Revisitando Castelo Branco

27/04/2010

UM AÇORIANO ALBICASTRENSE parte II

Autor: Luís Fontoura
Lagoa das Sete Cidades
O PRIMEIRO ENCONTRO
S. Miguel, onde nasci, é a maior ilha do Arquipélago dos Açores, composto por 9 ilhas de origem vulcânica, cada uma com características muito próprias.
Quando descobertas (1427?) por Gonçalo Velho Cabral ou Diogo de Silves, não se sabe bem, ambos marinheiros ao serviço do Infante Dom Henrique, eram completamente desertas, mais tarde por este mandadas povoar, inicialmente com animais e em 1439 por emigrantes vindos do Algarve, Alto Alentejo e Estremadura e também por Flamengos e Bretões provenientes do norte da Europa. Esta diversidade de origens manifesta-se ainda hoje na caracterização dos seus habitantes e bem assim nos seus usos e costumes. Daí também cada ilha ter uma pronúncia própria, sendo a mais conhecida a de S. Miguel, com muitas influencias algarvias e alentejanas mas sobretudo dos Bretões.
Fumarolas A sua origem vulcânica revela-se ainda hoje através de várias actividades bem visíveis nas Furnas com as suas fumarolas e nascentes de água quente.
caldeira em actividade
As ilhas são conhecidas pelas suas tranquilizantes e verdes paisagens sendo S. Miguel com suas lagoas encantadas um verdadeiro ex-líbris da região. O mar, com águas transparentes e tranquilas, rico em espécies, permite a prática de várias actividades náuticas. A sua gastronomia, confeccionada com os saborosos produtos da terra e do mar cria deliciosos pratos originais, tornando-a atractiva e muito apreciada. Tudo isto e o seu clima ameno levam a que o arquipélago seja anualmente visitado por milhares de turistas provenientes de todo o Mundo.
Lagoa do FogoAqui cresci e estudei até ao dia em que fui chamado para o serviço militar. Estávamos em Janeiro de 1969.
Nesse dia, senti uma profunda tristeza por deixar a ilha que me viu nascer e tudo o que ela para mim representava. Deixava pela primeira vez pais, irmãos, avós, amigos e todas as minhas referências.
Mas ao mesmo tempo uma curiosidade muito grande por estar finalmente a caminho da mítica Lisboa, que conhecia somente pelo que lia nos poucos jornais que chegavam à ilha com dias de atraso e da rádio que dificilmente se ouvia.
Chegado a Lisboa, uma longa viagem de comboio levou-me a Tavira para aí iniciar o curso de sargentos milicianos. Não foi difícil perceber que uma nova etapa na minha vida estava a começar, tempos duros viriam.
Pouco tempo depois recebia notícias do meu tio Guilherme. Convidava-me a passar uns dias com ele, era a primeira oportunidade para nos conhecermos. No Carnaval venho a Lisboa, num encontro que se fez na Praça das Cebolas, onde me foram esperar. Para o reconhecer, ficou combinado que meu tio levava um jornal debaixo do braço. Assim foi. Lá estavam ele e a tia Salete à minha espera. Foi um momento que ainda hoje recordo e guardo. Depois foi a vez de conhecer meus primos, Otília, Valdemira e Luís.
E levaram-me até Odivelas onde vivia meu tio António e suas filhas Matilde, Lucília e Fernanda.
Era o primeiro contacto com a família de cá, a família de Trás-os-Montes, a família de Castelo Branco de Mogadouro, a família da qual sempre ouvira falar toda a minha infância e que sempre desejei conhecer.
Fui recebido de braços abertos e acarinhado por todos. Rapidamente fizeram-me sentir que era da família. Rapidamente senti que estava em família.
Tão bem me sentia com todos que sempre que a tropa me permitia e sempre que possível lá vinha passar um fim-de-semana, retemperar forças, ora a casa de um ora a casa do outro, sempre acolhido com inexcedível carinho.
Nasceu assim uma bonita e profunda amizade com todos, que se mantém até hoje. Aos que entretanto partiram, a minha gratidão sem limites pelo muito que me deram. Recordo-os com profunda e comovida saudade.
Chegou a minha vez de participar nas guerras em África e em Janeiro de 1970 fui até Moçambique onde ao chegar a Lourenço Marques, hoje Maputo, esperavam-me meus primos Luís Carreiro e seu irmão Virgílio, filhos da tia Arminda e Tio Celestino.
Durante a minha permanência em África fui mantendo contacto com todos os que já conhecia e esse contacto fez crescer em mim um desejo ainda maior de visitar a aldeia.
Acabada a comissão de serviço regresso às minhas origens atlânticas, mas quis o destino que o encontro com a aldeia estivesse para muito breve.
Brevemente iria finalmente conhecer Castelo Branco de Mogadouro
Um abraço albicastrense temperado com um pouco do sal açoriano.
Luís Fontoura

1 comentário:

  1. Está muito bom o seu artigo.
    Quero aproveitar para comentar esta sua iniciativa de nos contar sobre o lugar onde mora e fazer dela uma sugestão para cada um dos conterrâneos falar da região onde reside. Esta visita guiada será no mínimo interessante e cultural. Vamos fazer alargar as fronteiras de Castelo Branco pelos outros continentes, ou por outras regiões de Portugal como é o seu caso. Estas narrativas vão nos permitir conhecer até onde chegou nossa aldeia. Acredito que no lar de cada um de nós há um pedaço muito grande de Castelo Branco.
    Fica o convite. Que venham os artigos.
    Da minha parte já estou com a mão no teclado a pensar no que falar do Brasil e de Florianópolis.

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