Revisitando Castelo Branco

05/04/2010

Água benta nas casas e festa nas almas.

Um tapete de flores torna as portas da entrada das casas mais convidativas para a visita. Como que a dizer, entrem, venham cá também, cantar aleluias!Segunda de Páscoa,  dia de tirar o folar. As ruas enfeitadas com as flores das giestas, urzes ou rosmaninho deixam a aldeia mais perfumada e bonita de se ver e cheirar tambem.
Um tapete de flores torna as portas da entrada das casas mais convidativas para a visita. Como que a dizer, entrem, venham cá também, cantar aleluias! E as pessoas vão. Vão em bandos, seguindo o padre e levam alegria de casa em casa. Um coral de vozes risos e abraços. É contagiante a alegria. Água benta nas casas e vinho nas almas, uma mistura muito interessante e muito animada que sempre proporciona bons momentos.
Desde a meia noite de domingo que o som do repique dos sinos embala os ouvidos. De quando em quando faz-se ouvir o silencio, mas em poucos minutos as batidas retornam. Neste vai e vem de toques e silencio, o ouvido começa a estranhar quando os sinos ficam calados por instantes, felizmente os rapazes intimidados pela parada voltam com força total. É dia de Páscoa e há que aproveitar pois só no na páscoa do ano que vem é que dá para repetir a folga.
O domingo de páscoa é um domingo especial. As casas estão cheias com os filhos, filhas e netos que vieram para o folar. Dia de rever os amigos, de tomar umas cervejas e uns cafés na praça. De tarde o baile animava os rapazes e raparigas solteiras e sempre sobrava um tempinho para subir até ao tanque das eiras para desviar os olhos das beatas e quem sabe dar uns beijos a escapulida nas namoradas.
Pela segunda de manhã. Dia de tirar o folar. A aldeia ainda está enfeitada com o tapete que as senhoras devotas fizeram para a passagem da procissão de Sr. Manuel Cordeirodomingo de páscoa. Esta procissão tradicionalmente sai da igreja vai até ao Vale e volta para a praça de onde continua pela rua da Santa Cruz até a esquina da Rua de Santo Antonio. Aqui ao chegar na casa da Sra. Adelaide vira em direção da estrada para depois descer por ela e passar na frente da casa do povo e da casa grande até retornar à Igreja. A procissão é o momento mais esperado do dia um ato social que é sempre aproveitado para matar as saudades e colocar os assuntos em dia. Hora de rever os compadres, amigos e olhar as raparigas que desfilam com as roupas de festa e novos modelos de penteado.
Na segunda feira logo cedo começa a função. Vem o padre acompanhado pelos ajudantes vestidos com as opas. Dois a segurar as lanternas e um a cruz. Ao lado vem o ajudante da caldeirinha de água benta e o ecônomo para recolher os envelopes do dizimo. Tempos idos dava trabalho tirar o fular junto com o padre vinha um carro de bois nesses tempos o dizimo era pago em grãos e outros produtos. Agora é Fácil o envelope pesa pouco e ocupa pouco espaço.
Na esteira do padre os amigos e familiares vão seguindo o trajeto a entrar de casa em casa. Diria que esta benção dos que entram depois em certos casos chega a ser mais esperada até que a primeira. São muitas as casas e os lares vazios o ano inteiro que só nesta data é que se enchem de gente e de alegria.
A cada casa que entram, beijam a cruz de Cristo ressuscitado junto com os amigos e familiares. Devoção e solidariedade.
Assim entre aleluias. abraços, copos de vinho, fatias de folar, pão de ló, bolo preto,  e gargalhadas o ato de tirar o folar cumpre sua função a cada ano.
E aleluia, e aleluia, e aleluia, para todos os conterrâneos nesta segunda feira de folar.

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