Autor: António José Salgado Rodrigues
SE BEM ME LEMBRO, também no meu tempo via festejar o Carnaval e que muito me custava não poder participar. Lembro-me perfeitamente dos “casamentos aú” e como já li dois detalhes, vai também o meu que lembro com saudade.
Quando, lá ao longe, se ouvia o entoar de de atorreamento carnavalesco que ecoava através de um bom “embude”, era prenúncio que os casamenteiros estavam próximos e renascia em nós a esperança de ver coma seria o casamento. Mais próximo, já na rua da Vale, ouve-se então: “Ó senhor Nascimento aú, a sua filha Ana já se quer casar? Depois de breve silêncio, vem a resposta, outras vozes, sim. .. E quem lhe havemos de dar para a sustentar..? Nova pausa e dizem; há de ser o Antoninho do senhor professor que é capaz de a governar..e de seguida e em coro ,é bom rapaz, é bom rapaz..
Lembro que uma das vezes e com a devida permissão, entrei e fui a casa da noiva “pedir a mão”,que com toda a gentileza fui recebido e se comeram uns doces e beberam-se uns cálices de licor.
Lembro também algumas passagens de festejos carnavalescos com vários mascarados de diversos disfarces que acompanhavam em cortejo e com burros à mistura, também eles engalanados a preceito e não podia deixar de recordar o cortejo que, além de variados caretos e outros figurantes do género, o impagável Mário Lapo que, cavalgando o seu pachorrento macho, “o mosquito”, com uns dois pares de albardas donde pendia de cada lado, servindo de estribo, uma caldeira velha e o nosso amigo Mário todo sumptuoso, tinha como roupagem apenas a cobri-lo, uma colcha de renda que deixava transparecer todo o corpo e seus contornos…, o que não agradou a alguns mas alegrou a muitos mais com fortes gargalhadas. Tal era a mansidão do “ mosquito “, que mesmo com as bombas de carnaval a estourarem-lhe debaixo das patas faziam com que ele se espantasse. Nesses cortejos seguiam, como já disse, seguiam vários mascarados que, disfarçadamente, levavam nas algibeiras e pequenos saquitos, cinza bem peneirada para atirar pela multidão que assistia à sua passagem, mas as meninas mais prendadas eram presenteadas com farinha ou pó de arroz ou até mesmo “enforretadas “
Quando as meninas vistosas se encontravam às janelas e varandas para evitar aqueles mimos, lá se atiravam uns punhados de farinha e quando algum com mais destreza tentava invadir os seus aposentos eram atingidos com uns copos de água. Muitas vezes assaltava-se a casa por portas travessas, pois uma ou outra e até a dona de casa, já combinada com os assaltantes, lhes permitiam chegar às vítimas, que então eram bem polvilhadas com farinha, pó de arroz e acariciadas com as mãos bem ferreteadas com cortiça queimada, apesar de todos os esquivos.
Outras mais afoitas seguiam no cortejo e conviviam alegremente com os rapazes e travavam luta para ver qual o que ficava mais enferretado e branqueado de farinha, era uma camaradagem sadia, naquele tempo ainda não se tinham serpentinas de maneira que os foliões se valiam dos artifícios usados naquela época.
Mais lembranças tinha para contar, algumas bem tristes, mas não as comento, essas estão bem guardadas no coração.
Já vais que longo este arrazoado, por isso aqui deixo um obrigado a quem tiver a pachorra de o ler. Deixo um agradecimento muito especial para os amigos Isaías Cordeiro e Luis Pardal que se vão encarregar de substantificar o texto “ SE BEM ME LEMBRO “.
Um afectuoso abraço, para os amigos, continua a ser o Antoninho.
António José Salgado Rodrigues
Sem comentários:
Enviar um comentário