filha já se quer casar. Quem lhe havemos de dar para a contentar? Há-se ser o “…” que é bom rapaz e é capaz de a sustentar.”
Se a rapariga aceitar o rapaz que lhe é proposto abre-lhe a porta, serve-lhe as rosquilhas e depois combinam hora para a acompanhar ao baile.
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