Revisitando Castelo Branco

16/05/2010

Pesca da tainha em Florianopolis

Autor: Luis Pardal
Como prometido hoje vou falar de algo deste lado de cá do oceano.
pesca da tainha
Estamos na época da pesca da tainha. Começou ontem dia 15 e vai até ao meio do mês de julho.IMG_4805Para mim é um dos espetáculos mais impressionantes que se podem ver nas praias do sul do Brasil. O cerco e pesca das tainhas. Uma pesca feita em grupo e que normalmente envolve toda a comunidade de pescadores de uma região ou praia.IMG_5140Os pescadores destas praias conhecem de longe o cardume que se aproxima pelo simples olhar da diferença e opacidade que se forma na água, um leve marulhar na superfície que para os leigos como eu passa desapercebido, a olhar sem nada ver.  IMG_4841IMG_5159IMG_5155 IMG_5157IMG_5165De vez em quando, uma ou duas tainhas saltam com o dorso prateado a brilhar ao sol. A direção do salto que é sempre para frente ou para rumos diferentes. A direção e a forma do salto diz aos pescadores se a tainha que saltou está desgarrada ou em manta.
IMG_5222 Quase sempre há um vigia na praia, um velho pescador que conhece muito bem não só os hábitos dos peixes como os “movimentos” do mar correntes e marés da praia onde estão as redes. Nesta época o vigia passa o dia todo no alto de uma pedra, a vigiar o mar. Então quando avistada a manta, toca um apito para chamar os demais pescadores a botarem a rede.  
Correm em equipa a atender ao chamado. As canoas e as redes ficam prontas na areia, sempre á espera de serem roladas ao mar. Ao sinal entram mar a dentro para fazer o cerco e no seu encalço, sai uma segunda canoa com redes para “aparar”. O espia não entra no barco, ele fica sempre na praia e é ele que controla e orienta os movimentos dos que estão no barco. Dele parte sempre a ordem e orientação de lançar as redes tudo com um simples movimento de braços.  IMG_3424IMG_3468IMG_3469IMG_3465O toque do apito tem ciência e precisão. Tem que acontecer de acordo com a distancia e movimento do cardume ou seja tem que se dar quando o peixe está a uma distância suficiente para que haja tempo para fazer o ritual completo da pesca: empurrar a canoa para o mar, embarque da equipa, e arremesso da corda que segura as redes. Tudo tem que acontecer quase que em silencio ou com um mínimo de barulho.
Pescadores sabidos estes de Santa Catarina que encontraram maneiras espertas de vencer um peixe arisco e dado a fugas rápidas mar a dentro para longe do alcance das canoas e redes. Assim nas redes mais antigas destinadas á pesca das tainhas, na tralha de peso para manter a rede junto ao fundo e não deixar fugir o peixe, em vez do chumbo, usam uns pequeninos sacos de lona cheios de areia grossa, que evitam que o chumbo faça o barulho característico ao arrastar nos bordos da canoa ou barco e não espanta o peixe que é muito arisco, tudo tem que ser feito com o máximo de rapidez. Depois de formado o cerco não está garantida a pesca a tainha tenta saltar para fora do obstáculo, tem pescadores que para deixar o cardume desorientado batem com os remos nos bordos da canoa e mesmo dentro d’água.
Mas não é fácil escapar, os pescadores aprenderam ao longo dos anos maneiras de evitar que o peixe fuja depois de estar cercado pelas redes.
Quero falar um pouco das gentes que fazem a pesca da tainha. Tive oportunidade de morar perto desta praia onde um grupo faz todos os anos o cerco e a pesca e onde tirei todas estas fotos.
Os vigias: Os vigias são os que ficam a olhar o mar. Desde manha cedo ao abrir o sol lá estão no seu local de vigia. A posto ficam o dia à espera, a observar o mar para ver se o cardume vem para orientar o lançamento das redes.
IMG_3382IMG_3401IMG_3402Os pescadores: Na praia organizados por funções ficam também os pescadores, os remeiros, o patrão da canoa que faz o cerco. Outras funções são a do chumbereiro, que bota o peso na rede. Uma hierarquia interessante que determina o quinhão que cada um terá na hora de repartir o peixe. Ninguém chia a tainha é dividida por partes já estabelecidas, a parte de “tainha da remagem” para os que remam, a parte da “tainha da vista” para o vigia, a parte da “tainha do cabo” para os que puxam a rede na areia. IMG_3475IMG_3474IMG_3490É emocionante assistir a puxada das redes. Quando as tainhas começam a pular e a rede pesada tende a voltar para o mar os pescadores gritam de felicidade e alegria em um entusiástico coro de vozes.
Todos têm direito, quanto mais peixe for pego maior será o quinhão de cada um deles. Quem ajuda a puxar a rede também ganha tainha, mesmo que seja apenas um turista encantado com a tradição popular.

Sem comentários:

Enviar um comentário