Revisitando Castelo Branco

17/04/2010

OS LAVADOUROS DA NOSSA RIBEIRA.

Autor: Isaias Cordeiro
Cortinha do senhor Virgílio Neto encostada a parte de cima da ponte nova. Na foto: (da esquerda para a direita) . A criança é a Carmo filha da senhora Carminda Freitas a seguir a senhora Isaura Ribeiro. Desconhecemos quem são os restantes.No dia da matança do porco e após o almoço as mulheres quiseram ir á ribeira lavar as tripas. Atendido o pedido e por não ser possível ir mais próximo fomos até a curva do Baboedo por cima na nora.
Aspecto da ribeira no fim do verão.A ribeira em nada se parecia com as fotos que ali tirara no dia 25 de Setembro de 2009.
De um pequeno charco nessa data até a um caudal que impressionava lá se arranjou um lavadouro, mal engendrado é certo mas o quanto baste para de imediato me vir á ideia o que seria engraçado uma reconstituição desta tarefa no seu todo feminina e quão bela que era!
Lancei então um desafio às duas mulheres presentes e como se compreende a resposta foi um não já que água estava muito gelada. Deixaram para mais tarde esse assunto mas prometendo dele fazer parte num futuro muito próximo em tempo mais moderado e de preferência lá mais para o fim da primavera.
Ponte velha vendo muita água passar Sobre esse evento não deixei de conversar com algumas pessoas entre as quais aquela que sempre se disponibilizou e a quem muito agradeço e envio os meus cumprimentos.
Num destes dias junto á igreja numa amena cavaqueira com um amigo e meu irmão fui surpreendido por essa pessoa, trazia na mão um envelope e dizia com alegria “olhe Isaías, tenho aqui uma coisa que vai gostar, é sobre aquilo que queria reconstituir! Era a senhora Carminda Freitas também ela dedicada a esta causa Albicastrense! Ama esta terra, adora falar da sua experiência dos usos e costumes das tradições, etc.
A senhora Carminda a caminho da ribeira com cesto á cabeça ( Alheia a tudo a vaquinha leiteira faz pela vida) 
A senhora Carminda a caminho da ribeira com cesto á cabeça ( Alheia a tudo a vaquinha leiteira faz pela vida)No envelope duas fotografias datadas de 24 de Abril de 1972 e não sendo elas tão antigas quanto isso dão-nos bem a ideia das alterações no que concerne ao assunto em questão. Estas fotos depressa avivaram a minha mente transportando-me ao passado e quase dispenso a reconstituição. Nelas me revejo também !
Por ali já a minha mãe lavara desde muitos anos atrás . Da Fontaínha ao Canilhão, entre a Ponte Velha e a Ponte Nova e no local que a fotografia mostra, agora bem diferente. Não tem a lameira nem outro local para corar a roupa nem tão pouco é possível colocar os lavadouros. Já ninguém os coloca nem os marca com sendo seus e não há lugar para colocar os cestos de vimes. Não são precisos é verdade, porque aqui e ali os tanques de cimento ás nossas portas davam sinal que se pensava de uma era moderna mas também depressa ultrapassados pelas novas máquinas de lavar que o homem foi inventando.
Os pidornos e carrasqueiras deixaram-se vencer, não são mais necessários para secar roupa, os lavadouros da ribeira, a lameira da córa as cantorias das lavadeiras desapareceram, os pidornos e os carrascos já há muito foram abatidos.
Lembro bem a ribeira sobretudo entre as pontes, os lavadouros de um lado e do outro espalhados e alguns quase encostados aos suportes da ponte velha e até dos pequenos peixes que de quando em vez e depois da espuma do sabão desaparecer nos visitavam como se de brincadeira se tratasse ou um desafio há nossa tentação.
O olmo enorme quase junto há ponte velha, habitação própria de pardais e outros pássaros que nele criavam e viviam todos coabitando num local fresco e de vida sadia.
Não faltava junto ao tronco um pouco palha de centeio onde descansavam os que por ali passavam. Eu próprio ali estive muitas vezes, anos a fio vendo a minha mãe a lavar roupa de muitas casas abastadas da nossa freguesia. Ali partilhamos o pão e o queijo da merenda que as patroas punham no cesto de vimes e quantas vezes ouvi a minha avó Etelvina chamar pela minha mãe dizendo “Oh Idalina vem buscar esta bola para os garotos”.Fazia-o um pouco á revelia do meu avô porque dele tinha medo .Seguia o seu caminho tocando o burro carregado com uma fornada de pão para venda em Vilar de Rei. A verdade é que também eu tinha medo já que por vezes cheguei a ver a minha avó entregar a bola e o meu avô na ponte nova montado no burro, presenciando esta operação. Nada dizia, seguia tranquilamente a caminho do Baboêdo.
Foto tirada por cima da ponte local dos lavadouros. Muitas crianças se juntavam por ali, brincavam, espreitavam o S. João pelas grades e os mais velhos e devotos obsequiavam-no com flores silvestres. Tempos difíceis que esta alegria faziam esquecer. Manter vivas todas estas lembranças é estarmos bem com todos e com nós próprios transpondo-nos ao passado!
Um abraço Albicastrense
Isaias Cordeiro
Fotos gentilmente cedidas por Carminda Freitas.

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